Faz hoje anos que Álvaro Cunhal morreu. E faz também anos que muitos prenunciaram (pela 9858748ª vez) a morte do partido que, curiosamente, mais tem crescido nos últimos tempos. E isso, parecendo que não, para muitos constitui um problema. O PCP esteve muitas vezes “para morrer”. Teimosamente, nunca deu essa enorme satisfação à direita portuguesa (PS incluído), muito menos àqueles que no recato de um fascismo mais ou menos contido, anseiam pelo fim do partido político que resiste e luta coerentemente, luta após luta, ano após ano, ao lado do povo e dos trabalhadores portugueses.
Autor: Ivo Rafael Silva
O que os estorva mesmo é a democracia
Já não deve constituir surpresa para ninguém o facto de PSD e CDS demonstrarem enorme interesse em derrubar, de uma vez por todas, quaisquer obstáculos que se entreponham à sua missão ideológica. Atendendo às reincidências no cadastro da sua acção governativa, já não se pode nem se deve falar de «incompatibilidade» da política deste governo com a Constituição. Mais do que isso, trata-se antes de perigosa e muito grave «incompatibilidade» de PSD e CDS com a própria democracia. Estes partidos, não apenas pela prática política mas também pelo discurso cada vez mais reaccionário dos seus principais responsáveis, vão deixando cair essa máscara fictícia de partidos pertencentes a um «centro moderado», a um «centrão» ou «bloco central», ainda que tal falsa ideia vingue (por enquanto) entre a maioria da população. Começa a ser risível, embora preocupante, que haja ainda quem tenha o despudor de falar pejorativamente em “radicalismos” em referência ao PCP – partido defensor acérrimo dos preceitos constitucionais, lutador incansável pelo cumprimento da Lei Fundamental -, quando aquilo que vemos é que os verdadeiros radicais, aqueles que ameaçam a democracia, os que procuram incumprir (repetidamente) as leis do país, mesmo as fundamentais, esses, são os que já se encontram instalados no poder em Portugal.
Uma moção do povo
Desde que o PCP, pela voz do seu secretário-geral, anunciou que iria apresentar uma moção de censura ao governo, que não pararam as conjecturas sobre o real significado da mesma e sobre a sua “utilidade”. Nada de novo. O PS, em desespero de causa, e como é costume, vitimizou-se tomando as dores de alvo a abater pelo PCP, considerando a moção como um «frete ao governo», anunciando contudo que votaria «a favor». Se, por um lado, se trata de uma moção que pelas circunstâncias de o governo ter maioria no parlamento terá os mesmíssimos efeitos práticos que teve a moção do próprio PS, por outro, o PS entende, assume, mas não admite nem pode admitir, que aquilo que o PCP combate com esta moção de censura, é também aquilo que, em grande medida, o PS defende e já começou por pôr prática com os PEC’s, bem como com as políticas levadas a cabo pelos seus anteriores governos.