Autor: Ivo Rafael Silva

Uma antiga aliança

O que se passa no Brasil com Bolsonaro, nos EUA com Trump, na Hungria e Itália com governos e governantes fascistas, é tudo reflexo contemporâneo de uma aliança já antiga. Nada de novo. Fascismo e capital, capital e fascismo. Nenhum desses actores subiu ao estrelato sem patrocínio, sem alavancas financeiras colossais. Nenhum deles ganhou prestígio por via de brilhantes curriculums académicos, muito pelo contrário. Ora, acontece que fascismo, capitalismo, imperialismo não se combatem com contra-correntes do género “EleNão”. Com essas e outras iniciativas, pode o fascismo bem.

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A mão por detrás dos afectos

Marcelo Rebelo de Sousa resolveu devolver à Assembleia da República um decreto que tinha por finalidade garantir aos arrendatários o direito de preferência em caso de compra dos imóveis por inteiro. Tudo isto surge numa altura em que decorre um negócio que, caso a lei venha a entrar efectivamente em vigor, pode ficar em risco: trata-se da operação de venda de 277 imóveis da companhia de seguros Fidelidade a um fundo de investimento norte-americano (Apollo), operação na qual a Fidelidade se tem negado a dar a devida preferência a cada um dos inquilinos sobre a respectiva fracção. Enquanto a lei vai, volta e não entra em vigor, lá vão folgando as costas, dando tempo precioso à consumação da negociata.

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O Comboio Descendente

«CP está a ficar sem comboios e à beira do colapso. Com uma frota envelhecida, comboios avariados e oficinas sem pessoal, a CP está à beira da ruptura. Concurso público para comprar material circulante ainda nem tem caderno de encargos e a empresa está a ficar sem comboios» (Público, 11/07/2018). O que é que isto significa? Que se está a preparar terreno para a liberalização da ferrovia já agendada para 2020. Sem o estorvo do «operador Estado», ou com ele reduzido a farrapos, é mais fácil aos operadores privados dominarem mais um serviço público.

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BE: O conteúdo está na forma

Sou forçado a admitir que o debate parlamentar – e refiro-me a este, que foi o único que existiu – acerca da eutanásia foi, de facto, muito útil. Não para debater as complexas circunstâncias do tema propriamente dito, cujo aprofundamento nitidamente não interessou a quem apresentou as propostas, mas sim para outros fins, bem menos “heróicos” ou “respeitadores” da “vontade dos cidadãos” que alguma ingenuidade da opinião pública pudesse antever nas defesas vigorosas da respectiva aprovação. Das várias latitudes do “interesse” que havia em fazer de forma apressada uma discussão mediática e uma votação atabalhoada, evidenciou-se, muito destacadamente na imprensa, como é habitual nestes casos, a postura pública do Bloco de Esquerda em relação ao PCP.

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O Acordo Normal

O muito mediatizado – diria até festiva e apaixonadamente celebrado – acordo entre PS e PSD, não pode deixar de ser visto como um acto absolutamente normal. Mais do que possível ou provável, o encontro convergente entre os dois é acima de tudo ideologicamente inevitável. Mais tarde ou mais cedo, cairiam nos braços um do outro, alinhados sob qualquer pretexto de circunstância. Sabemos agora, de uma forma mais clara, que as declarações de António Costa sobre a “negação” ou “impossibilidade” da criação de um bloco central valem zero, e que a “possibilidade” de tal acontecer já não é sequer uma “possibilidade”: na verdade, ela já começou a ser construída.

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Não Sr. Presidente, não temos nada que agradecer a Passos Coelho! Nada!

Vindo do lado do PS não espanta, mas é necessário mesmo assim repudiar os circunstancialismos mentirosos. Ainda que, além de palmos de terra, os portugueses tenham o hábito de deitar elogios para cima dos esquifes, não se pode aceitar tal “rito” vindo de um presidente da AR. Enquanto foi deputado ou primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho nunca “serviu a causa pública”! Nunca!

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O postal dos correios enviado pelo PS

A fórmula é sempre a mesma: quando os números das receitas geradas não correspondem às ambições de patrões ou accionistas, a solução passa inevitavelmente por mandar uns quantos trabalhadores para a rua. Às vezes despedem-se dezenas, outras centenas, como é o caso concreto de que aqui se trata, e para os que ficam a certeza de cortes, congelamento de progressões e de salários. Deve haver algum problema com a formação sempre muito bem paga dos CEO’s ou gestores deste país, ou de outro qualquer, sempre saídos de eminentíssimas academias nacionais e internacionais, porque por mais habilitações, graduações ou anos de experiência acumulada que apresentem a sua fórmula “mágica” é sempre a mesma: há problema? Então despede-se!

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O Mais Belo Quadro da História da Humanidade

Enganaram-nos quando nos disseram que o sonho tinha asas. Vivemos séculos de olhos voltados para uma plumagem que não nasceu, para um céu a que nunca haveríamos de chegar. E o sonho, afinal, para se cumprir, não precisava de asas nem do céu. O sonho precisava de braços e pernas que, obedecendo a vontades e não a chefes, erguessem o mundo novo. Seria a escura tinta dos dedos e pulsos operários, e não a alvura da plumagem angelical, a pintar de mil cores o amanhã liberto e limpo. E foi a saliência fria de mãos de fome que pintou, afinal, o mais belo quadro da história da humanidade.

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