O que os mói e corrói não é apenas o facto de a CDU não ter estendido a passadeira vermelha ao PS para a CML, como fizeram os outros ditos de esquerda em bloco e livre.
O que os irrita, não é sectarismo, nem ortodoxia, nem mesmo o facto de o candidato da CDU ser, de longe, o único na corrida do trabalho, honestidade e competência, deixando os concorrentes a correr em sentido contrário ao da meta.
O que os faz sair de si, perder as estribeiras e aguçar as garras contra a CDU e os comunistas vai muito além disso:
é o facto de haver quem ouse afirmar que há mais caminhos, mais escolhas, além de PS e PSD, além da dicotomia esquerda-direita, cada vez mais esvaziada de significado;
É o facto de haver quem não desista, quem não ceda perante as chantagens da comunicação social, do PS, do be, do L, ou do ch como papão que justifica tudo;
É o facto de haver quem organize com seus próprios meios e pessoas, uma campanha de rua a rua, bairro a bairro, empresa a empresa para debater a cidade, mas a cidade mesmo, não o investimento privado, não é o hotel de charme, não é a venda de Lisboa peça a peça. É a organização do espaço público, a cultura, o desporto, a saúde, o associativismo, os direitos dos trabalhadores das autarquias locais, a educação, os arruamentos, a mobilidade, os transportes públicos, a vida das pequenas e médias empresas, tudo para lá dos interesses importados, da especulação imobiliária e das privatizações e concessões, corrupção, clientelismo e compadrio;
É o facto de haver quem tenha a audácia de dizer aos portugueses e lisboetas que há opção, que não há só os do costume, mas que há esperança e alternativa que não cabe nem no PS nem no PSD.
É essa a maior pedra no sapato deles. Isso é o que mais coloca em risco o seguro de vida, o balão de oxigénio temporário e recorrente do PS que é mostrar-se, não pelo que verdadeiramente é, mas pelo que diz não ser.
Este é o caminho que rompe com a ideia de que a ‘esquerda’ é toda aquela amálgama, uma espécie de massa moldada à imagem do PS e dos seus sucedâneos mais ou menos oportunistas.
Este é também o caminho que mostra que a alternativa a essa quadrilha de PS/PSD/CDS que assalta o país há mais de 45 anos não está nos que querem apenas tomar-lhes o lugar para continuar a política de direita, mas sim nos que querem mudar de políticas.
É isto, é esta coragem de assumir um projeto sem cobardia ou riqueza, esta coragem de afirmar que o caminho não está encerrado na bolha que eles próprios alimentam e que existe um espaço, amplo, democrático e convergente para todos aqueles que, não apoiando a política de moedas, não se contentam em trocar moedas por leitão, deixando no essencial a política na mesma. Nada que não seja parte do ADN do PS, expectável do carácter do livre, mas que tinha esperanças que não engolisse o que ainda sobra do be.
Nunca perdoaram. Nunca perdoarão.
O custo da dignidade é o ódio dos oportunistas.
