Todos os artigos: Teoria

Cultura: um conceito em (des)construção

Cultura é um conceito proeminentemente metafórico, que desliza recorrentemente entre contextos, sobretudo os idealistas e morais, grandemente voláteis, contribuindo para a edificação de uma acepção puramente abstracta ao serviço da hegemonia ideológica do capital. A conceptualização contemporânea da cultura está, quase sempre, desatrelada de uma análise materialista, científica e histórica, promovendo a institucionalização de um anti-conceito que arruína a possibilidade de uma discussão racional. Ademais, tal instrumentalização retira a capacidade de compreensão colectiva sobre algo que nos parece simultaneamente tão próximo e simples como distante e complexo, mas sempre presente na retórica política e social e, sobretudo, determinante na construção burguesa dos itinerários legislativos, reforçando a arduidade da superação do capitalismo.

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Encruzilhada Histórica

É inegável o momento histórico que se vive, revestido por um lado de uma relativa iteração de vários processos económicos, sociais e políticos e por outro com elementos que se configuram em características ímpares, determinadas pela roda imparável das transformações das sociedades, que exigem novas reflexões e subsequentes abordagens, partindo do materialismo dialético para a sua total compreensão.

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A cultura é uma arma

A cultura não é uma santa de altar, ultraterrestre ou uma concepção divina, é a memória identitária dos povos e, portanto, não se configura na sua materialização concreta ou abstracta como um objecto imparcial. A arte, que expressa a tradução cultural de uma sociedade, resulta de estímulos e experiências individuais e/ou colectivas, tem como proponente o Homem, que por sua vez é produto das suas próprias circunstâncias e do modelo de organização colectiva que lhe dá origem, social, política e cultural entenda-se.

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Huele a comisiones obreras

Na pedra secular do castelo está fixado um quadro que honra Hernán Cortés, conquistador divinamente destacado entre os povos mesoamericanos que o circundam em meia mesura, denunciando o classismo da coisa, afinal matar em nome de deus, da pátria e do rei, era tão legítimo e dignificante como o é hoje em nome do imperialismo, do capital e da urbanidade ocidental. O sol vai-se pousando por detrás das ameias do castelo medieval raiano, purpureando o céu à exacta medida com que as gravatas deslaçam a tempos o frouxo nó da noção, o dia foi longo e ao calor deu-se combate com gelo emagrecendo entre o álcool. As horas prazenteiras despertam com a história de um companheiro, vindo de uma ida aos sanitários, “saiu um dizendo que cheirava a merda e outro afirmou: – huele a comisiones obreras”.

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A Estupidificação como Projecto Político do Capital

É inegável a força transformadora da palavra, do argumento e do diálogo. É ela o motor revolucionário da formação, do conhecimento e do progresso. Seria interessante se à semelhança da Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) para fauna e flora, tivéssemos tal ferramenta para entender o estado de conservação de palavras e, sobretudo, dos conceitos que por entre elas se alevantam, no centro do discurso e da intervenção política.

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Dicionário de confusões conceptuais

Há uma guerra pelas nossas palavras. Elas são os instrumentos com que explicamos o mundo e a história ensina-nos que só o consegue transformar à sua vontade quem o consegue explicar. Da mesma forma que os negreiros tinham o cuidado de separar os escravos em grupos que não falassem a mesma língua, o capital verte milhões em campanhas de confusão conceptual, na promoção de novas categorias, na erradicação de certos vocábulos e na substituição de umas palavras por outras, aparentemente com o mesmo sentido. Este dicionário é um breve contributo para desfazer algumas das maiores confusões semânticas, conceptuais e ideológicas dos nossos tempos.

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Z: Zelensky

Z: Zelensky

A guerra canonizou-o. São Zelensky nem teve subir a uma azinheira para aparecer aos portugueses como o presidente perfeito que nunca tivemos: corajoso, altruísta, humilde e honesto; um marido invejável na corrida ao Prémio Nobel da Paz; material incorruptível para fronhas e velinhas à prova de extremistas e oligarcas. Tudo muito lindo, mas devagar com o andor que o santo é de barro.

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Y: youtube

Y: Youtube

Corriam os idos de 2006 quando a revista Time convidou o público, investido digitalmente com o poder da web, a decidir democraticamente quem seria a “pessoa do ano”. Dada voz à internet, a internet falou e elegeu, com 35% dos votos, Hugo Chávez. Mas, em vez do democraticamente eleito Hugo Chávez, nesse ano, a pessoa do ano foste «TU». O florão numa janela de Youtube, num ecrã de iMac, na capa da revista, vinha acompanhado da epígrafe «Sim, tu, tu controlas a idade da informação. Bem-vindo ao teu mundo». Estava dado o mote para a democracia na era das redes sociais.

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