Morreu-nos a Odete

Morreu-nos a Odete e isso não é dizer pouco. Membro do PCP desde o ano da Revolução de Abril, que nem semente vermelha que veio para crescer e fazer crescer, deu um corajoso contributo para a luta do povo português.

Tornou-se, enquanto deputada comunista, num rosto e numa voz incontornáveis do Partido da classe trabalhadora. A generosidade e frontalidade com que enfrentava os adversários políticos e ideológicos impunham o respeito que apenas as palavras sobre a crua verdade da vida de cada um conseguem.

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Kissinger, um sacana sem lei

Mother Jones illustration; Fairchild Archive/Penske Media/Getty; Alexis Duclos/Gamma-Rapho/Getty; Boris Spremo/Toronto Star/Getty

Não há mal que sempre dure, nem as figuras que o preconizam são eternas. Morreu Henry Kissinger, famigerado belicista, criminoso de guerra, responsável por várias das maiores atrocidades da história contemporânea, que se contam em milhões de mortos. Os portões férreos do inferno estão franqueados para o receber.

Kissinger, como Secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, foi mentor, estratega e executador das políticas externas norte-americanas, que resultaram numa mortandade de milhões pelo mundo fora.

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A crónica de um (anunciado) Inverno argentino

A estupidificação de parte das lideranças mundiais tem resultado, sobretudo, de dois processos distintos: o esvaziamento da social-democracia na construção de soluções capazes, face à heterogeneização de um mundo convulso, social, política e economicamente falando, e à mediatização, carregados em ombros pela imprensa, dos movimentos, e de seus líderes, que agrupam em sua órbita as correntes políticas populistas e fascistas.

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O Chão Salgado de Marcelo e o Azar dos Távoras dos Portugueses

Ontem à noite, Marcelo saiu do Palácio para um passeio a pé por Belém. A semana tinha começado mal – com notícias que davam conta de suspeitas graves de pedidos de cunha –, a que acresceu uma inenarrável conversa com um diplomata palestiniano, da qual saiu pior que chamuscado. Mas agora, ao que tudo indicava, a semana terminava da melhor forma, até pela oportunidade de secundar as situações anteriores. Costa e o governo PS caíam com estrondo, ainda por cima num caso que envolvia o ministro Galamba, que tinha sido «demitido» por Marcelo mas mantido por Costa.

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A torneira, o interruptor e o azul do mar

Fotografia de Mohammed Zaanoun, fotojornalista palestiniano.

Já lá estava gente, já lá viviam pessoas. É isto que os engravatados do telejornal nunca dizem, tentando convencer o espectador de que o início do massacre em curso data do passado 7 de Outubro. Já lá existiam famílias, sonhos e vontades. É o que nunca ouvimos da boca dos finos fantoches do imperialismo, nos estúdios de Queluz de Baixo ou nas costas quentes de Tel Aviv. Já lá conviviam templos, culturas e olivais. Já lá nascia vida. Já lá se moía, há muito, o grão de bico, com um dente de alho, tahini e sumo de limão. Já lá se havia edificado um povo inteiro que, hoje, resiste à barbárie sionista. Os sonhos foram ceifados, os olivais, abatidos, e a Terra, que há muito não é santa, ocupada ilegalmente por essa vesana e assassina ideia de Israel, Estado genocida erguido sobre enxurradas de sangue palestiniano. Mas, à pretensa agência imobiliária divina, nada disto interessa: um livro místico com 2500 anos assegura, num diálogo entre Deus e Abraão, que a terra prometida não é para qualquer um.

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Margarida Tengarrinha, a camarada que foi quantas pessoas fossem precisas (1928-2023)

“[…] não há futuro sem memória, que da memória das lutas do passado depende a nossa capacidade de resistência e de construção de todas as novas lutas, a memória aparece como uma espécie de dever, não só ético (ou até afectivo), mas sobretudo político” – Margarida Tengarrinha, “Memórias de uma Falsificadora: A Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal”, 2018.

Mr. Trocos

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.

Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.

Carlos Moedas expressou, no passado dia 5 de outubro, a vontade de assinalar o dia 25 de novembro, o dia que consumou a contrarrevolução. O que ele não disse foi que, mais do que assinalar esta data, pretende, sim, menorizar Abril e as suas conquistas, bem como tudo aquilo que para o nosso povo representou. Os objetivos de Moedas são bem mais do que festivos, são políticos e partidários.

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