A 20 minutos do final de “O Sol do Futuro” (filme de 2023, de Nanni Moretti), Giovanni, um idealista e impetuoso realizador a braços com uma tripartida crise artística, ideológica e conjugal, interpretado por Moretti num estreitamento da linha que delimita ficção e realidade, encontra-se sentado à mesa com a produtora e recente ex-companheira. Ponderações sobre o desgaste da sua relação e a perda de financiamento para o filme que se encontra a realizar imiscuem-se e atropelam-se. Interrompe-o o extasiado veredito do grupo de investidores sul-coreanos sobre o guião, a última esperança que tem, o filme, de ver a luz do dia. Agrada-lhes particularmente o suicídio na cena final: “tão dramático e sem esperança. É um filme sobre a morte da arte e do comunismo.”
Nanni Moretti e o horizonte comunista como antídoto da direita e do “voto útil”
