Zapping matinal. Num dos canais de informação passavam imagens dos “lesados do BES” em manifestação em frente à sede do defunto banco, renascido como Novo Banco. Barulho, algumas pessoas, entrevistas semi-audíveis. Cinco minutos disto e continuação do zapping. De repente chego à CMTV, que continuava em directo do local. A temperatura subia, vertiginosamente. Manifestantes que tentavam entrar na sede do Novo Banco empurravam, insultavam e berravam aos ouvidos dos agentes do Corpo de Intervenção da PSP. Bastões à vista: zero. Resposta da PSP: pacífica, apenas mantendo a posição.
Não achas que já chega?
A fraude da austeridade
Ainda não teve resposta por parte do Governo a Pergunta apresentada pelo PCP sobre os destinos das verbas obtidas através do “empréstimo” da troika estrangeira que foi apresentada há 25 dias atrás. Essa pergunta pode ser consultada aqui.
A resposta não é fácil e sem a ajuda do Governo será muito difícil compreender para onde terão ido os 78 mil milhões de euros que o Estado Português, com a assinatura do PS, PSD e CDS, contraiu como dívida e sobre a qual todos pagaremos os juros e as consequências políticas. Sim, os juros e as consequências políticas. Que o credor, neste caso, não se limitou a emprestar o dinheiro e exigir o pagamento do capital e dos juros. Foi muito além disso e exigiu o cumprimento de um programa político anti-democrático, anti-popular e anti-nacional, baseado naquilo a que chamam “austeridade”.
A Tecnoformacia
Tecnicalidades à parte, eis que se sabe que o actual primeiro-ministro ocultou a sua participação em actividades empresariais que resultam em conflito de interesses tal como evitou deliberadamente descontos obrigatórios que lesam o Estado em vários milhares de euros.
É obvio para todos, senão desde o início pelo menos agora, que Passos Coelho participou activamente na mais vulgar forma de corrupção que mina a democracia no seu ponto nevrálgico! Não é actor único mas sim mais um dos que viajam à boleia de um sistema que formaliza e moraliza todos os dias a corrupção, uma teia completa onde desde a participação económica ao tráfico de influências tudo é permitido e até glorificado, afinal, “o Pedrinho abria todas as portas” como disse Fernando Madeira seu antigo patrão na Tecnoforma!
De Chumbo em Chumbo
Depois de, há poucas semanas, ter detectado e apontado irregularidades e falta de transparência nas privatizações da EDP e da REN – em claro e grave prejuízo para o Estado Português –, o Tribunal de Contas voltou a arrasar mais um acto de gestão do actual governo. Desta feita, os juízes consideraram “excessivo” o aumento da taxa da ADSE e denunciaram – e este é o verbo mais adequado – o uso desse mesmo excedente para “compensar a redução do financiamento público” e satisfazer “problemas de equilíbrio do Orçamento do Estado”. Ou seja, o inusitado sacrifício que o governo impôs aos funcionários públicos teve apenas um único propósito: mascarar o défice, inverter estatísticas negativas e alimentar a ideia de que, afinal, as contas públicas estão “no bom caminho”.
O implacável rugir do motor da História
Implacável. Ainda mal arrefeceu o corpo da União Soviética e já o edifício do capitalismo europeu mostra brechas em todas as paredes: o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, que insiste em empurrar a Grécia para fora do euro à bruta, já choca com a chanceler Angela Merkel, que teima em fazer do povo helénico um engenho de escravos moderno, que por sua vez choca, aliás à guisa de todas as grandes guerras europeias, com a posição francesa, que já teme pelas consequências políticas de desligar a ficha do doente terminal, que não é a mesma da Comissão Europeia, que aposta forte num resgate usurário comparticipado por toda a UE, que choca com os interesses do capital britânico, que não quer o mesmo Euro que o Syriza deseja, que por seu turno foi partido ao meio, como as águas do Mar Vermelho, as esperanças do Bloco de Esquerda ou a coerência do Podemos, que também já veio dizer que não quer renegociar coisíssima nenhuma.
Sem alternativa à economia de mercado? por Maurício Castro
Assim de contundente foi o líder da alternativa eleitoral ao bipartidarismo espanhol vigorante, em declaraçons recentes ao The Wall Street Journal. Num ataque de sinceridade que deveríamos agradecer, Pablo Iglesias afirmou que “nom há umha verdadeira alternativa à economia de mercado”.
Umha sentença que dá continuidade a um pensamento constante nas diversas correntes de pensamento defensoras do sistema em vigor. Talvez a mais conhecida e divulgada tenha sido nas últimas décadas a do filósofo japonês Francis Fukuyama, pensador da direita neoliberal, no seu best seller do fim dos anos 80: “O fim da história”. Eram os tempos da queda do chamado campo socialista no leste da Europa. Lembram?
Este texto não é sobre a Grécia
Nem sobre Portugal, ou Alemanha. Também não é sobre austeridade, nem sobre resultados de referendos.
Na verdade, ao falar-se de União Europeia, excluem-se os povos que alimentam esse projecto imperialista, entre os quais o Grego, o Português, o Alemão. Porque falar de União Europeia não é falar de Europa, que é um continente, um vasto conjunto de países, que cá continuarão muito após o colapso do projecto de espoliação que é a União Económica e Monetária e a União Política.