É inegável a força transformadora da palavra, do argumento e do diálogo. É ela o motor revolucionário da formação, do conhecimento e do progresso. Seria interessante se à semelhança da Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) para fauna e flora, tivéssemos tal ferramenta para entender o estado de conservação de palavras e, sobretudo, dos conceitos que por entre elas se alevantam, no centro do discurso e da intervenção política.
Autor: Alexandre Hoffmann
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Se as ferramentas e os conceitos marxistas de análise e ciência política, social e histórica vos são distantes, é então fácil crer que os comunistas fazem futurologia da boa: “esta maioria absoluta deixa o PS com condições de levar mais longe o seu compromisso com a política de direita e manter a sua opção de subordinação aos grandes interesses económicos que dominam o país“, alertou o PCP após o resultado das últimas legislativas.
Assim, a turbulência moral, ética e com implicações, alegadamente, jurídicas e criminais do governo, em simultâneo com a promoção da política de empobrecimento geral do país, das famílias e dos trabalhadores, são questões de fundamento ideológico e frequentemente coligidas pelas classes governantes socialistas, mas que não constituem propriamente elementos novos face àquilo que caracteriza a governação burguesa, independentemente da sua proveniência do espectro político.
Morte, a Santa Redentora
A inevitabilidade da circunstância não determina o Homem e a sua natureza, – se assim fosse, o mundo seria um lugar bem pior, pela fatalidade aparente da exploração. O Homem salva-se da sua própria circunstância por determinações de consciência e de consciencialização de classe, o Homem perpetua-se pelos seus posicionamentos e opções políticas, pelos caminhos que decide trilhar e pelas escolhas que, de forma livre, decide tomar. Independentemente do quanto se possa dobrar a narrativa, a verdade é o cru e duro reflexo, mas, sempre justo, da realidade e do passado; para o bem ou para o mal, os homens e as mulheres são a sua história e a memória dos seus actos.
Assim se faz um pobre
Com cara fechada sobre uma solenidade que denuncia o compromisso umbilical e político com os senhores da alta finança, lançou assim António Costa, nossa nova Dona Abastança, o anúncio de várias medidas paliativas que passam certidão de óbito a qualquer laivo de socialismo desta maioria parlamentar.
Numa altura em que se percebe que a inflação e a carestia de vida só paulatinamente voltarão a valores considerados dentro da normalidade, cenário confirmado por Mário Centeno, governador do Banco de Portugal e ex-ministro das finanças de António Costa, as medidas anunciadas pelo governo, de carácter extraordinário e temporário, não configuram um conjunto de soluções e respostas ao que enfrentam o povo e os trabalhadores portugueses. De facto, o anúncio resulta, em larga medida e em boa análise, num financiamento dos lucros do grande capital e dos sectores estratégicos, nomeadamente os energéticos e agro-alimentares, através do erário público, subsidiando de forma extraordinária o poder de compra dos trabalhadores, mantendo intocável a posição de privilégio económico e fiscal destes grupos.
Palestina vencerá!
Pela sombra do eclodir de vários cenários de conflito e tensão da geopolítica mundial, Israel prossegue o genocídio do povo palestino perante uma assombrosa indiferença da comunidade internacional. Os últimos dias foram marcados pelo recorrente bombardeamento de Gaza por parte da força aérea israelita, que provocaram dezenas de mortos, crianças incluídas, e muitos mais feridos. Aos olhos da nova ordem mundial, fascista e fascizante, que se esquece que para existir uma ordem mundial é condição inerente que haja também um planeta, bombas que caiam em solo europeu são más e cruéis, as que caiam longe do seu conceito racial e ideológico, são democracia e progresso.
Quo Vadis, Europa?
42 mortos, centenas de feridos e o silêncio absoluto.
É este o resultado da cooperação securitária entre as monarquias facínoras de Espanha e Marrocos que à porta do enclave de Melilla concretizaram em sangue e vida imigrante as políticas da União Europeia. Um episódio mais a juntar à crise humanitária do caldo de carne do Mediterrâneo e à infame e mortífera colaboração entre Espanha e Marrocos no que toca a dar fim a quem por intervenção directa e indirecta do imperialismo procura dar um sentido de dignidade à vida.
A Ferro e Soro
Só aos mais distraídos surpreenderá o cataclismo pelo qual passa o Serviço Nacional de Saúde (SNS), pois é a sua morte anunciada a principal premissa de um compromisso político para a área da saúde da nossa social-democracia, agora de mãos dadas com um liberalismo económico e inorgânico, sedento de lucro nas mãos dos privados.
O SNS remonta a sua fundação ao ano de 1979, onde reunidas as condições políticas e sociais se concretizou então uma das conquistas maiores da revolução: um serviço de saúde universal, geral e gratuito.
Fronteiras de Abril
O discurso camaleónico, que se alapa mediante a circunstância e pouco sobre a realidade, é já a marca d’água de Marcelo Rebelo de Sousa. Soará familiar a todos, num ou noutro momento de intervenção pública, o Presidente da República exultar o facto de Portugal ser um dos países do mundo com as fronteiras mais antigas e geograficamente estáveis. Não obstante, o que ontem era verdade hoje já não o será necessariamente, ou antes o contrário. Afirmou recentemente, Marcelo Rebelo de Sousa, que as fronteiras portuguesas “já não são o que eram, e hoje passam por África, pelo Golfo da Guiné, pelo Atlântico, pela fronteira de vários países da União Europeia, da NATO com a Ucrânia”. Entendemos então que as fronteiras e outras noções são agora concepções abstractas, subservientes a estados de espíritos e a afectos políticos.