Autor: Bruno Carvalho

Há 30 anos sem Santi Brouard e Pablo González

Há 30 anos, neste mesmo dia, dois pistoleiros dos GAL entraram no consultório de Santi Brouard e abriram fogo sobre o dirigente comunista basco.  A comoção e a revolta espalham-se como pólvora. A polícia tenta impedir que os independentistas bascos levem o corpo do presidente do partido HASI. O Estado espanhol, através dos seus grupos paramilitares, acabava de assassinar um representante eleito do Senado Espanhol, do parlamento basco, vereador da Câmara Municipal de Bilbau e figura histórica da esquerda independentista basca.

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Amar em tempos de guerra

«Vós, que surgireis do marasmo em que perecemos, lembrai-vos também, quando falardes das nossas fraquezas, lembrai-vos dos tempos sombrios de que pudestes escapar. Íamos, com efeito, mudando mais frequentemente de país do que de sapatos, através das lutas de classes, desesperados, quando havia só injustiça e nenhuma indignação. E, contudo, sabemos que também o ódio contra a baixeza endurece a voz. Ah, os que quisemos preparar terreno para a bondade não pudemos ser bons. Vós, porém, quando chegar o momento em que o homem seja bom para o homem, lembrai-vos de nós com indulgência.»

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Vêm aí os russos

Apesar do histerismo de Nuno Rogeiro, o Washington Post já veio dizer que os aviões russos não violaram a soberania do espaço aéreo português. Mas vamos supor que sim. Vamos supor que há espaço para mergulharmos colectivamente no delírio de que os russos se arrogaram no direito de voar nos céus do nosso país. Façamo-lo uma vez que há tempo e que o ébola já abandonou as preocupações dos principais órgãos de comunicação social. Enquanto não houver brancos a morrer da doença, deixemos os negros às mãos dos únicos que deles se preocupam: os médicos cubanos.

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Os bastões de António Costa

Há uns anos atrás, quando inauguraram a sempre caótica rotunda do Marquês de Pombal, um curioso que por ali passava atreveu-se a fazer uma pergunta que não havia ocorrido a qualquer um dos responsáveis técnicos e políticos da obra. Onde estavam os sumidouros para escoar a água? Entre o gaguejo demagógico do típico discurso fingido, os autarcas apressaram-se a garantir que estava tudo pensado. É este o nível de profissionalismo de quem está a governar uma cidade para os interesses privados. Mas antes de se especializar em afogar Lisboa e responsabilizar o Instituto Português do Mar e da Atmosfera pela falta de previsão, António Costa já existia.

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O imperialismo existe

O processo mental de construção daquilo que quero escrever é uma espécie de nuvem que se vai alimentando de factos até crescer de tal forma que desagua numa tormentosa necessidade de escrever. Acontecimentos tão distantes geograficamente como os que se passam no Curdistão, na Venezuela e em Portugal cruzam-se com outros cuja distância não se mede em quilómetros mas em anos. Há pouco tempo, com um amigo colombiano que visitava a capital portuguesa pela primeira vez, debatíamos sobre a miserável assepsia que brotava da ideia dominante de que a Europa era um continente exemplar. Meses antes, havíamos estado num remodelado mercado de uma cidade europeia que já fora palco de violentos combates entre o operariado e as forças da repressão. Depois de um processo de reconfiguração, o que havia sido um importante centro industrial era agora um cartão de visita para o turismo. Do fumo das granadas de gás e dos fortes cheiros que cuspiam as fábricas envolventes aos estaleiros, agora o ar que se respira é quase impoluto.

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O imperialismo também usa silenciador

Esta tarde, o deputado venezuelano Robert Serra, eleito pela zona de Caracas que inclui o bairro 23 de Enero, baluarte da revolução bolivariana, ia participar numa conferência consignada ao tema «Fascismo, vanguarda extrema da burguesia». Mas já não vai. Caiu assassinado mais a sua companheira na noite passada. Para lá da especulação, há boas razões para suspeitar do imperialismo, essa mão invisível que se abate sobre os povos mas que só se confirma décadas depois quando se desclassificam documentos.

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Banda Bassotti, vozes comprometidas com o internacionalismo

Cinco anos depois da explosão popular que tingiu de vermelho as ruas e avenidas de Manágua, o grupo punk italiano Banda Bassotti deu um concerto naquele país centro-americano. Em plena guerra entre os combatentes da Frente Sandinista de Liberación Nacional (FSLN) e a Contra (abreviatura de contra-revolucionários) financiada, treinada e armadas pela CIA, os Banda Bassotti seguiram o caminho de muitos grupos que da Europa foram à Nicarágua mostrar que a solidariedade internacional é a ternura dos povos.

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Não há paz sem justiça

É algo que ferve por dentro até que se nos escapa pelas cordas vocais e somos obrigados a expressar a raiva em que nos mergulham. Eu sei de algo que escapou a todos os telepontos que foram lidos nos telejornais. Enquanto dezenas de ricos mergulhavam água gelada na cabeça, ele estava ali a travar a sua cruzada contra a vida. De pé, na Ponte Luís I, esperou que o peso de tudo o derrubasse para o vazio que o separava do rio.

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