Autor: Ivo Rafael Silva

Mas qual é o espanto com Rui Rio mesmo?

A falta de memória pode explicar em parte. O propósito propagandístico de querer aligeirar o caso, tratando-o como uma «pequena falha» de um «democrata sem papas na língua» também. Mas falta de memória e vontade de branquear tendências e tiques fascistas é coisa que não medra neste espaço.

Do leque de acções abusivas de Rui Rio enquanto presidente da Câmara Municipal do Porto, vem-nos à memória a retirada atrevida de cartazes de propaganda partidária e sindical. Claro que, na altura, após a devida queixa do PCP, a CNE agiu em conformidade passando o devido e humilhante raspanete a Rui Rio, obrigando-o à reposição dos cartazes. Refrearam-se dessa forma os ímpetos mandões de quem nunca deu mostras de saber conviver bem com quem se lhe opusesse, mas a praxis e a postura foram sempre na mesmíssima toada.

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Os Alegados «Malucos» do Sistema

São geralmente desculpabilizados sob o rótulo de «malucos do sistema». Presidentes demasiado sonoros para os ouvidos finos de certas direitas liberalóides, como Trump, Bolsonaro, Orban ou outras variações mais caseiras e que vemos por exemplo em determinados municípios e regiões autónomas portuguesas, são apenas e só tidos por casuais e isolados «malucos do sistema». O que preconizam, o que fazem, o sistema que servem e que lhes deu poder está absolutamente certo, imaculado e não tem culpa alguma de ser «pai» do «maluco». Caídos do céu, sem passarem pelo crivo da «meritocracia capitalista», estes «malucos», se apareceram, é por culpa de qualquer «esquerda» irresponsável que os antecedeu. Porque eles são só «malucos», é azar, e o «elevador» não tem nada a ver com isso, permanece intocável e o melhor dos mundos. Ainda que não.

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Portugal e a Tragédia Brasileira: O Grande Silêncio

Já ninguém se lembra da presença ufana e folclórica de Marcelo na tomada de posse do «irmão» Bolsonaro. Nem dos elogios apaixonados à forma tão «prestigiante e afável» como Portugal fora recebido por aquele tão recomendável leque de governantes. Foi bom estar ali, dizia Marcelo, e acrescentamos nós: ali, lado a lado com pastores fanáticos de seitas religiosas, ignorantes funcionais, citadores de figuras nazis, o mais hediondo grupelho de ministros alguma vez empossado naquele país. Marcelo tinha ido ao beija-mão solene de uma das mais sinistras figuras da história contemporânea do Brasil, que, entre inúmeras pérolas, já naquela altura tinha no curriculum das misérias morais o ter dito que não «estuprava» mulheres porque não mereciam. Era a tomada de posse de alguém que já não escondia quem era, nem ao que vinha. Mas já ninguém se lembra e sobretudo agora também não interessa lembrar. A mesma comunicação social que promove os «afectos», também não deixa de silenciar as «patadas». «E daí?»

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O Observador está com medo de que o mercado «funcione»

Os apelos roçam o desespero. Chega a ser quase enternecedor. O Observador tem fulminado os leitores e visitantes da sua página com mensagens de consternação pela falta de assinaturas e consequente apelo à subscrição paga dos seus conteúdos. José Manuel Fernandes, quando não surge na página a assinar textos bolsonaristas, ou na versão radiofónica com laivos medievais, aparece assim com ar sereno e cândido, de gatinho abandonado, implorando a todos os santinhos que façam lá a subscriçãozinha do órgão que o alimenta. Não se percebe de que tem medo o Observador. Afinal, caros amigos, é só a justiça do mercado a funcionar. Afinal, todos sabemos que em cada falência há sempre uma nova oportunidade. Novos e mais fortes empreendimentos, mais adaptados e evoluídos, surgirão no seu lugar. José Manuel Fernandes e seus pares não devem fazer cara feia ao seu negro futuro de gestores falidos: têm de estar gratos e satisfeitos pelo facto nobre e valente de a sua falência poder vir a dar lugar a um empreendedorismo mais próspero e mais capaz! Ler mais

Chicão vai à tropa

Todos sabemos da responsabilidade directa do CDS no fim do serviço militar obrigatório. Todos nos lembramos das cartas abertas dos militares ao então ministro da Defesa, Aguiar Branco, nos anos da troika, «gritando» contra a situação «insustentável», de «paralisia de serviços», de perda de direitos em resultado da cega «suborçamentação» a que estavam então sujeitos. O CDS foi sempre muito amigo das forças armadas, excepto quanto as condenou a um funcionamento de penúria. Da mesma forma que sempre foi muito amigo dos pensionistas, excepto quando lhes cortou as pensões. Ou ainda dos agricultores, ou da «classe média», ou, enfim, de todos aqueles que foram alvo da hipocrisia histórica de um partido que fez sempre o contrário daquilo que dizia defender. Ler mais

Do cretinismo no meio da tragédia

1. A China comunista e ditatorial que ainda ontem, segundo o tridentino
Lobo Xavier, estava a resolver o problema “entaipando pessoas com
polícias à porta”, já respondeu “sovieticamente” a Itália com mil
ventiladores pulmonares, dois milhões de máscaras, uma equipa de
médicos, plasma de doentes curados e toneladas de materiais de saúde.
Enquanto isso, a Itália ainda aguarda respostas ao pedido de activação
do “liberal, democrático e ocidental” Mecanismo de Protecção Civil da
União Europeia, que fora feito… a 27 de Fevereiro. Ler mais

Por falar em futebol e racismo: os «camisas negras» do Rio

Muito embora no que a futebol brasileiro diga respeito toda a atenção mediática esteja presentemente centrada no Flamengo de Jorge Jesus, nenhum outro clube dirá tanto a Portugal e aos portugueses como o Clube de Regatas Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Contudo, não é o facto de ter sido fundado e patrocinado por portugueses que nos leva propriamente a coloca-lo aqui em evidência. É que ontem, na Bolívia, numa partida a contar para a copa sul-americana de futebol, o guarda-redes suplente do Vasco foi também ele vítima de insultos racistas. A questão é que, neste caso concreto, tendo em conta o peso simbólico da camisola que o atleta enverga, a situação assume uma dimensão duplamente grave: pelo crime em si, e pelo facto de ter sido cometido precisamente contra um clube histórico do combate ao racismo e à desigualdade. Ler mais