Autor: Miguel Tiago

O custo da dignidade é o ódio dos oportunistas.

O que os mói e corrói não é apenas o facto de a CDU não ter estendido a passadeira vermelha ao PS para a CML, como fizeram os outros ditos de esquerda em bloco e livre.
O que os irrita, não é sectarismo, nem ortodoxia, nem mesmo o facto de o candidato da CDU ser, de longe, o único na corrida do trabalho, honestidade e competência, deixando os concorrentes a correr em sentido contrário ao da meta.

O que os faz sair de si, perder as estribeiras e aguçar as garras contra a CDU e os comunistas vai muito além disso:

é o facto de haver quem ouse afirmar que há mais caminhos, mais escolhas, além de PS e PSD, além da dicotomia esquerda-direita, cada vez mais esvaziada de significado;
É o facto de haver quem não desista, quem não ceda perante as chantagens da comunicação social, do PS, do be, do L, ou do ch como papão que justifica tudo;

É o facto de haver quem organize com seus próprios meios e pessoas, uma campanha de rua a rua, bairro a bairro, empresa a empresa para debater a cidade, mas a cidade mesmo, não o investimento privado, não é o hotel de charme, não é a venda de Lisboa peça a peça. É a organização do espaço público, a cultura, o desporto, a saúde, o associativismo, os direitos dos trabalhadores das autarquias locais, a educação, os arruamentos, a mobilidade, os transportes públicos, a vida das pequenas e médias empresas, tudo para lá dos interesses importados, da especulação imobiliária e das privatizações e concessões, corrupção, clientelismo e compadrio;

É o facto de haver quem tenha a audácia de dizer aos portugueses e lisboetas que há opção, que não há só os do costume, mas que há esperança e alternativa que não cabe nem no PS nem no PSD.

É essa a maior pedra no sapato deles. Isso é o que mais coloca em risco o seguro de vida, o balão de oxigénio temporário e recorrente do PS que é mostrar-se, não pelo que verdadeiramente é, mas pelo que diz não ser.

Este é o caminho que rompe com a ideia de que a ‘esquerda’ é toda aquela amálgama, uma espécie de massa moldada à imagem do PS e dos seus sucedâneos mais ou menos oportunistas.

Este é também o caminho que mostra que a alternativa a essa quadrilha de PS/PSD/CDS que assalta o país há mais de 45 anos não está nos que querem apenas tomar-lhes o lugar para continuar a política de direita, mas sim nos que querem mudar de políticas.

É isto, é esta coragem de assumir um projeto sem cobardia ou riqueza, esta coragem de afirmar que o caminho não está encerrado na bolha que eles próprios alimentam e que existe um espaço, amplo, democrático e convergente para todos aqueles que, não apoiando a política de moedas, não se contentam em trocar moedas por leitão, deixando no essencial a política na mesma. Nada que não seja parte do ADN do PS, expectável do carácter do livre, mas que tinha esperanças que não engolisse o que ainda sobra do be.
Nunca perdoaram. Nunca perdoarão.

Para eles: mais produtividade. Para nós: mais exploração.

Como seria de esperar, o novo assalto aos direitos dos trabalhadores, pela mão do Governo PSD/CDS, que vem anunciado como “Trabalho XXI”, é um tratado de retorno ao século XIX no que toca a direitos laborais.

O embrulho é sempre o mesmo: modernidade, competitividade, produtividade. 

Pouco antes de o Governo apresentar o novo pacote do assalto, lia-se no Diário de Notícias: “A dois anos de lançar o novo modelo elétrico da VW, made in Portugal, o diretor-geral da Volkswagen Autoeuropa, Thomas Hegel Gunther, considera que a receita do país e da Europa para recuperar a competitividade perdida para o Oriente “tem de ser o aumento da produtividade”.” Vejam a habilidade com que o director-geral da Autoeuropa culpa os trabalhadores pela perda de competitividade, sendo que concretiza logo a seguir: “Em causa podem estar fatores de produção como o custo do trabalho ou o da energia.”.

Ler mais

A fractura exposta

Desde a entrada para o mercado único europeu, especialmente com a entrada no “pelotão da frente” da adopção do marco alemão travestido de novas vestes e nome, que os trabalhadores portugueses têm vindo a sofrer as consequências das opções dos traidores de Abril que até aqui nos trouxeram.

Fizeram-no com a pompa e circunstância que a classe dominante entendeu atribuir ao projecto “europeu”, fizeram-no porque rapidamente perceberam que a entrada de Portugal num projecto federalista – colonizador da periferia e assente na institucionalização do capitalismo – seria uma das formas mais eficazes de travar o desenvolvimento do projecto de Abril. Na altura PS e PSD competiam em Portugal para ver quem alinhava com mais afinco na moda europeísta, quem diziam com mais convicção que íamos ganhar como os alemães e que não podíamos ficar de fora porque seríamos excluídos e ostracizados.

Ler mais

Direitos constitucionais não se vendem, não se compram, não se referendam.

“No 3.º trimestre de 2024 (dados provisórios) a renda mediana dos 23 684 novos contratos de arrendamento em Portugal atingiu 8,00 €/m2 . Este valor representa um crescimento homólogo de 10,7%, inferior ao observado no trimestre anterior (11,1%). Quando comparado com o 3.º trimestre de 2023, o número de novos contratos de arrendamento diminuiu 5,0%. (…) As rendas mais elevadas registaram-se na Grande Lisboa (13,53 €/m2 ), Região Autónoma da Madeira (10,66 €/m2 ), Península de Setúbal (10,18 €/m2 ), Área Metropolitana do Porto (9,09 €/m2 ), Alentejo Litoral (8,82 €/m2 ) e Algarve (8,81 €/m2 ). No 3.º trimestre de 2024, verificou-se um aumento homólogo da renda mediana nos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes, destacando-se o Funchal (25,9%) com a maior variação homóloga e Lisboa com a maior renda mediana (16,18 €/m2 ), embora com uma taxa de variação homóloga (3,0%) inferior à nacional (10,7%).” – www.ine.pt

Lucros da banca após dedução de impostos em 2023: 5 281 718 milhares de euros. – www.apb.pt

“Com o apoio da IL e Chega, PSD, CDS e PS dão 365 milhões aos grupos económicos em IRC.” – www.pcp.pt

“A lei dos solos é um aproveitamento para alimentar a especulação.” 
– Intervenção de Alfredo Maia na Assembleia da República, 24 de janeiro de 2025

Ler mais

A unidade não é um slogan

O sistema capitalista e a sua configuração geopolítica estão em profunda transformação. Esta frase é verdadeira desde que o capitalismo é o modo de produção hegemónico, mas as transformações por que o sistema e os seus centros políticos e económicos passam ao longo dos tempos, pode conhecer momentos de maior convulsão, de maior intensidade e maior turbulência. O momento actual é de profunda crise e apresenta-se como tempo de mudanças à escala global com incertos desfechos.

Ler mais

mil vezes abril

Em 2022, o CDS desapareceu do parlamento português e só foi ressuscitado pela necessária bondade de um PSD perdido, querendo estender a mão à direita mais reaccionária e retrógrada, mas sabendo que isso lhe custaria votos. Não se ouviram nem leram, por essa altura, tantos cântigos fúnebres como os que ouvem os comunistas desde a sua fundação.

A extinção eleitoral do CDS, não apenas não mereceu dos donos disto tudo e seus papagaios a exaltada e estafada celebração da decadência eleitoral e o anúncio de morte, como lhes assegurou a continuidade da sua presença em diversos órgãos de comunicação social, com honras de comentadores em horário nobre, sem direito a contraditório, sem questionamento, levando para casa os seus milhares de euros para regurgitarem o volutabro que nos pretendem enfiar pelas cabeças abaixo. Nunca houve hora da morte nem certidão de óbito para o cadáver mais evidente da democracia portuguesa, pelo contrário, houve dois anos de custosa e penosa reanimação. Já o PCP, ainda o muro de Berlim não havia caído e tinha a sua morte traçada e decidida.

Ler mais

O governo da colónia faz parte do império

Manifestação nacional CGTP-IN, 18 de Março de 2023. TIAGO PETINGA/LUSA

No mesmo dia em que os trabalhadores portugueses respondiam à chamada da CGTP-IN para a realização de um dia nacional de luta “Aumentar salários | Garantir direitos | Contra o aumento do custo e vida – Pelo direito à saúde e à habitação”, Lagarde anuncia que as taxas de juro do BCE vão continuar a subir, sendo a próxima subida já em Julho.

Terminou aliás nesse dia, 28 de junho, o encontro Fórum BCE, que se realizou em Portugal, supostamente para determinar as grandes causas da inflação e as respostas adequadas, juntando governadores dos bancos centrais (que é como quem diz, funcionários administrtaivos do BCE), decisores políticos (que é como quem diz governantes eleitos pelos povos mas ao serviço dos grandes grupos económicos) e “especialistas” no assunto.

Ler mais

Nós sabemos. Mas eles também.

Da inflação temporária ao perigo de uma recessão global foi um tirinho que muitos não esperavam. António Costa anunciava no final de 2021, juntamente com Centeno, que a inflação não podia motivar um aumento salarial, porque era “um fenómeno temporário” . Aliás, não apenas a inflação era um fenómeno temporário, como o aumento dos salários poderia torná-la permanente, diziam como justificação para o tremendo corte salarial que impôs o governo de maioria absoluta do PS aos trabalhadores da função pública que, confrontados com uma inflação de 7 a 8% (acumulada), tiveram um aumento salarial de 0,9%. Ou seja, numa ordem de grandeza abaixo dos valores da inflação.

Ler mais