A burla da burca

Fotografia Renata Giraldi

É já antiga a tradição política em Portugal de nas épocas de discussão orçamental e outras reformas virem a plenário iniciativas legislativas de pouca relevância e que entretenham a opinião pública, os romanos chamavam-lhe pão e circo e o método atualizado produz efeitos similares, pois que numa semana de tão importantes e negativos desenvolvimentos para o país e os trabalhadores o mediatismo caiu na proibição do uso da burca.

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O custo da dignidade é o ódio dos oportunistas.

O que os mói e corrói não é apenas o facto de a CDU não ter estendido a passadeira vermelha ao PS para a CML, como fizeram os outros ditos de esquerda em bloco e livre.

O que os irrita, não é sectarismo, nem ortodoxia, nem mesmo o facto de o candidato da CDU ser, de longe, o único na corrida do trabalho, honestidade e competência, deixando os concorrentes a correr em sentido contrário ao da meta.

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Rota de Fuga

João Porfírio; Observador

João Porfírio; Observador

Lia-se no outro dia que se João Ferreira fosse de outro partido ganharia facilmente a disputa autárquica em Lisboa, é preciso, no entanto, compreender que se João Ferreira fosse de outro partido não seria o João Ferreira, seria outro qualquer. É precisamente nessa premissa, que reconhece involuntariamente a capacidade e competência de João Ferreira e dos candidatos da CDU, que se encontram as razões para o clima hostil em relação às candidaturas da CDU, com o seu recorrente silenciamento e ocultação mediática (podíamos falar do silenciamento de António Filipe, já agora), por um lado, e o pavor que essas mesmas candidaturas imprimem nos seus adversários, por outro.

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De Coimbra a Pyongyang: 50 anos de Brigada Víctor Jara

Brigada, com intenção. Víctor Jara, com admiração e saudade. Assim se apresenta uma das coisas mais bonitas que este país, em boa hora, pariu. Foi em 1975, no distrito de Coimbra, que surgiu — um ano após a Revolução de Abril — esta Brigada com intenção que, naqueles tempos, navegava cancioneiros portugueses e estrangeiros, explorando a expressão popular do nosso povo, as canções revolucionárias da América Latina ou ainda da Guerra Civil Espanhola e, entre comícios do MFA, do PCP ou nas conferências da Reforma Agrária, em muitos palcos pôs o seu luminoso pézinho. Foi nos tantos cantares do povo português que, como sabemos, mais se demoraram e demoram, na esteira de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, não lhes ficando atrás em grandeza. Pelo contrário. E meio século depois, cá estamos, tentando atravessar, eito fora, para o outro lado, subir o degrau que falta

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O jogador escondido do outro lado: xadrez e dialéctica

Aceitemos o desafio de T.H. Huxley: “o tabuleiro de xadrez é o mundo, as peças são os fenómenos do universo, as regras do jogo são aquilo a que chamamos leis da natureza, o jogador do outro lado está escondido”. O florão de Huxley encerra duas verdades inexoráveis do xadrez que, fora dele, são facilmente descuráveis: não só se tornou por demais óbvio que o planeta e os seus recursos são tão finitos quanto os quadrados do tabuleiro como todas as partidas, tal como as nossas vidas, se jogadas, chegam invariavelmente ao fim. O xadrez, mesmo que por correspondência, é uma urgência implacável que nunca anda para trás. Perante a iminência do mate (morte em persa), que é a contradição de o rei precisar de mover-se mas não o poder fazer, o xadrezista sabe que tem de aproveitar cada jogada, cada tempo, cada oportunidade como tu, se soubesses que ias bater a bota, a caçoleta e o cachimbo; que ias para a terra da verdade, para o céu ou para o beleléu; para o jardim das tabuletas, para quinta dos pés juntos, para os anjinhos ou só para as malvas; isto é, se te lembrassem que ias mesmo virar o presunto e fazer a derradeira viagem sem chapéu — porra —  aí gritarias: “devolvam-me a minha vida!” e farias greve até ao teu último sopro te deixar os pulmões sob uma grande faixa onde se leria “Não venderemos as poucas horas que nos sobram a cinco euros à hora!” e antes gritarias palavras de ordem como “devolvam-me toda vida roubada!” ou “exigimos as todas vidas que podiam ter sido” e jogarias este grande jogo de xadrez.

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Para eles: mais produtividade. Para nós: mais exploração.

Como seria de esperar, o novo assalto aos direitos dos trabalhadores, pela mão do Governo PSD/CDS, que vem anunciado como “Trabalho XXI”, é um tratado de retorno ao século XIX no que toca a direitos laborais.

O embrulho é sempre o mesmo: modernidade, competitividade, produtividade. 

Pouco antes de o Governo apresentar o novo pacote do assalto, lia-se no Diário de Notícias: “A dois anos de lançar o novo modelo elétrico da VW, made in Portugal, o diretor-geral da Volkswagen Autoeuropa, Thomas Hegel Gunther, considera que a receita do país e da Europa para recuperar a competitividade perdida para o Oriente “tem de ser o aumento da produtividade”.” Vejam a habilidade com que o director-geral da Autoeuropa culpa os trabalhadores pela perda de competitividade, sendo que concretiza logo a seguir: “Em causa podem estar fatores de produção como o custo do trabalho ou o da energia.”.

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O Tempo da Indecência

Sob a máscara do conservadorismo democrático a extrema-direita política em Portugal está implementada bem para lá das fronteiras dos partidos ou organizações populistas, esticando a sua influência ideológica para as estruturas neoliberais e social-democratas. Neste cenário, um tanto ou quanto aceleracionista, o fascismo é ressurgido e institucionalizado, os seus caciques estão em roda solta e o patronato esfrega as mãos, às aranhas só o pobre, sem saber quem o maltrata.

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Ainda estamos a tempo

Foto: Nascer do Sol

O tempo político e social que vivemos não está para tibiezas, nem para meias-palavras. Não está para subtilezas partidárias, achismos inócuos, gestos anódinos. Não está para ajustes de contas, calculismos ou percepções de superfície. O quadro que está diante dos nossos olhos e o espaço onde decorrem as nossas vidas exige hoje, mais do que nunca, que não desperdicemos uma só hipótese que seja de contribuir para a saúde da nossa democracia e para inverter a situação de cedência colectiva ao pólo anti-democrático. Basta de critérios pequenos para se enfrentarem problemas grandes.

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