Todos os artigos: Nacional

A locomotiva da História saiu do apeadeiro

“A primeira semana é a que mais custa”. A promessa é de Olinda Gonçalves, preparadora, embaladora, lutadora, “por isso é que até já disse aos colegas: quando houver outros trabalhadores como nós, eu quero estar lá com eles na primeira semana”. Esta é a história de como 130 trabalhadores dos bares dos comboios venceram ministros e patrões, salvaram os postos de trabalho e se fizeram heróis das suas próprias vidas.

54 dias, 54 noites. Sem salário nem emprego, abandonados pelo governo. Acampados à chuva e ao sol, ao frio e de noite, dia após dia, sob o açoite do vento. “É duro”, explica Olinda, “casais com filhos pequenos a chorar porque não tinham nada para lhes dar de comer. Eu chorei muito. Lá [no acampamento] não chorava, para não dar parte fraca. Mas olha, isto podes escrever aí em letras grandes: EU NUNCA PENSEI EM DESISTIR”.

Ler mais

Feminismo Liberal, Feminismo-L’Oréal

Façamos a regra de três simples – se, como disse Chico Mendes, “ecologia sem luta de classes é jardinagem”, o que será o feminismo sem ela? Um equilíbrio um tanto mafioso entre a manutenção do sistema capitalista e não fazer a depilação; acabar com a desigualdade, mas só um bocadinho; qualquer coisa entre um hobby e um estado de espírito, ou, mais recentemente, uma parceria da marca L’Oréal Paris com a ONG Right to Be. Pois não haveria certamente melhor parceira do que a maior empresa de cosméticos do mundo, no combate ao assédio sofrido pelas mulheres em locais públicos. Portanto, a ver se nos entendemos: nadando em lucros milionários, a L’Oréal Paris amanheceu generosa e decidiu começar uma acção de formação gratuita (vejam só!) para acabar de vez com o assédio. Sob a condição de poder continuar a explorar as suas trabalhadoras, naturalmente. E sem o relacionar com qualquer outro problema social, como é óbvio, que isso já era demais. É disto que o feminismo liberal vive, enquanto as mulheres reais, as que trabalham, continuam a sofrer na pele a brutalidade do capitalismo selvagem, que este ajuda a perpetuar. 

Ler mais

Desobedeçam!

A título de introdução, uma nota, para que se perceba o contexto: estou eleito dirigente sindical, pelos meus camaradas de trabalho, há quatro anos.

Na mais recente greve geral da função pública, no passado dia 17 de Março, as auxiliares de acção educativa das escolas estavam sujeitas (entendiam os directores) ao decreto de serviços mínimos emitido em Janeiro pelo tribunal arbitral devido à greve por tempo indeterminado do STOP.

Os serviços mínimos foram decretados “Face à duração e imprevisibilidade das greves decretadas pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação”, lia-se num comunicado do governo de 27 de Janeiro. O pré-aviso do STAL dizia, acerca de serviços mínimos, que atendendo à curta duração da greve, não se prevê a necessidade de serviços mínimos.

Ler mais

O poder revolucionário de uma ideia em Bento de Jesus Caraça

Natural de Vila Viçosa, onde nasceu na Rua dos Fidalgos, a 18 de Abril de 1901, Bento de Jesus Caraça, filho de trabalhadores rurais, foi um matemático, estatístico, demógrafo e professor universitário português, comprometido com a luta antifascista e a democratização da cultura e do ensino no seu país. É uma figura ímpar da cultura portuguesa, lembrado pelo seu exemplo de integridade e coerência. Militou no Partido Comunista Português, recusando a separação entre actividade intelectual e actividade política, e foi um dos fundadores do Movimento da Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) que, posteriormente, daria origem ao Movimento de Unidade Democrática (MUD). Perseguido pelo regime, preso pela PIDE e demitido, em consequência, do lugar de professor catedrático no ISCEF, nunca abandonou as suas convicções. No dia em que se celebram os 90 anos de A Cultura Integral do Indivíduo, urge recordar Bento de Jesus Caraça como o verdadeiro marxista que era, sedento de transformar o mundo, ao invés de se limitar a descrevê-lo. Caraça morre aos 47 anos, a 25 de Junho de 1948, em Lisboa, porém, o vasto legado que nos deixa mantém vivos os ideais de liberdade.

Ler mais

A ameaça comunista e o revisionismo histórico – entre o Tiktok, o 25 de Abril e “Holodomor”

Três coordenadas exemplares

1) “Sabe de outros empregados da ByteDance [empresa chinesa de tecnologia que detém o TikTok] que façam parte do Partido Comunista Chinês?” pergunta, pleno de hostilidade, Dan Crenshaw, congressista representante do Estado do Texas, a um visivelmente incrédulo Shou Chew, CEO do TikTok, durante a audiência congressional estadunidense ocorrida no final do passado mês de Fevereiro.

2) “Não podemos esquecer que a Primavera de Abril só é possível porque o Outono de Novembro impediu males maiores”, “A corrupção não era tolerada nem se conhecem episódios antes do regime democrático,” proferem os deputados municipais da IL e CH, respectivamente, no passado dia 25 de Abril em sessão solene na cidade de Setúbal.

3) “Este horror teve a sua origem no Kremlin – aí, o ditador tomou a cruel decisão de promover a colectivização forçada e provocar a fome”, afirma Robin Wagner, deputado dos Verdes (partido da coligação no poder) a propósito da resolução aprovada no Parlamento Alemão, a 30 de Novembro de 2022, instituindo “Holodomor” como genocídio.

Ler mais

É disto que Marcelo Costa

Foto: Daniel Rocha/Público

O surgimento de uma sondagem que desse, finalmente, vitória ao PSD, era o último sinal de que Marcelo necessitava para pôr em marcha a fase ofensiva de um plano há muito arquitectado/desejado. A contestação das ruas, a fúria dos professores, a insatisfação com salários e pensões, o aumento do custo de vida, ou a significativa intensificação da precariedade laboral, são “critérios” pouco relevantes para Marcelo na sua origem e essência, mas que acabam por “contar” quando são úteis, de alguma forma, para visar ou desgastar o governo. Marcelo percebe “de que lado sopra o vento”, e como “o vento” se alia à cor da camisola, está na hora de, julga ele, assumir a liderança da oposição e, sobretudo, a dianteira mediática do ataque ao governo. Só quem não conhece Marcelo – e o seu longo currículo de profissional da maquinação de bastidores, de oportunismo e do intriguismo político – é que estranha esta situação, que é apenas e só resultado dessa crónica patologia de apego e dependência de mediatismo, de centro das atenções, em estreita aliança com a sua mal disfarçada partidarite.

Ler mais

Visitar o jardim no fogo de Odessa

Uma delegação da Assembleia da República chegou ontem a Kiev para uma visita à capital ucraniana. Entre os participantes está Isabel Pires, deputada do Bloco de Esquerda, que referiu à RTP3 qualquer coisa como “o parlamento [português] tem trabalhado envidado os seus esforços numa solução para a paz”, sem, no entanto, referir quais. Percebe-se. Em 2016, o Bloco de Esquerda recusou integrar uma delegação que acompanharia o Presidente da República a Cuba. O motivo apontado foi a coincidência de datas das jornadas parlamentares, que que teriam lugar na mesma altura. O BE tinha então 19 deputados. Hoje, na Ucrânia, tem a companhia de PS, PSD e IL. Estes últimos, hoje, não devem ser os radicais protofascistas neoliberais que eram no dia 1 de Maio.

Ler mais

Solenes

É com perdigotos saltando pela boca que o fazem os que agora se opõem ferozmente à sessão solene de boas-vindas ao presidente Lula da Silva no dia 25 de Abril na Assembleia da República (uma hora e meia antes da sessão solene sobre o próprio 25 de Abril no mesmo local), argumentando, de testa franzida, com a importância da data e evocando a soberania. São os mesmos que aprovaram ou saudaram a colocação da bandeira da UE na fachada da mesma assembleia há apenas alguns meses.

Ler mais