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W: Wuhan

W: Wuhan

Wuhan: o nome da cidade chinesa ficou inscrito na certidão de nascimento da COVID-19, uma certidão emitida pelo imperialismo ocidental e carimbada com o selo do racismo sinofóbico. O mito do “vírus chinês” cunhado por Trump é uma reedição do “perigo amarelo” do século XIX: mais uma vez, o chinês é apresentado como uma ameaça existencial ao mundo civilizado. Quer seja por comerem morcegos (nós comemos caracóis e tripas), quer seja pelo “regime totalitário” que confinou milhões de pessoas (mais tarde nós fizemos o mesmo), a China, qual judeu internacional, é o bode expiatório da pandemia global.

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V: voluntariado

V: voluntariado

Fazer voluntariado é trabalhar gratuitamente. No contexto capitalista, todas as razões são boas para não pagar um salário: a falta de experiência de jovens desempregados e sem contactos no mundo do trabalho; a generosidade das boas pessoas que não se conformam em assistir impávidas ao sofrimento alheio; a ideia de que a cultura não é propriamente um sector profissional normal e que, por isso, é normal trabalhar de borla; a vontade de conhecer pessoas novas e de “crescer espiritualmente”; a autocongratulação moral e a necessidade de autopromoção ou, simplesmente, o preço exorbitante do bilhete de um festival.

De embrulhar prendas para o Continente a controlar portas no Rock in Rio; de pedir comida para os pobres à porta do Pingo Doce a picar bilhetes no DocLisboa; de escrever comunicados de imprensa para a Volvo Ocean Race a distribuir restos de comida na Refood, todas as actividades e profissões são “voluntarizáveis”.

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U: União Europeia

U: União Europeia

Nem a União Europeia é a Europa nem sair da UE significa necessariamente cair no isolacionismo. A UE é um projecto essencialmente franco-alemão de assimilação política e económica de todo o  continente em moldes capitalistas e imperialistas. À semelhança dos impérios romano, napoleónico ou nazi, a União Europeia tem inscrito no seu código genético uma matriz de interesses que não são comuns a todas as classes sociais nem a todas as nacionalidades da Europa.

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Post-it para colares à tua militância

O comunismo não é sobre ti.  A luta não é sobre ti nem é um florão para as tuas fotografias nem é um palanque para o teu ego nem é, muito menos, um centro de emprego. A luta é colectiva e é sobre esse colectivo. A militância é uma escola de humildade em que se aprende a substituir o “eu” pelo “nós”. O comunismo é um movimento histórico do qual só podemos ser uma ínfima partícula quando tomamos consciência de que o protagonista é um gigantesco colectivo. Que a militância comunista não seja uma tribo, nem uma bolha social, nem um estilo de vida, mas sim o lugar onde tu venhas para lutar ao lado de muitos milhares em tudo iguais a ti e onde, um dia, possas enterrar o teu egocentrismo. Que tenhas, pois, orgulho nessa sepultura.

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T: teletrabalho

T: teletrabalho

Tal como todos os avanços técnicos e tecnológicos, o teletrabalho tanto pode servir para libertar como para oprimir. Como qualquer outro instrumento, o teletrabalho serve os interesses de quem o detém. Se, nalguns casos, o teletrabalho poderia evitar deslocações demoradas, caras e desnecessárias, a realidade demonstra que está a ser usado para aumentar a exploração e transferir para o trabalho despesas que, até aqui, eram responsabilidade do capital.

Não se trata unicamente do aumento dos horários de trabalhos, como demonstram vários estudos, trata-se de ser o trabalhador a pagar pelo arrendamento do seu próprio local de trabalho que, para todos os efeitos legais, passa a ser a sua casa. Na mesma esteira, passa a ser o trabalhador o único responsável pelo pagamento da água e dos esgotos, da electricidade, da internet, do aquecimento, da alimentação, da limpeza e de todos os serviços necessários ao funcionamento da empresa. Ao não traçar valores mínimos, nem obrigações legais, como o subsídio de refeição, a legislação recentemente aprovada na AR não responde a qualquer uma destas questões.

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S: socialismo

S: socialismo

O Chega está apostado em convencer-nos de que se o PS governa o país e se chama socialista, daí decorre que o actual estado de coisas também se chame “socialismo”. Isto é sensivelmente o mesmo que achar que os leões-marinhos são felinos, que os tubarões-martelo são ferramentas, que a Ursa Maior é um urso, que os cachorros quentes são cães ou que o NSDAP de Hitler também era socialista.

Há décadas que o PS meteu o socialismo na proverbial gaveta e o “socialismo democrático” de que contingentemente fala é tão-só um capitalismo regulado. Apesar disso, tão depressa os fascistas dizem que vivemos num regime socialista como louvam o 25 de Novembro por nos ter livrado de um.

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R: raça

R: raça

Não há raças humanas, concordam os biólogos. “Raça” é uma categoria inventada a partir do séc. XVI pelo capitalismo embrionário para justificar o comércio de escravos. A escravatura do mundo antigo, por exemplo, não tinha qualquer relação com a cor da pele. Todo o significado político e social da palavra “raça” advém, portanto, das terríveis consequências históricas que essa ficção legitimou: o racismo. Por outras palavras, a ideia de raça só existe por causa do racismo.

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Q: qAnon

Q: qAnon

O Libelo de Sangue foi uma teoria da conspiração da Idade Média que acusava os judeus de raptarem crianças para lhes beberem o sangue. Improvavelmente, no ano do senhor de 2020, a velha lenda ressuscitou sob o rótulo de Pizzagate, desta vez incriminando a “elite globalista liberal” pelo rapto de crianças para abastecimento de rituais satânicos na cave de uma pizzaria de Washington onde ora tinham lugar abusos sexuais ora se procedia à extracção do androcromo, uma espécie de elixir da eterna juventude presente no sangue das crianças. Eis a estância do Qanon, onde se levantam as pedras da história para destapar a ignorância e os vermes. É como se se tivesse definitivamente fechado o parêntese de Gutenberg que, propôs Sauerberg, ditasse o ocaso da era do monopólio do conhecimento mediado pela palavra escrita, convenientemente restringida à autoridade dos sábios e o regresso à oralidade das histórias contadas não à volta da fogueira, mas no caos das redes sociais. Mas não é só isso.

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