Autor: Ricardo M Santos

O Porto de um homem só

Parece reinar hoje na cidade do Porto o unanimismo em torno da figura de Rui Moreira. O actual presidente da Câmara, conotado com as linhas de PSD e CDS, conseguiu esvaziar estes partidos na cidade e, ao que parece, acabou por agregar o PS, que já declarou o seu apoio ao menino da Foz. Rui Moreira, eleito como independente apoiado pelo CDS tem, no entanto, um problema que não é defeito, é feitio: acha que quem não concorda com ele ataca o Porto. E talvez na raiz desse problema esteja mesmo a tal quase unanimidade em torno do autarca. O Porto vai perdendo a capacidade crítica e a capacidade de pensar, de contrapor, de propor.

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A classe de João Miguel Tavares

Decidi há uns tempos, por uma questão higiene mental, deixar de ler algumas pessoas. Não é porque discorde deles. Tenho, felizmente, muitos amigos e autores de quem discordo mas que não deixo de ler. É mesmo porque é uma perda de tempo ler imbecilidades e, ainda mais, discordar delas. O desobrigador arquitecto Saraiva, João Lemos Esteves, Alberto Gonçalves e  João Miguel Tavares estão entre os eleitos que optei por não acompanhar, nem para ter o prazer de discordar deles. Mas, como sempre, a excepção que confirma a regra aconteceu hoje, porque me saltou à vista uma declaração do interveniente do Governo sombra, da TSF, e prolixo autor de obras como “A crise explicada às crianças de esquerda” e “A crise explicada às crianças de direita”.

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Isto é tudo uma grande média

Grande parte do que havia a ser dito sobre impostos e classe média já foi dito aqui e aqui. A vantagem do sistema capitalista, sem ironias, é a capacidade evidente que possui para se manter exactamente igual enquanto se anuncia a sua modernização, a sua adequação às necessidades e anseios das populações. A enorme dificuldade em tipificar a classe média é uma grande vantagem do sistema dominante. A impossibilidade de sabermos se a classe média, se o é, é-o através do rendimento mensal, da forma como é obtido esse rendimento, do rendimento mobiliário e imobiliário. Ninguém sabe. E isso é óptimo, porque qualquer um pode ser classe média, desde que olhe para um lado e veja alguém mais pobre; para outro e veja alguém mais rico.

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Nunca um português chegou tão longe

Quando visitávamos a aldeia da minha mãe, em Trás-os-Montes, o meu tio fazia sempre questão de apontar quem era o senhor que era pai do doutor, fosse o doutor juiz, médico, enfermeiro, professor, engenheiro, arquitecto, advogado ou outra coisa qualquer. Era o retrato de um país ainda com o fascismo cravado na mente, das aparências, da subalternização, mesmo quando já estávamos no final da década de 80 e a entrar nos anos 90. Era aquela reverência saloia que permanecia numa zona do país onde a electricidade ainda só chegava ao centro da aldeia. Os restos de um país com as contas em dia, porque naquele tempo é que era bom.

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Rui Moreira Rio

O Rui Moreira confunde a sua vontade com a vontade da cidade do Porto. Felizmente, e como todos sabemos, já existia Porto antes do Rui Moreira e, curiosamente, também já existia PCP antes do Rui Moreira. O PCP está a favor da cidade do Porto, como sempre esteve, embora esteja contra o Rui Moreira. Por incrível que isso possa parecer, ao presidente da CMP, há quem não concorde ele. Chama-se democracia e foi por isso que o PCP lutou anos e anos na clandestinidade, embora isso possa parecer estranho a quem representa, encapotadamente, os dois partidos que são herdeiros da outra senhora.

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O que falta nos Panama Papers

O mundo acordou ontem com uma revelação explosiva. Os chamados Panama Papers prometiam colocar a nu um escândalo sem precedentes, de dimensão global, depois da fuga de documentos de uma empresa de advogados especializada em esconder dinheiro, a Mossack Fonseca, do Panamá. Importa referir desde já que há centenas de empresas que prestam este tipo de serviços, logo, esta lista está longe de ser completa. Afinal, o que diferencia esta lista que agora vamos conhecendo, do Wikileaks? Muita coisa. Demasiada.

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No primeiro de Abril, a verdade e a mentira.

O PCP trai os seus princípios de sempre e quebra uma das suas mais importantes e conhecidas qualidades: a coerência. Ao contrário do que fez com outros movimentos e países, nomeadamente no que toca a manifestações espontâneas que surgem como “apartidárias” e promovidas por “jovens” sem intenções políticas além das de lutar pela democratização de regimes autoritários, o PC alinhou desta vez com a postura, a que até aqui vem qualificando como oportunista, típica do Bloco de Esquerda em Portugal.

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Blocobuster

Há várias formas de atrair a atenção para vários assuntos. Normalmente, as melhores campanhas são as que não são consensuais, que geram aquilo a que se chama “buzz”, que significa agitar, fazer com que se fale de um determinado produto. Ontem, o Bloco decidiu apresentar um cartaz em que afirma que Jesus também tinha dois pais. A imagem, feita a partir de um “meme” com 300 anos que circula na internet desde que há ficheiros JPG, pretende isso mesmo, criar “buzz”, aproveitando o Bloco para surfar na crista da onda da sua mediatização. Sou ateu e comunista, creio que faz de mim insuspeito quanto a religiões e à simpatia que nutro por elas, que é nenhuma. Sejam elas quais forem.

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