Todos os artigos: Internacional

Pode o passado mascarar-se de futuro?

Uma vez, conheci um homem que viajou no tempo. Mergulhou na vertigem espacio-temporal que o catapultou dos anos 80 para o presente e encontrei-o numa das margens da ria de Bilbau. Entrou na máquina que o trouxe ao futuro ainda jovem e saiu com o rosto enrugado pelo tempo. Respondeu-me que era mentira. Que tinha vindo do futuro e que aterrara no passado. De uma cidade cinzenta e industrial onde a luta de classes era o motor da história, observava agora como se afogava a rebeldia nas mornas águas da cidadania responsável. Curioso, perguntei-lhe como havia viajado no tempo. Um dia, a polícia emboscou-o e metralhou-o. Moribundo, conseguiu sobreviver e viveu sequestrado durante três décadas nos cárceres espanhóis.

Ler mais

Um pequeno incidente no condado Cobb*

Na manhã do passado dia 7, Brian Easley, de 33 anos, entrou num balcão do Wells Fargo em Cobb, um subúrbio de Atlanta, na Geórgia, EUA, e anunciou que tinha a mochila cheia de explosivos. Depois, pediu às duas trabalhadoras que chamassem a polícia e telefonou para o canal de televisão local, a WSB-TV, e comunicou o ponto único da curta lista de exigências: 892 dólares.

Ler mais

A poesia que arde

Agora que a poesia não alimenta escaparates e se esconde nas velhas estantes dos alfarrabistas onde se refugiam também os livros daquelas revoluções de que falam os nossos pais talvez seja tempo de alumiar a madrugada. No tempo em que a verdade se vestia de sombras, Bertolt Brecht disparava sem medo demonstrando que às vezes a poesia é de facto uma arma. O dramaturgo e poeta comunista alemão escreveu que a «arte não é um espelho para reflectir a realidade mas antes um martelo para dar-lhe forma».

Ler mais

Armando Cañizales na Puente Llaguno

A peça da Antena1 comovia. Invulgarmente longa para um noticiário de rádio começava por contextualizar a intervenção pública de Dudamel. Referia a sua página no facebook pintada a negro, tendo como imagem de capa um rectângulo preto sobre o qual se podia (e pode) ler o nome do jovem músico assassinado: Armando Cañizales Carrillo. A voz da jornalista alternou com a voz do próprio Dudamel, extraída de uma declaração pública divulgada dias antes da morte de Armando Cañizales. Em fundo música, creio que interpretada por uma orquestra do projecto “El sistema” no contexto do qual Dudamel e Cañizales se haviam encontrado. Como conclusão a ideia da inutilidade e da injustiça do crime, o assassinato de um jovem músico durante uma manifestação pacífica contra Maduro e o governo do PSUV.

Ler mais

A escolha de Hobson

O capitalismo reduz a democracia a um debate entre Macron e Le Pen, entre Merkel e Le Pen, entre Macron e Schäuble, entre um corte salarial ou o desemprego, entre levar um murro no estômago ou um pontapé na cara, entre o neo-liberalismo e o fascismo.

Ler mais

A pós-verdade da Venezuela

Quando se vive – isto é, quando se forma opinião – sobretudo a partir de artigos do Observador, do Expresso ou do Público – quando não apenas dos títulos – é-se “apanhado” muito facilmente naquilo a que tecnicamente se chama “fazer figura de parvo”. É o que muito tem acontecido a quem, por estes dias, tem levantado especiais brados pelo “caos” na Venezuela e se enche dos sentimentos de “pena” e “piedosa comoção” pelo povo do país. É aquele travozinho burguês, chique, enjoativo, quando não de nojo, que tão bem conhecemos, de gente que “acha mal” que a oligarquia corrupta da Venezuela não possa voltar ao seu glorioso passado de muito “progresso” e “prosperidade”, na sempre eterna “esperança” de um belo dia do horizonte “criar muitos empregos” para aqueles “pobrezinhos descalços”.

Ler mais

A paz na mira do paramilitarismo

Há precisamente 30 anos, o que era, então, gerente da sucursal do Banco de Comercio em Valledupar recebeu uma mensagem. «Ou se vão embora ou morrem, filhos da puta, comunistas, guerrilheiros», esclarecia a missiva. Ricardo Palmera que havia estudado economia em Bogotá e que havia começado por ser assessor financeiro do governo na Caja Agraria, no departamento de Cesar, tinha de tomar a decisão mais importante da sua vida. Durante anos, comprometera-se politicamente com a União Patriótica e via agora como caíam assassinados milhares de companheiros seus num processo de paz afogado em sangue. Foi justamente em 1987, depois de uma greve camponesa na praça principal de Valledupar que tomou a decisão frente às ameaças. Diz-se que levou 30 milhões de pesos do banco e tomou o caminho de centenas de perseguidos políticos. No cimo das montanhas da Sierra Nevada de Santa Marta enterrou a sua carreira profissional de êxito e abraçou a vida guerrilheira. Tornou-se num dos mais importantes comandantes das FARC e foi mais tarde capturado e extraditado para os Estados Unidos onde todavia se encontra a cumprir uma pena de 60 anos de prisão.

Ler mais