Todos os artigos: Nacional

Transportes coletivos: O público é de todos, o privado é só de alguns*

A poucos meses das eleições legislativas, o Governo acentua o ataque ao direito dos portugueses à mobilidade e abdica da defesa de um instrumento fundamental para a economia do País. Com a aprovação do novo Regime Jurídico do Serviço Público de Transporte de Passageiros, o Executivo liderado por Passos Coelho e Paulo Portas entrega a concessão dos transportes públicos a empresas privadas e responsabiliza as autarquias pelo seu financiamento.

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O velho exame da velha escola

A criança tem 9 anos e vai de rosto fechado pela rua fora, como todos os dias. Mas hoje, ao contrário do que é habitual, não me disse bom dia. A princípio, não percebi muito bem porquê. Os pequenos também têm as suas “consumições”, dizia a minha avó, foi o que pensei. Depois despertei. É dia de exame. A criança está absorvida por preocupações. Dia de martírio. De ser encostada à parede. Dia em que, pela primeira vez, aquela criança será sujeita à solenidade terrível de uma espécie de julgamento precoce em que todo o ambiente, todo o contexto à sua volta não propicia senão o nervosismo, a ansiedade, o medo e a insegurança. Os exames finais não são pedagogia em parte nenhuma do mundo. São apenas tormento.

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Esta polícia que bate

Agora que passou na televisão, repetidamente, foi partilhado em todas as redes sociais e envolve crianças, talvez possamos falar de violência policial.

As imagens que ontem geraram indignação geral são, infelizmente, a repetição do comportamento policial em muitos bairros, em manifestações, em piquetes de greve e, ficámos a saber, em festejos de campeonato no Marquês.

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Ser arquitecta no país da austeridade, por Joana Pereira

É bom projectar a cidade, projectar o habitar, projectar cada espaço que serve o ser humano… para mim e para nós é uma função primordial, pois é presença constante em tudo no nosso quotidiano e que gera não só relações lógicas de vivência dos espaços, como também cria o património do amanhã.

É bom projectar, ser criativo e ter ideias para ajudar a solucionar problemas, as pessoas dizem; “oh arquitecto, como é que eu nunca me tinha lembrado disso antes?”, “oh arquitecto, era mesmo isto que eu queria”, “oh arquitecto precisava disto”, “oh arquitecto o que acha daquilo”. E é bom quando isso acontece, significa que de uma forma ou de outra o reconhecimento do nosso trabalho vai ganhando terreno. Mas infelizmente nem sempre isso acontece… e é então que me pergunto, porque continuamos nós sem uma tabela de honorários fixa e actualizada que possa defender estes arquitectos, que já vulneráveis às desculpas de uma suposta crise, não têm algo que os unifique e proteja… Desta forma, e desculpem a expressão, irão continuar a deitar-se muitas calças abaixo para que se consiga algum trabalho que coloque pão na mesa…

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Alguém devia explicar ao Vhils que a pintura mural não precisa de autorização

Já sei que não serei muito popular nesta minha opinião, mas quem anda aqui há muito tempo nestas coisas da pintura mural às vezes irrita-se.

É verdade. A pintura mural não é só o graffiti ou o tag. É, essencialmente, no panorama das paredes portuguesas, uma tomada de posição. Social, política, artística, o que quiserem. E nasce como tradição política. Ao povo era imposta a mudez, escrevia-se o pensamento nas paredes das cidades, vilas e aldeias.

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Das falácias do Sr. Governador

Carlos Costa, o homem-estátua do Banco de Portugal, o governador que ficará na história por nunca ter tido a coragem nem competência para afrontar, denunciar ou retirar a idoneidade aos grandes obreiros do desastre financeiro do BES apareceu agora, muito ufano e cheio de moral, para mostrar o quão forte e corajoso afinal sabe ser para com os trabalhadores e os desempregados. Em declarações a vários órgãos de comunicação social, no momento em que ainda se sente no ar o odor fétido de anos de inabilidade e inépcia do organismo que continua a dirigir (sem que se saiba ainda muito bem porquê), Carlos Costa pede uma “reforma laboral” que mais não é que um apelo à radicalização da austeridade e à diminuição dos já escassos apoios sociais.

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“Medo e Revolução” por João Viana

A minha amiga Lúcia Gomes pede-me um texto e, em troca, dá-me liberdade para o escrever. Aceito a medo. Nas últimas comemorações do 25 de abril, ao olhar para um grupo que desce a avenida ostentado um cartaz onde se lê CORAGEM, dá-se o click. Vou falar-vos sobre o medo e também sobre revolução.

A forma como o medo pode durar e durar até perder-se nos tempos, mas também a forma como num simples piscar de olho o medo pode ir-se embora, dando lugar a uma revolução de criatividade, felicidade, progresso e tudo o mais que se quer da vida…. Há muito, muito tempo, lá na minha terra, em África, isto de que vos vou falar aconteceu.

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Este lixo que nos asfixia

Andar pelas ruas é, nestes dias, um exercício de coragem. E não estou a falar do mau tempo primaveril que fez o favor de levar tudo e mais alguma coisa pelo ar. É do ar que se respira nas ruas mas nem é da poluição. É do lixo. Não o da Moody’s, que disse recentemente que já somos menos lixo do que éramos. É do outro lixo. A forma como nos tratam todos os dias, as conversas com amigos e menos amigos. Isto está bastante irrespirável e começa a dar cabo da virtude da paciência. A foto ao lado foi tirada no Porto durante a tarde. Uma pessoa a vasculhar um caixote do lixo, à procura de um bocadinho de qualquer coisa que lhe permita respirar melhor. Não há como andar na rua e falar com as pessoas. Pessoas mortais, que não elogiam o Dias Loureiro e para quem a democracia não é anacrónica. Pessoas para quem sobreviver é um desafio de todos os dias, mais ou menos escondido ou, neste caso, às claras. Ontem foi um dia complicado, foi. Mas nem foi pelo mau tempo.

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