É mais um episódio a cair como “chicote feudal” no lombo do trauteio direitista da suposta iniquidade e suposto arcaísmo da luta de classes. De facto, está mais que provado, a negação e oposição organizada, corporativa e orquestrada à luta de classes como motor das sociedades e caminho da emancipação e libertação da humanidade, não é nem nunca foi feita por considerandos económica, histórica, ideológica e filosoficamente sustentados; quem a nega não o faz por ciência; fá-lo por medo. E quando a necessidade da sua efectivação se afigura minimamente provável, ou plausível, aos olhos de quem explora, como manda a necessidade natural de auto-defesa, nada lhes resta senão cerrar dentes e afiar garras. E é assim que, de tempos a tempos, lá vemos os Saraivas desta vida soltar aqui e ali indisfarçados laivos de incontrolável raiva, face àqueles que pretendem dominados e explorados para todo o sempre.
Autor: Ivo Rafael Silva
O futuro do Brasil não passa pelo Parlamento
Não houve como não parodiar e rir com as desgraçadas intervenções e justificações dos deputados brasileiros na famigerada votação do «impeachment». «Impeachment», diga-se, cujo verdadeiro equivalente de sentido é – convém memorizar – «golpada». E se algum dia lhe disserem o contrário não acredite, é mentira. Palavra de tradutor/intérprete.
Tudo aquilo naquela tarde/noite roçou o irreal, o ridículo. O problema é que o ridículo, no Brasil como noutras partes do globo, pode de facto ser muito perigoso. Sobretudo se tivermos a noção de que passa também por aquele leque de “decisores políticos” muito da vida de um dos países mais populosos do mundo. País esse onde grassa ainda uma grande disparidade social e económica, uma sociedade de alguns ricos e de muitos muitos milhões de pobres.
O estrebuchar bafiento de Cavaco
Estrebuchando até ao último suspiro ao sabor de antigas amizades, embalado e motivado por afinidades partidárias e ideológicas, e fazendo tudo isto com aquele seu típico travozinho de pessoa vingativa e provocatória, Cavaco Silva continua a distribuir umas quantas honrarias públicas por uma casta de gente que nada de positivo deu ou trouxe à democracia ou ao país. Muito pelo contrário. Há poucos dias, assistimos à entrega de medalhas a ex-ministros dos governos de Passos Coelho e Paulo Portas, não nos poupando Cavaco ao desprazer e nojo, para não dizer pior, que foi vermos um suposto “garante” da Constituição premiar aqueles que, nos últimos anos e de forma sucessiva e reiterada, mais atentaram contra a lei fundamental do Portugal democrático.
Para populismo, populismo e meio
Pela boca morre o peixe, pelos actos – ou pela falta deles – morre o populista. Como qualquer inveterado militante do CDS, gente sempre muito sonora na demagogia e no ataque fácil, cai-lhe como uma luva estar isolado no topo da irresponsabilidade e da pura malandrice política. «Nuno Melo ocupa o último lugar dos portugueses na lista de participações em votações nominais nos plenários do Parlamento Europeu». Este campeão das «baldas», que deve estar quase a ser vice-presidente do seu partido, prefere andar em passeatas de campanhas eleitorais pertinho de casa do que estar a trabalhar, como devia, no lugar e na função para a qual fora – infelizmente, diga-se – eleito. Porque no PE não falta trabalho, o que falta é gente com vontade de trabalhar. Porque o mal do PE não é quem trabalha, é quem vive de dinheiros públicos e anda “de costas ao alto pelos cafés”. É que para populismo, populismo e meio.
Titanic Amarelo
Todos sabemos a razão pela qual a UGT foi criada. Todos sabemos qual o papel histórico desta auto-proclamada “central sindical” no processo contra-revolucionário. Sabemos que espectro político e financeiro a alimentou, sabemos a quem ela serviu e quem dela tirou vantagem. Também sabemos que durante anos teve um líder que garantiu e assegurou, mesmo no meio de algumas e abafadas dissonâncias internas, a sua fidelidade à causa do patronato, disfarçada sob o nome de “sindicalismo” ou de “sindicatos”. Não foi por acaso que, nos últimos anos, a UGT recebeu elogios vindos directa e abertamente de PSD e CDS, de Passos e Portas, numa conjuntura em que se verificou a mais grave ofensiva contra trabalhadores desde o 25 de Abril. Tais elogios da direita e da extrema-direita, que seriam e são um vitupério para qualquer trabalhador consciente da realidade, foram, para a UGT, um prémio e um reconhecimento absolutamente justo. A política da ajuda aos bancos e de empobrecimento dos trabalhadores muito deve à UGT e aos seus dirigentes. Sem eles, esta desgraça social a que PSD/CDS continuam a chamar «política de sucesso», não teria sido objectivamente possível.
A «Resolução» de Passos no PSD
Banif. Pois claro. Tinha de haver uma muito boa razão para o gangue direitista não querer largar o poder tão cedo. Tinha de haver ali qualquer coisinha a «salvaguardar» a todo o custo, mesmo estando os dois partidos em minoria na Assembleia da República. Tinha de haver lixo – e que lixo! – debaixo do tapete. Havia que continuar a esconder o crime e a abafar o odor a cadáver com mais quatro anos de PAF. Tudo debaixo da total complacência e “cooperação institucional” de alguém que, sem dúvida informado em detalhe desta tramoia – Cavaco Silva – tem sido arredado das culpas e do leque de responsáveis pelo desastre que os contribuintes, mais uma vez, vão ser chamados a pagar. Será uma pena se ninguém o chamar, ou se ninguém o interrogar formalmente, na anunciada e mais que justificada comissão de inquérito ao caso Banif.
Marcelo: Som que se propaga no Vácuo
O candidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa deu por estes dias uma entrevista à SIC que teve, aparentemente, desde logo, o condão de não ter perguntas previamente combinadas. Não havia, aparentemente, temas “escolhidos” nem guião de conversa como acontecera noutros carnavais, onde de resto Marcelo “nadava” como outrora nas águas do Tejo. E, por isso, aconteceu o esperado: quando confrontado com aquela que é a sua experiência política ou com o seu passado partidário, Marcelo tropeçou em si próprio e conseguiu uma proeza que ultrapassa as barreiras da ciência e as leis da física: propagar som… no vácuo. Mas já lá vamos.
O Governo-Zombie
Foi hoje conhecido o tal “governo sólido” que Passos Coelho prometeu para os próximos quatro anos. E há, de resto, uma mão cheia de novidades. Não nas vontades, nem nas políticas, evidentemente, mas sim na simbologia que carrega quer a continuidade de uns, quer a entrada de outros. De “boas” referências do passado, a novas e redobradas garantias a mortos-vivos do governo anterior, esta “lista vip” de ministros e ministérios é bem ilustrativa da “ameaça” que seria ter esta direita durante mais quatro anos no poder. Após toda uma legislatura de uma política de monstruosidades, eis-nos agora perante um governo-zombie, que tem essa mais-valia anunciada de se esvair em cinzas já no próximo nascer do sol.