É inegável a força transformadora da palavra, do argumento e do diálogo. É ela o motor revolucionário da formação, do conhecimento e do progresso. Seria interessante se à semelhança da Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) para fauna e flora, tivéssemos tal ferramenta para entender o estado de conservação de palavras e, sobretudo, dos conceitos que por entre elas se alevantam, no centro do discurso e da intervenção política.
A sonegação premeditada, contínua e transversal da educação e formação política à sociedade civil, por opção de um sistema capitalista alheio nas suas acções a qualquer conceito democrático, traduz-se no surgimento de uma classe política e dirigente com níveis gritantes de analfabetismo político e ideológico, resvalando para sociedades apáticas, indiferentes e distantes dos seus legítimos centros de intervenção e decisão.
A iliteracia política surge como um instrumento eficaz da classe dominante, que em larga medida vem sustentar as ramificações do capitalismo, que impedem a sua total e definitiva implosão, como a desestabilização geopolítica e a guerra que surgem em resposta às suas inevitáveis crises económicas, as formas de descriminação sociais, étnicas, económicas e culturais que aparecem como elementos divisórios das classes trabalhadoras ou as suas diversas faces políticas fascizantes que emergem como réplica política aos movimentos orgânicos e emancipadores dos povos. Se a imutabilidade da exploração e da opressão do sistema capitalista é ponto assente, também é verdade que esta não se verifica quando olhamos à sua dinâmica de implementar os processos necessários para garantir a sua sobrevivência, seja a curto ou a longo prazo.
Não houve antes grande dificuldade em identificar os sinais do projecto político das forças reaccionárias, que sustentam e promovem o sistema actual, exemplares de altíssima qualidade de cães-de-fila e de distinta fidelidade canina, sendo que o que constitui uma novidade são precisamente os resultados práticos da sua execução. Em Portugal, por tanto quanto valha o exemplo, o processo revolucionário que iniciou as Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA, exactamente para restituir ao povo a sua capacidade de organização, formação política, mobilização e intervenção, sofreu um revés com a contra-revolução, num processo reaccionário, de mordaças e grilhões, que perdura até aos dias de hoje numa metodologia em tudo sucedânea do salazarismo. Se a revolução reconheceu no povo a força motriz indispensável à defesa da democracia, através do seu envolvimento e educação, as forças reaccionárias perceberam que a defesa dos seus interesses, a defesa dos seus lucros e a defesa dos seus senhoriais donos, é a força da ignorância. É na base ideológica que se determina o mais importante na acção de cada um: ou o povo ou o poder. É cristalino que os comunistas portugueses estiveram e estão com os interesses do seu povo e do seu país, não que possa surpreender até pelo empenho com que se opuseram, nunca capitulando, ao fascismo, mas, por outro lado, rapidamente se viu o resvalo de socialistas e social-democratas para o campo do capitalismo e dos seus interesses, num acto de clara traição aos intuitos e preceitos da revolução. Esse papel de sequiosos capatazes têm-no vindo a cumprir exemplarmente, e afastando-nos dos seus posicionamentos políticos nas questões laborais, sociais e económicas, também eles muito relevantes das suas facetas neoliberais, e voltando ao tema, sempre se colocaram do lado contrário quando toca a prover as populações do conhecimento e instrumentos democráticos e políticos. Veja-se por exemplo a constante recusa de algo tão primário como o ensino da Constituição da República Portuguesa nas escolas portuguesas, ou o claro enviesamento e sonegação de análise concreta e ideológica em temas como a Revolução dos Cravos e outros processos análogos do mundo e do país.
Tudo isto não é, infelizmente, uma exclusividade lusitana, antes pelo contrário tratando-se de uma importação mal-afamada. A Guerra Fria aprofundou a propaganda capitalista como elemento indispensável à sua manutenção, que deste lado a cada cidadão um automóvel e uma habitação com piscina e do outro pobreza e um inferno a cada trabalhador, numa campanha que jamais encontrou um término. Entenda-se da infindável característica do dito, desde a determinação do desembarque da Normandia como a batalha crucial na segunda grande guerra e não a de Moscovo ou Estalinegrado, ou a contemporânea infame acepção de equiparar o comunismo ao nazismo; e é seguro que o caminho continuará, afinal em nome da sua própria subsistência tudo tem valido e tudo valerá para dar combate ao único movimento mundial, o comunista, que afronta o seu domínio global. A formação política dos povos ocidentais afunilou-se em tal medida que a análise eurocêntrica encontra o pináculo da inteligência num breve “comunismo mau, capitalismo bom”, secundarizando qualquer processo analítico ou de raciocínio, ou a importância da observação histórica e da sua contextualização para o entendimento dos dias de hoje, enfim, renegando a realidade e o que ela dita. Essa inusitada verdade de quanto menos melhor, inevitavelmente tomou conta de forma transversal de todos os sectores da sociedade, estruturas partidárias incluídas. A ideologia, pasme-se, tornou-se elemento acessório na actividade política, e a classe dirigente capitalista aqui ou noutro sítio qualquer, despreza as origens do socialismo democrático ou da social-democracia, enquanto conceitos provenientes do espectro político à esquerda e da sua primordial intenção de rumar ao socialismo, inviabilizando qualquer argumentação política séria e honesta. O desconhecimento é o tónico que pauta a acção de todas as estruturas de um estado ocidental como fiéis serventes do seu modelo capitalista, e aqui não há como negar do reconhecimento devido à reacção pela implementação da ignorância e do seu respectivo sucesso em seu favor.
As actuais classes políticas e dirigentes ocidentais são não só desprovidas de formação ideológica que permite um tragicómico contorcionismo político e uma amorfa postura convenientemente adaptada ao discurso imperial e belicista, como acompanhando o processo de estupidificação generalizada se encontram apatetadas na sua forma e conteúdo. O espectáculo e a teatralização substituíram a intervenção e a ideologia, e o ridículo e o caricato são agora características desejáveis para a liderança política e partidária. O entretenimento serve e calça à medida justa dos interesses do capital para continuar a sua ingerência mundo fora sem grande atenção ou consequência, seguindo os trilhos da guerra e do empobrecimento dos povos da terra. É esse mesmo capital que pouco atenta às ténues dissemelhanças entre um estado fascista, corporativista, conservador ou liberal, desde que sempre entestado pelas suas subservientes marionetas que tomem conta de todas as estruturas e posições de poder no estados ocidentais e que por ele arreguenhem os dentes aos movimentos populares e suas aspirações, e os nomes dos seus preponentes pouco importam desde que tenham a abertura à retaguarda para a mão invisível do mercado ditar as suas sentenças.
A estupidificação é agora o principal foco do capitalismo para prosseguir a sua senda de poder, lucro e hegemonização mundial, e é no conhecimento e análise que lhe daremos combate, “aprender, aprender, aprender sempre”, afirmou Lenine, nunca enganado, sabendo que é condição insubstituível e imprescindível para conscientemente se tomar lado e partido na história. Não obstante, o que nos restará questionar nesta linha é se a humanidade descartará o capitalismo a tempo do capitalismo dar por completa a sua tarefa parasitária de destruição dos recursos, dos povos e do planeta.
18 Março, 2023 às
A ideia da estupidificação não é nova. Após a estupidificação, o estado capitalista transformado em fascismo ou nazismo (como na atual Ucrânia) torna grande parte do povo em fanática e obediente a todo o chamamento de guerra. O próprio Joseph Goebbels disse: «Há que fazer crer ao povo que a fome, a sede, a escassez e as doenças são culpa dos nossos opositores e fazer que os nossos simpatizantes o repitam em todo o momento…»
Na Ucrânia, os comunistas são perseguidos, presos, torturados, mortos e desaparecidos (tal como no Chile de Pinochet). A nossa comunicação social censurou essa informação e transmitiu a ideia que os comunistas são os perseguidores dos ucranianos que querem viver em paz e liberdade. O apelo infame que Zelenski fez no nosso parlamento e a comparação hedionda que fez da situação do seu país ao nosso 25 de Abril foi transformado em propaganda. Desta maneira, a televisão portuguesa e os seus redatores transformaram os comunistas em maus e os nazis ucranianos em bons.
13 Março, 2023 às
Porque é que o Cavaco acabou com a taxa de televisão e sabotou a RTP a favor das privadas? Eis a resposta.