Autor: Bruno Carvalho

Tirem as mãos da Venezuela

Vivi na Venezuela meio ano e regressei três vezes em diferentes períodos. Estive em 2008, em 2010, em 2015 e há dois meses atrás. Portanto, duas vezes com Hugo Chávez e duas vezes com Nicolás Maduro. Percorri diferentes regiões do país, frequentei aulas na Universidade Central da Venezuela, em Caracas, assisti a diferentes actos eleitorais, participei em manifestações chavistas, vi protestos da oposição, conversei com comunistas, socialistas, trotskistas, anarquistas, social-democratas, neoliberais e fascistas, dei-me com indígenas, mestiços, africanos, europeus e árabes, conheci gente pobre e gente rica, estive com embaixadores, ministros, deputados e autarcas, convivi com militares, sindicalistas e empresários. Visitei as zonas ricas de Caracas com os seus apartamentos luxuosos e vivendas abastadas cercados de arame electrificado, câmaras de videovigilância e guardas armados. Passei muito tempo nas favelas construídas nas encostas das montanhas que cercam a capital da Venezuela.

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«A Cova da Moura é uma prisão de grades invisíveis»

No dia 5 de fevereiro de 2015, vários jovens, reconhecidos mediadores deste bairro da Amadora, membros da associação Moinho da Juventude, dirigiram-se à esquadra da PSP para saber da situação de Bruno Lopes, detido nessa tarde. Entre eles estava Flávio Almada, conhecido como ‘LBC’. Foram algemados, espancados e detidos. “Não sabem como odeio a vossa raça. Quero exterminar-vos a todos desta terra”, disse-lhes um dos agentes. É o que consta da acusação do Ministério Público contra 18 polícias que já foram afastados daquela divisão e que estão no banco dos réus acusados dos crimes de tortura, sequestro, injúria e ofensa à integridade física qualificada, agravados pelo ódio e discriminação racial.

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O BE defende um golpe militar na Venezuela?

O Bloco de Esquerda publica um artigo inenarrável contra a Venezuela que defende um golpe militar, assinado por Tomás Marquez, que repete o argumentário utilizado pelos governos, partidos de direita e órgãos de comunicação social alinhados com o imperialismo. Vamos desmontar, ponto por ponto, uma posição que se inscreve na linha histórica do BE de se orientar na sua reflexão sobre política internacional por aquilo que é dito por Washington ou pela União Europeia.

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Afinal, quem matou Luna Borges?

Há uma revolta que ferve nas veias quando vemos que há quem durma placidamente na sua cama indiferente às consequências dos seus actos. Fixem bem este rosto. Não é um número para acrescentar a qualquer estatística. É uma menina e chama-se Luna. Morreu ontem num hospital no interior da Venezuela.

O pai, meu amigo, desesperado, bateu a todas as portas para conseguir os medicamentos necessários para evitar que o coração da menina de um ano e sete meses deixasse de bater. Hoje, a raiva que Gustavo Borges expressa é a de um povo que resiste a uma agressão à que ninguém dá atenção porque jornais, rádios e televisões tratam de tergiversar o que se passa aqui.

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Em catalão, diz-se llibertat

“A polícia espanhola chegou”. Imediatamente, uma muralha de mulheres e homens dispõe-se para impedir que levem as urnas. Depois de uma violenta carga policial, as forças da repressão conseguem invadir a assembleia de voto de Sant Iscle. Quando entram no Casal de la Gent Gran deparam-se com um cenário que não esperavam. Dezenas de pessoas jogam dominó como se fosse um dia normal e continuam a fazê-lo entre cassetetes, escudos e capacetes. Não há urnas. Não as encontram em parte alguma e decidem partir. Os jogadores de dominó abraçam-se. Os habitantes de Sant Iscle abraçam-se. Meia hora antes, alguns deles haviam fugido com as urnas e os votos por uma porta secreta e esconderam-nos num nicho do cemitério. Depois, trouxeram todo o material de volta e o resto da população pôde votar. Pois é. Nenhuma brutalidade policial e nenhum Estado repressivo podem esmagar a vontade de um povo que decidiu o seu caminho.

CDU, a força dos trabalhadores e do povo

Imaginem alguém que nada contra a corrente. Imaginem-se a correr em terra batida contra alguém que vai num tapete rolante. Imaginem uma equipa que joga sempre fora com um árbitro comprado pelo adversário que leva vários golos de avanço e que tem um altifalante que o elogia durante 90 minutos. Esse altifalante são os jornais, rádios e televisões. É assim qualquer campanha em que participa a CDU. Seja por omissão, desvalorização ou manipulação, os candidatos e os programas desta candidatura estão sempre arredados no último lugar da agenda mediática.

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As tranças de Maria

“Se passeares no adro no dia do meu enterro diz à terra que não coma as tranças ao meu cabelo”, cantam por vezes as mulheres da região de Lafões. Com uma das mais bonitas tranças que vi até hoje, dias antes de morrer, a irmã quase nonagenária da minha avó contou-me a história da deserção do meu bisavô. Acamada e ensombrada pela cegueira num lar transmontano, desdobrou a memória e falou do rapaz que andou clandestino durante meses pelas montanhas do Larouco. Não fazia ideia de quem era Lénine e do que havia sido a Conferência de Zimmerwald mas o pastor e contrabandista, que acabaria por morrer sem nunca ter visto o mar, decidia há cem anos adiar a morte evitando uma guerra que não lhe dizia nada.

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O meu primo disse que…

Emigrante barricado com arma ameaçou matar a mulher, diz a TVI. Às vezes, nem tudo o que os portugueses fazem lá fora é bom. E nem precisamos de dar o exemplo do colonialismo, do Durão Barroso e do Duarte Lima.

Por estes dias, a propósito da Venezuela, volta a tendência para se dizer que alguém só pode falar de um acontecimento político em determinado sítio se lá se tiver estado ou se se conhecer alguém desse lugar. Se não se viveu na Venezuela nem se tem um primo na Venezuela parece que não se tem direito a opinar. Isso tem sido usado como argumento para defender que ali há uma ditadura. Porque um primo qualquer disse, claro.

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