Autor: António Santos

Não há unidade – nem republicana, nem democrática nem ocidental

Esta é mesmo das raras fotografias que vale mais que mil palavras. Os líderes das chamadas “democracias ocidentais” desfilaram juntos pelas ruas de Paris, unidos contra o terrorismo e em defesa da liberdade. Juntos, mas longe de toda a a gente, numa rua deserta e cercados de seguranças, porque a segurança deles termina onde começa a nossa liberdade. A fotografia não é só poderosa porque nos mostra Hollande do outro lado do espelho e a encenação por detrás das câmaras, mas é igualmente a demonstração sobrante do que eles querem dizer quando falam de liberdade de expressão: uma farsa. Afinal, a manifestação deles era como a sua liberdade, só para alguns.

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Grécia – Há demasiado tempo do mesmo lado do sol

Como sucede sob o sol ao orvalho das manhãs, à medida que se aproximam as eleições gregas, o SYRIZA vai-se derretendo em garantias de respeitabilidade, promessas de estabilidade e averbamentos de moderação política. Sob intensa pressão do poder económico e financeiro, o radicalíssimo diácono da esquerda helénica esforça-se agora em apaziguar os mercados que saqueiam o seu país: “nós nunca fomos comunistas” juram à imprensa estado-unidense; “só queremos salvaguardar a estabilidade da zona euro” imploram aos agiotas europeus; “somos a melhor garantia de estabilidade financeira” adiantam ao capitalismo.

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Quem é Duarte Marques – Da vírgula ao ponto final

No princípio era a vírgula, e a vírgula estava mal posta. Depois, Duarte Marques criou o erro ortográfico, a parolice e a incultura e o PSD escolheu-o para a Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República. Sobre a educação, ciência e cultura de Duarte Marques já tudo foi dito: no Público chamaram-lhe analfabeto, no Inflexão corrigiram-lhe os erros, no Malomil encostaram-no à parede, no Aventar deram-lhe dois pares de tabefes e até o Corporações achou por bem chamar-lhe “bronco”.

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PS, CDS-PP e PSD: cúmplices da tortura da CIA

Foi hoje divulgado no Senado dos EUA um extenso relatório que dá conta do recurso sistemático à tortura pela CIA. A partir de hoje não restam margens para dúvidas: os 728 prisioneiros da CIA que oficialmente passaram por Portugal com a cumplicidade dos governos PS, CSD-PP e PSD foram selvaticamente torturados.

Passando os olhos pelo relatório ficamos a saber que os detidos eram “arrastados pelo corredor enquanto eram esbofeteados e esmurrados”, “alimentados e hidratados pelo recto sem qualquer necessidade médica”, submetidos a centenas de simulações de afogamento, “impedidos de dormir durante semanas”, “mantidos na escuridão absoluta agrilhoados a um canto e com música em alto volume”, “submetidos a banhos gelados”, obrigados a suportar “ameaças de violência física e sexual aos seus filhos e mulheres”, “obrigados a usar fraldas”, “torturados com insectos”, “forçados a aguentar durante horas posições desconfortáveis”, submetidos à tortura da estátua “durante mais de 40 horas”, entre muitos outros tipos de tortura psicológica e sexual.

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O corpo de John Brown

Há precisamente 155 anos John Brown subia ao cadafalso na Virgínia por liderar a guerrilha anti-esclavagista que, ao contrário do movimento abolicionista burguês, defendia que a insurreição armada era o único caminho para a libertação.

Isolado mas idolatrado pelos escravos, amado mas mal armado com espingardas antiquadas, as chamadas “bíblias de Beecher”, a revolta que Brown encabeçou foi facilmente sufocada e representou a derradeira rebelião armada dos escravos nos EUA. O subsequente desenrolar da História outorgou aos esclavagistas do sul e aos seus financiadores do norte a gestão, pontuada por cedências, do fim da escravatura e da perpetuação do racismo. Na ausência de uma revolução anti-esclavagista, os negros foram historicamente destituídos da agência da sua própria libertação e confinados a reivindicar ao poder sem reivindicar o poder. Há claro, excepções: Fred Hampton, Malcolm X e, claro, John Brown, que, entre muitos outros, conheceram destino semelhante: pena de morte. Para todos eles sobraram canções como “O Corpo de John Brown” que reza assim: “O corpo de John Brown apodrece numa cova / mas o seu espírito continua a marchar”.

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Quando a corja topa da janela

Para além de entronizar António Costa como Mário Soares reencarnado e novo faraó do partido, todo o congresso do PS foi jogos de luzes, teatros de sombras e sinais de fumo. Um rolar em falso sobre a política para dar uma cambalhota populista e acabar estatelado no marketing. Afinal, o poder não espera sentado. Sócrates ainda mal chegou a Évora e, como dizia o Zeca, já a corja topa da janela.

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A liberdade de empresa e o dever de enformar*

Hoje deparei-me com a fotografia à esquerda que, muito embora valha mil palavras, dá novo sentido a um artigo que há não muito tempo escrevi.

Uma vez A. J. Liebling, gigante do New York Times, escreveu que a «a liberdade de imprensa só é garantida a quem é dono de uma imprensa». Em Portugal, o processo de acumulação e concentração de capital ergueu no lugar do jornalismo que Abril inaugurou, uma máquina de manutenção, reprodução e legitimação da ordem económica e social estabelecida.

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Nem todo o visto é d’ouro nem toda a imigração é barata

O ex-director do SEF está preso. Preventivamente, ou seja, à guisa de evitar a fuga e não de punição por crimes que, pelos quais e até à data, não foi declarado culpado. E resulta pouco verosímil que preso permaneça, já que a medida de coacção aplicada pelo juiz de instrução criminal admite a possibilidade de substituir o estabelecimento prisional pela pulseira electrónica.

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