Seis notas sobre as eleições gregas

Internacional

Estou como o André: não sou grego, não conheço de forma profunda a realidade grega e, na melhor das hipóteses, serei um observador mais ou menos atento, sem pretensões a autoridade na matéria.

Dito isto gostaria de deixar seis breves notas sobre as eleições gregas de ontem: a primeira para lamentar que os gregos residentes em Portugal não tenham a possibilidade de exprimir a sua vontade eleitoral sem ter de se deslocar a território espanhol; a segunda para referir algo que tem passado ao lado de muitas análises de gente que não hesita em apontar “sectarismo” aos outros: o KKE – o heróico Partido Comunista da Grécia – ganhou mais de 60 mil votos relativamente a 2012, aumentou a sua percentagem e o reforçou o seu grupo parlamentar (na verdade foi o único partido com representação parlamentar a conseguir reforçar-se, descontada a coligação Syriza; o tal ANEL – de direita, nacionalista, perdeu 129 mil votos, coisa que pelos vistos não o impediu de ser considerado parceiro viável no governo da coligação vencedora); a terceira para reforçar a ideia, claramente expressa na apreciação do KKE face aos resultados eleitorais, relativa ao peso significativo que o partido nazi Aurora Dourada mantém no panorama eleitoral grego (não obstenta a perda de mais de 35 mil votos), facto que merece a reflexão, a acção e o combate das forças anti-fascistas (lembrar que são o KKE e a frente laboral PAME os principais alvos da actividade criminosa-violenta dos nazi-fascistas gregos); a quarta para notar a elevada abstenção verificada (cerca de 35%), que vem refrear o discurso muito em voga da “falência” dos “partidos tradicionais” como motivo fundamental da vitória do Syriza; a quinta para reiterar a minha convicção de que nem a UE é reformável, nem existe uma solução de “esquerda” dentro de um bloco político-económico-militar que capturou a definição de “Europa” e insiste na ideia de que só é “europeu” quem verga aos interesses nada obscuros que determinam o fundamental de um projecto federal diametralmente oposto aos interesses aos trabalhadores; a sexta e última para referir que não me causa estranheza alguma – nem lamento – que nem a coligação Syriza deseje o KKE como parceiro de governo, nem o KKE esteja disposto a assumir renúncia oportunista aos seus princípios e ao seu projecto (não obstenta estar naturalmente disposto a votar favoravelmente todas as iniciativas do novo governo que sirvam os interesses dos trabalhadores e o povo grego).