Autor: Ricardo M Santos

UGT a voar baixinho

Foi conhecida ontem a decisão do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC)de desfiliar-se da UGT. O SNPVAC era um dos sindicatos com maior peso dentro daquela central e, após referendo, os associados decidiram deixar a estrutura liderada por Carlos Silva. Recordemos que Carlos Silva, antes de ser eleito representante de uma estrutura que alegadamente defende os interesses dos trabalhadores, foi pedir autorização a Ricardo Salgado, ex-Dono Disto Tudo, para pertencer à direcção daquela organização. E ficou desde logo claro a quem Carlos Silva presta contas.

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Diabética, invisual e com menos 70 euros no fim do mês

Vamos chamar-lhe Amélia. Eu gosto do nome e, nestes casos, convém, para já, salvaguardar alguma privacidade. Trabalhou e, como tal, chega agora à idade da reforma. Com a vantagem de nunca se ter esquecido de pagar qualquer contribuição à Segurança Social. O certo é que, há quase 10 anos vítima da diabetes, acabou a receber uma pensão de invalidez por ter ficado cega. Recebia a fortuna de 567 euros mensais, incluindo já os 100 euros de complemento de dependência. Agora, que continua dependente mas passa à condição de reformada, irá  receber 497 euros, deixando de ser inválida, segundo a Segurança Social, para passar a ser só pensionista (deixando de ser pensionista por invalidez para ser pensionista por velhice).

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A crise da dívida

Em 1999, quando Passos Coelho iniciava a sua caminhada de ignorância em relação aos pagamentos à Segurança Social, eu estava a um ano de entrar na redacção de um jornal para o meu primeiro trabalho a sério, depois de passar pelos transitários – era praxe, por aqui – e por outras aventuras relacionadas com o mundo do futebol. Em Outubro de 2000 cheguei ao sexto andar do entretanto assassinado O Comércio do Porto e apaixonei-me por aquilo tudo. Tive de “colectar-me” e comecei a passar recibos verdes. Ao fim de um ano, acabou a isenção e era preciso começar a pagar a à Segurança Social.

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Liberdade selectiva

O Filipe Guerra já alertou aqui para o silenciamento quase total de um Encontro Nacional do PCP, em Loures, que juntou mais de 2.000 pessoas. Não é novidade, é certo, mas surge num momento curioso da televisão pública, que tem neste momento dois enviados especiais: um na Ucrânia, onde são entrevistados neo-nazis como lutadores pela liberdade, e outro em Cuba, onde, ontem mesmo, se falava, do controlo dos órgãos de informação pelo Estado.

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Eles moem e matam

“Eu vou dar-lhe os números”. Foi desta forma que Paulo Macedo respondeu numa audição parlamentar, pedida pelo PCP, sobre o estado das urgências. O agendamento teve de ser potestativo para que Paulo Macedo se dignasse a ir ao Parlamento dar explicações aos deputados. De outro modo, continuaria calado, mudo, que é como eu o ouço quando vem com as frases feitas que ouvimos todos os dias do gangue de criminosos que nos governa. “Eu vou dar-lhe os números”, disse ele. Entretanto, as urgências continuam caóticas. Os tratamentos para o cancro em modo de espera e o medicamento para a hepatite C está a ser sonegado a cerca de 4.000 pessoas que dele necessitam para sobreviver.

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O mata-oito – até agora

Há 14 dias, escrevia-se aqui que Paulo Macedo continuava sem se demitir, após duas mortes em salas de espera de hospitais. Hoje, o número chegou a oito e continua a não haver notícias de demissão. Nem notícias do ministro, que apareceu há cerca de uma semana a dar umas desculpas esfarrapadas, em jeito de “vamos apurar” e “vamos investigar”. Esta espécie de país está assim. A morrer aos bocadinhos, à espera, ao abandono, às mãos de criminosos, às vontades que já não são obscuras – são clarinhas como água – de um bando. Não é um gangue porque a intimidação é mais subtil e surge através de taxas moderadoras que de moderadas têm quase nada.

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Que idade tem a tua fome?

“Um tostãozinho para a cascatinha!, Um tostãozinho para a cascatinha!” Era assim que, quando era miúdo, por duas ou três vezes – não mais – ali na Rua Óscar da Silva, em Leça da Palmeira, eu e os meus vizinhos abordávamos as pessoas que passavam, com um santo qualquer comprado à pressa no Senhor de Matosinhos. Não era empreendedorismo infantil, era só mesmo para ganharmos uma moedas, que serviriam para trocar por chicletes Gorila na loja da Ana Maria. A cascata nem era elaborada. Era um cartão pousado no passeio junto à entrada da ilha, umas ervas para enfeitar, se calhar, que íamos buscar ao quintal do Guarda Fiscal. Fazia-mo-lo pelo doce. As chicletes eram mesmo boas. Duravam pouco mas dava para nos alegrar os dias.

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Quatropães

Na vila de Quatropães cada um vive como pode. Aqui, quando se sai de casa a molhar os pés no mar, não se vive, sobrevive-se. No calor da revolução ocorrida há 40 anos, Quatropães cresceu em tudo menos nas fronteiras. Havia trabalho e pão e cultura; escolas e hospitais; mais fábricas e exércitos de mulheres e homens, com os filhos pela mão à espera do toque do sino que chamava para a entrada da escola, a que se seguia o toque de entrada na fábrica.

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