Autor: Ricardo M Santos

Este lixo que nos asfixia

Andar pelas ruas é, nestes dias, um exercício de coragem. E não estou a falar do mau tempo primaveril que fez o favor de levar tudo e mais alguma coisa pelo ar. É do ar que se respira nas ruas mas nem é da poluição. É do lixo. Não o da Moody’s, que disse recentemente que já somos menos lixo do que éramos. É do outro lixo. A forma como nos tratam todos os dias, as conversas com amigos e menos amigos. Isto está bastante irrespirável e começa a dar cabo da virtude da paciência. A foto ao lado foi tirada no Porto durante a tarde. Uma pessoa a vasculhar um caixote do lixo, à procura de um bocadinho de qualquer coisa que lhe permita respirar melhor. Não há como andar na rua e falar com as pessoas. Pessoas mortais, que não elogiam o Dias Loureiro e para quem a democracia não é anacrónica. Pessoas para quem sobreviver é um desafio de todos os dias, mais ou menos escondido ou, neste caso, às claras. Ontem foi um dia complicado, foi. Mas nem foi pelo mau tempo.

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Quem aperta as mamas da Helena?

A Helena Matos, no Blasfémias, não vê mal em que se espremam as mamas das mulheres como forma de provar que estejam a amamentar. Certamente que o plural é abusivo; ela fala por ela e por pessoas como ela. A Helena, como boa liberal, com certeza não se importa que o patrão lhe aperte as mamas para confirmar se está ou não a amamentar, para poder gozar um direito – o escândalo, um trabalhador com direitos! – que lhe é conferido pela lei. Para a Helena é normal e, confesso, estou curioso para saber como têm sido as entrevistas de emprego de Helena Matos ao longo dos tempos. Se é que alguma vez foi a alguma. Terá feito o teste da virgindade? Será que foi devidamente avaliada, com direito a palpação?

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Vista grossa no Aleixo

A foto é antiga. Aqueles edifícios castanhos que se vêem na imagem, tirada a partir de Gaia, mostram o que era, antigamente, o Bairro do Aleixo. Bairro de má fama, mais ou menos como o comum mortal vê a Comporta para os ricos, estão a ver mais ou menos a dimensão da coisa? Hoje restam três torres, se não me falha a memória do fim-de-semana.

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UGT a voar baixinho

Foi conhecida ontem a decisão do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC)de desfiliar-se da UGT. O SNPVAC era um dos sindicatos com maior peso dentro daquela central e, após referendo, os associados decidiram deixar a estrutura liderada por Carlos Silva. Recordemos que Carlos Silva, antes de ser eleito representante de uma estrutura que alegadamente defende os interesses dos trabalhadores, foi pedir autorização a Ricardo Salgado, ex-Dono Disto Tudo, para pertencer à direcção daquela organização. E ficou desde logo claro a quem Carlos Silva presta contas.

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Diabética, invisual e com menos 70 euros no fim do mês

Vamos chamar-lhe Amélia. Eu gosto do nome e, nestes casos, convém, para já, salvaguardar alguma privacidade. Trabalhou e, como tal, chega agora à idade da reforma. Com a vantagem de nunca se ter esquecido de pagar qualquer contribuição à Segurança Social. O certo é que, há quase 10 anos vítima da diabetes, acabou a receber uma pensão de invalidez por ter ficado cega. Recebia a fortuna de 567 euros mensais, incluindo já os 100 euros de complemento de dependência. Agora, que continua dependente mas passa à condição de reformada, irá  receber 497 euros, deixando de ser inválida, segundo a Segurança Social, para passar a ser só pensionista (deixando de ser pensionista por invalidez para ser pensionista por velhice).

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A crise da dívida

Em 1999, quando Passos Coelho iniciava a sua caminhada de ignorância em relação aos pagamentos à Segurança Social, eu estava a um ano de entrar na redacção de um jornal para o meu primeiro trabalho a sério, depois de passar pelos transitários – era praxe, por aqui – e por outras aventuras relacionadas com o mundo do futebol. Em Outubro de 2000 cheguei ao sexto andar do entretanto assassinado O Comércio do Porto e apaixonei-me por aquilo tudo. Tive de “colectar-me” e comecei a passar recibos verdes. Ao fim de um ano, acabou a isenção e era preciso começar a pagar a à Segurança Social.

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Liberdade selectiva

O Filipe Guerra já alertou aqui para o silenciamento quase total de um Encontro Nacional do PCP, em Loures, que juntou mais de 2.000 pessoas. Não é novidade, é certo, mas surge num momento curioso da televisão pública, que tem neste momento dois enviados especiais: um na Ucrânia, onde são entrevistados neo-nazis como lutadores pela liberdade, e outro em Cuba, onde, ontem mesmo, se falava, do controlo dos órgãos de informação pelo Estado.

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Eles moem e matam

“Eu vou dar-lhe os números”. Foi desta forma que Paulo Macedo respondeu numa audição parlamentar, pedida pelo PCP, sobre o estado das urgências. O agendamento teve de ser potestativo para que Paulo Macedo se dignasse a ir ao Parlamento dar explicações aos deputados. De outro modo, continuaria calado, mudo, que é como eu o ouço quando vem com as frases feitas que ouvimos todos os dias do gangue de criminosos que nos governa. “Eu vou dar-lhe os números”, disse ele. Entretanto, as urgências continuam caóticas. Os tratamentos para o cancro em modo de espera e o medicamento para a hepatite C está a ser sonegado a cerca de 4.000 pessoas que dele necessitam para sobreviver.

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