Todos os artigos: Nacional

A torneira, o interruptor e o azul do mar

Fotografia de Mohammed Zaanoun, fotojornalista palestiniano.

Já lá estava gente, já lá viviam pessoas. É isto que os engravatados do telejornal nunca dizem, tentando convencer o espectador de que o início do massacre em curso data do passado 7 de Outubro. Já lá existiam famílias, sonhos e vontades. É o que nunca ouvimos da boca dos finos fantoches do imperialismo, nos estúdios de Queluz de Baixo ou nas costas quentes de Tel Aviv. Já lá conviviam templos, culturas e olivais. Já lá nascia vida. Já lá se moía, há muito, o grão de bico, com um dente de alho, tahini e sumo de limão. Já lá se havia edificado um povo inteiro que, hoje, resiste à barbárie sionista. Os sonhos foram ceifados, os olivais, abatidos, e a Terra, que há muito não é santa, ocupada ilegalmente por essa vesana e assassina ideia de Israel, Estado genocida erguido sobre enxurradas de sangue palestiniano. Mas, à pretensa agência imobiliária divina, nada disto interessa: um livro místico com 2500 anos assegura, num diálogo entre Deus e Abraão, que a terra prometida não é para qualquer um.

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Margarida Tengarrinha, a camarada que foi quantas pessoas fossem precisas (1928-2023)

“[…] não há futuro sem memória, que da memória das lutas do passado depende a nossa capacidade de resistência e de construção de todas as novas lutas, a memória aparece como uma espécie de dever, não só ético (ou até afectivo), mas sobretudo político” – Margarida Tengarrinha, “Memórias de uma Falsificadora: A Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal”, 2018.

Mr. Trocos

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.

Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.

Carlos Moedas expressou, no passado dia 5 de outubro, a vontade de assinalar o dia 25 de novembro, o dia que consumou a contrarrevolução. O que ele não disse foi que, mais do que assinalar esta data, pretende, sim, menorizar Abril e as suas conquistas, bem como tudo aquilo que para o nosso povo representou. Os objetivos de Moedas são bem mais do que festivos, são políticos e partidários.

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Chão nosso

Do outro lado da margem um aglomerado salta à vista, de flâmulas vermelhas esvoaçantes e uma bandeira ao alto, cujo símbolo não deixa nada ao desengano. A foice, o martelo e a estrela em amarelo em pano vermelho vivo, sentinela de um tempo que marcou para sempre a vida dos trabalhadores rurais e industriais, dos do mar e da terra, dos do chão e do ar, dos que aprenderam o que é a unidade e dos que ainda a verão adiante.

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Os ventos de África

De tempos a tempos, em Portugal, fala-se muito de poeiras vindas de África trazidas pelo vento, que deixam o céu escuro e o sol escondido por trás do que o Sahara faz questão de partilhar connosco, que causam dificuldades respiratórias, chegam ao retângulo e nos cobrem de um manto que não nos deixa ver mais longe. Uma espécie de nevoeiro que cobre a visão e só nos permite ver pouco mais do que o nosso umbigo. Enquanto isso, em África, parece haver novos ventos que se levantam, com uma clareza e objetividade que não temos por cá.

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Rogeiro, o especialista

Nuno Rogeiro apareceu no espaço público no começo das década de 90 do século passado, como especialista em coisas, nomeadamente, várias. Ao longo dos anos, foi passando por vários Órgãos de Comunicação Social, vendendo as suas análises sempre sábias e assertivas, com mais certezas que dúvidas, o que não deixa de ser curioso para quem se debruça sobre Relações Internacionais. Rogeiro tem hoje, com José Milhazes, um programa na SIC, onde debita tantas mentiras e manipulações que há um utilizador, no Twitter, que tem uma thread – uma cadeia de tweets – com mais de 200 desmentidos. Trata-se de Luís Galrão e é verificador de factos, cujo trabalho é de acompanhamento obrigatório, não só sobre este assunto como muitos outros.

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O governo da colónia faz parte do império

Manifestação nacional CGTP-IN, 18 de Março de 2023. TIAGO PETINGA/LUSA

No mesmo dia em que os trabalhadores portugueses respondiam à chamada da CGTP-IN para a realização de um dia nacional de luta “Aumentar salários | Garantir direitos | Contra o aumento do custo e vida – Pelo direito à saúde e à habitação”, Lagarde anuncia que as taxas de juro do BCE vão continuar a subir, sendo a próxima subida já em Julho.

Terminou aliás nesse dia, 28 de junho, o encontro Fórum BCE, que se realizou em Portugal, supostamente para determinar as grandes causas da inflação e as respostas adequadas, juntando governadores dos bancos centrais (que é como quem diz, funcionários administrtaivos do BCE), decisores políticos (que é como quem diz governantes eleitos pelos povos mas ao serviço dos grandes grupos económicos) e “especialistas” no assunto.

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CTT privatizados: sempre a piorar!

Não era preciso que a ANACOM viesse confirmar – outra vez! – aquilo que os portugueses já tinham percebido. É daqueles casos em que os indicadores estatísticos não são essenciais para se perceber o que está em causa. Qualquer pessoa que recorra aos Correios constata, cabalmente, estar perante a decadência de um serviço outrora fidedigno e competente, mas hoje quase completamente despedaçado por uma gestão privada dúplice: por um lado, eficaz a retirar dividendos para o bolso de quem a gere; por outro, incompetente a prestar um serviço que continua a ser essencial e insubstituível. O Governo PS nada faz… porque não quer.

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