“O Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, anunciou esta terça feira na Comissão Parlamentar de Cultura que a Proposta de Lei do governo que visava a criação de um Estatuto do Bailarino da CNB não será entregue na Assembleia da República. Este anúncio surge depois do pré-aviso de greve entregue ontem pelo CENA e que foi aprovado por esmagadora maioria em plenário de emergência dos trabalhadores da CNB.
Por agora, e porque já durante este processo a palavra dada pelo gabinete do SEC não foi cumprida, o pré-aviso mantém-se válido. Assim que se confirme que esta proposta não avança, será natural que a greve seja desconvocada.
Desde que sou gente que ouço dizer que os bailarinos estão em luta por um estatuto profissional próprio que reconheça as suas especificidades, principalmente ao nível físico, já que como é fácil de entender, o corpo de um bailarino de 40 anos que começou a dançar aos 6, já não tem as mesmas condições do que tinha aos 20 anos e, como tal, já não pode desempenhar as suas funções da mesma forma. Já para não falar das lesões. No fundo um corpo de bailarino não é muito diferente do corpo de um atleta de alta competição, a diferença é apenas a sua aplicação.
Escrever em tempos de cóleras e outras pestilências
Parece que, na Grécia antiga, ir ao teatro era tão importante como um dever de cidadania. Por isso o estado atribuía subsídios para que ninguém faltasse. Dizia-se que os professores ensinam as crianças e os poetas os adultos.
Hoje o Estado facilita imenso o estado a que isto chegou. Esta tendência para a carneirada, para o seguidismo, esta cultura do facilzinho, da imitação, da repetição, da réplica, da náusea, da recapitulação, do volta atrás e toca o mesmo, do lugar-comum, do óbvio, do estafado, das descobertas da pólvora…
Tal afirmação pertence a Sérgio Silva Monteiro e poderia passar despercebida na alarvidade discursiva da cartilha neoliberal dominante na nossa sociedade (juntamente com afirmações idênticas sobre a “venda” do Novo Banco por Stock da Cunha) não fosse este senhor o Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações. Não entrando na eficácia desta maravilhosa técnica de vendas (só imagino os compradores a esfregarem as mãos de contentes!) assunto sobre o qual pouco me interesso, não deixo de ler na afirmação o lema da economia política vigente do actual governo.
Quis o destino que ontem, dia seguinte à Marcha da CDU, fizesse uma viagem solitária de automóvel durante umas três horas. Nessas alturas, para lá do som das colunas, o diálogo é do umbigo com o cérebro, e a páginas tantas pergunta o meu umbigo ao meu cérebro: olha lá, tu que ontem foste à Avenida, só deves ter visto velhos por lá, não? Assertivamente, responde-lhe o cérebro: não e temos os olhos como testemunha!
Portugal não é um país com muita população. Assim, os grandes iniciativas de massas, com dezenas e centenas de milhares de pessoas são fenómenos raros e por isso mesmo alvo de grande atenção mediática. Num breve exercício de memória, podemos recordar grandes acontecimentos e celebrações desportivas, manifestações do movimento sindical e de outros movimentos sociais, alguns eventos religiosos, santos populares, grandes concertos e espectáculos musicais com artistas internacionais de renome. Haverá mais um ou outro exemplo, mas não muitos mais. E, com excepção das grande manifestações sindicais, estes acontecimentos são alvo de grande divulgação e atenção mediática, antes, durante e depois de terem lugar.
A Marcha Nacional A Força do Povo, ocorrida ontem e promovida pela CDU, segundo a sua organização teve a participação de cerca de 100 mil pessoas. Não discutirei este número, não tenho essa intenção ou objectivo, pois, tendo participado nesta Marcha, em nenhum momento consegui ver o seu início e o seu fim devido à sua magnitude. Mais importante do que a precisão científica de um número final, importa sublinhar a sua dimensão humana e impacto político.
Eu gostaria de referir que sou de uma região longe de Lisboa. Onde o PCP não tem a implantação que precisava para melhor intervir, e onde a CDU não tem nenhum deputado ou sequer vereador eleito, tão pouco qualquer maioria em Junta de Freguesia. E desta região, saíram cerca de 700 democratas para a Marcha. Portanto, fica claro que, não sendo esta Região uma excepção positiva à regra, a Marcha foi uma iniciativa com muita, muita gente.
Se iniciativas desta dimensão humana são raras, com a natureza de apoio político são ainda mais raras. Nas últimas largas décadas, as únicas iniciativa de dimensão e natureza semelhante foram as marchas do PCP em 2008 e da CDU em 2009. Ou seja, a marcha de ontem foi singular e seria expectável que sob qualquer critério com o mínimo de razoabilidade tivesse uma cobertura noticiosa relevante. Mas não foi nada disso que aconteceu…
RTP empurra para a frente
O Telejornal da RTP não considerou que a Marcha fosse motivo de abertura, pelo contrário, empurrou-a para o mais tarde que conseguiu. Assim, apenas 20 minutos após o seu início veio a primeira de duas curtas peças sobre a Marcha. A ordem cronológica do Telejornal até à Marcha foi, a abrir o caso Sócrates, depois Passos sobre Sócrates, incêndio em fábrica de tintas, convenção do PS, lesados do BES, iniciativa de PSD e CDS(repescada, pois tivera lugar no dia anterior), novamente a convenção do PS(só sobre a convenção do PS foram mais de 6 minutos), e eis que, finalmente, a CDU.
As duas peças juntas, as tais que apenas ao fim de 20 minutos a RTP apresentou, tiveram os tempos somados de 3 minutos. Em nenhuma das peças houve qualquer plano panorâmico sobre a Marcha, apenas imagens focadas sobre quem estava em palco ou pequenos grupos de manifestantes.
Na segunda peça houve um breve roda-pé sobre o número de autocarros(que rapidamente saiu de imagem), nas duas peças houve 3 entrevistas a participantes, não se tendo feito qualquer referência aos números da organização sobre o total de participantes. Apenas se soube que a Marcha “reuniu várias gerações”.
Na SIC, a estrela foi a Branquinha
A SIC conseguiu fazer um pouco pior que a RTP, conseguiu ridicularizar-se ainda um pouco mais.
O Jornal da Noite da SIC também empurrou a Marcha da CDU mais para a frente, abriu com o caso Sócrates, seguiu para a convenção PS e, ao fim de 9 minutos, lá chegou uma única peça sobre a Marcha.
A primeira imagem da peça, o primeiro impacto, que a SIC dá da Marcha é a de uma cadela a beber água, seguem-se mais 40 segundos com a cadela a beber água e/ou em acrobacias rumo ao colo do dono, e ainda uma entrevista ao dono onde o telespectador fica a saber que a branquinha “é um cão espectacular que veio da rua”, dos 4 minutos totais que durou a peça da SIC, os primeiros 40 segundos foram passados nisto.
Após o destaque a Branquinha, uma imagem positiva da cabeça da Marcha, a que se seguiram diversas entrevistas aos participantes, o que não teria mal nenhum desde que não se entendesse que esses grandes planos individuais seriam instrumentais para esconder tudo o resto que se passava à volta, como de facto aconteceu. Seguindo esta linha de encobrimento, a SIC colocou em imagem na peça um momento em que o grande plano é uma Praça dos Restauradores mal composta e com a Marcha ainda por chegar.
De resto, mais do mesmo, nenhuma perspectiva panorâmica sobre a Marcha e da intervenção de Jerónimo de Sousa tivemos 31 breves segundos(a Branquinha teve 40 segundos de atenção). Nenhuma referência ainda ao número de participantes da organização, ou outros por tentativa de aproximação. O telespectador limitou-se a ouvir que foram milhares…o que conjugado com as imagens exibidas permitiria eventualmente concluir que não estariam muitos milhares.
A TVI não foi a pior
A TVI seguiu um critério semelhante ao da RTP e SIC. Contudo com algumas diferenças que é justo referir.
Devido à final da Liga dos Campeões de futebol, o Jornal das 8 começou às 19:00. Cronologicamente, a sua sequência de abertura foi(e a esta hora ainda não havia notícias de Sócrates) a final da Liga dos Campeões, o incêndio na fábrica de tintas, a convenção do PS, iniciativa de PSD e CDS(tal como a RTP, também foi repescar uma iniciativa já do dia anterior), e finalmente a Marcha numa peça de apenas cerca de 2 minutos.
A peça da TVI destaca-se das peças da RTP e SIC apenas por dois motivos, foi a única que, pelo menos, tentou dar uma imagem panorâmica que reflectisse dentro do possível a dimensão da Marcha e foi a única que citou o número de manifestantes referido pela organização. Os seus breves 2 minutos assim até nem pareceram tão maus, e terão permitido ao telespectador ter uma ideia da dimensão da Marcha.
Em relação aos jornais de Domingo dia 7, zero.
Nos quatro principais jornais generalistas de hoje, Domingo dia 7 de Junho, nenhum faz qualquer referência de capa sobre a Marcha de ontem. O Público deu a sua fotografia de capa a um “caçador de tesouros” e é o único jornal que faz uma breve, mas errónea no conteúdo, referência ao “líder do PCP”. Ao que parece no desenvolvimento da notícia d’O Público lá vem a fúria, a aldrabice e a cegueira costumeiras.
Creio que estes encobrimentos e desaparecimentos da Marcha Nacional A Força do Povo, nas várias deturpações publicadas, pelo estilo, natureza e forma, pelo método e conteúdo, não serão mera azelhice ou coincidência, falta de atenção ou de pessoal de serviço. Antes reflectem opções políticas e ideológicas dos proprietários económicos da comunicação social, ou proprietários fácticos das suas linhas editoriais, colocando-as ao serviço dos grandes grupos económicos, intoxicando e subvertendo o papel e função da comunicação social.
Quem paga, manda. Quem tem o poder, manda. E as eleições vêm aí. A CDU, o seu projecto e a sua força humana são incómodas, são para desaparecer, por forma a que tudo siga como até agora. Pensarão eles.
P.S.- a Marcha da CDU observada pela perspectiva da televisão venezuelana TeleSur aqui
P.S.2- para que não haja qualquer mal-entendido, gostava que ficasse claro que gostei de ouvir tudo o que os camaradas e amigos presentes na Marcha disseram e como disseram aos órgãos de comunicação social(as suas motivações são as minhas). Estamos na Luta!
A esmagadora maioria dos fenómenos sociais, económicos, culturais e até pessoais, são mais claros e mais bem explicados quando analisados à luz da luta de classes. Mas há alguns que saem desta esfera de análise e pertencem a algo milenar: a estupidez humana.
Isto a propósito da celebração do Dia Mundial da Criança em Portalegre. Achou por bem a câmara municipal, presidida por Adelaide Teixeira, independente do movimento CLIP – os independentes, esse milagre da evolução democrática -, e a PSP local integrar a simulação de uma manifestação nas comemorações da data. Um mini-corpo de intervenção contra um mini-grupo de manifestantes. Crianças armadas com pequenos escudos e bastões a serem atingidas por bolas de papel que simulam pedras da calçada arremessadas por outras crianças.