Um bufo da PIDE a Presidente da República?
As cartas de Marcelo

Um bufo da PIDE a Presidente da República?
O custo das campanhas das presidenciais e a forma como Marcelo Rebelo de Sousa foi louvado pelos media já foi aqui abordado, e tão bem, pelo António. Não é sobre isso que me apetece escrever, embora isto ande tudo ligado. No dia 3 de Janeiro de 2016, o Público decidiu vender um folheto de campanha do candidato que é tão independente do PSD/CDS como eu sou vegetariano.
As eleições foram há um mês e um dia. Falou o povo, o PS decidiu responder ao apelo da esquerda e, entretanto, meteram-se ao barulho o Cavaco, os banqueiros, a direita mais conservadora e saudosista, comentadores e opinadores, no Expresso e no Observador, com particular incidência, com as suas três mãos: duas agarradas à cabeça e uma a bater no peito, em defesa dos superiores interesses da nação. Nas televisões, a generalidade dos comentadores avisa para a desgraça dos mercados, a fragilidade de um possível acordo do PS com a esquerda e meia-dúzia de maluquinhos criam eventos no facebook para darem as mãos e saírem à rua contra qualquer coisa que ninguém sabe muito bem o que é.
*foto de obra da autoria de ± maismenos ±
Independentemente do que venha a ser o resultado institucional da rejeição do programa do PSD/CDS que até agora parece desenhar-se no horizonte, não está em cima da mesa, para já, a construção de um “Governo de Esquerda”.
Quando tal vier a ser uma realidade em Portugal, será certamente resultado de uma movimentação de massas consciente da necessidade de ruptura com o capitalismo e com a consolidação do processo de integração capitalista europeia e não apenas de resultados eleitorais. Mas para já o que está a parecer resultar das eleições legislativas de Outubro é uma derrota do PSD e do CDS, sem que exista necessariamente – como consequência directa – uma substituição automática das suas políticas por outras distintas e de “esquerda”.
Ui, que lá vêm eles com mania da perseguição queixar-se da cobertura mediática. Não é nada disso. Trata-se apenas da constatação de um facto que os últimos dias de incerteza governativa ajudaram a deixar claro. A direita-se pela-se de medo da esquerda e qualquer convergência que envolva o PCP é um ataque à democracia. Se isso se tornou evidente em todos os canais de televisão, jornais e rádios, no mundo complexo dos jornais regionais locais o caso é ainda mais grave. Num caso que não me recordo de alguma vez ter visto, surge o mesmo editorial, letra por letra e linha por linha, em quatro jornais locais: Diário de Coimbra, Diário de Leiria, Diário de Aveiro e Diário de Viseu. A vantagem destes em relação a outros órgãos de informação, neste caso os de carácter nacional, é que estes assumiram abertamente o seu combate à esquerda e ao PCP em particular, com referências tolinhas ao PREC e à desgraça que seria ter os comunistas no poder. Caiu a máscara a tantos e pode ser que isso ajude a clarificar aquilo que acusam de ser uma cassete.
São esquisitos, baixos e com bigodes e barbas. Chegam, na esmagadora maioria, homens. Elas, quando vêm, cobrem os cabelos com panos e não usam saia acima do joelho. Muitas são proibidas pelos maridos de cortarem o cabelo. Por vezes, eles ameaçam-nas com uma chapada ou um murro; elas, subservientes, baixam a cabeça e colam as mãos ao ventre. Trazem com eles uma paixão fervorosa pela religião. Usam colares com o símbolo das suas crenças e são capazes de dar mais do que têm para que o seu local de culto, na sua terra natal, tenha um relógio ou um telhado novo. Rezam, pelo menos, de manhã e à noite. Se puder ser, ao final da tarde, cumprem mais um ritual.
Parece que o costureiro da nossa cavacal primeira-dama, Carlos Gil, foi ontem condecorado com a comenda de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Confesso que não percebo muito de comendas. Mas a verdade é que uma pesquisa pelo site da Presidência me leva a ficar a saber que a “Ordem do Infante D. Henrique destina-se a distinguir quem houver
prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores”. Não vamos entrar pelo caminho frágil de discutir a expansão da nossa cultura que é levada a cabo pela Maria Cavaca. Bem sabemos que, em grande parte, as distinções presidenciais deste tipo têm critérios subjectivos e são muitas vezes arbitrárias. Mais ou menos como se escolhe a vaca para abate. Narciso Miranda é comendador, por exemplo.
O que é que ainda nos surpreende quando não vemos a gigantesca marcha de sábado nos media? Não entendam mal, que subscrevo linha por linha o artigo do Filipe. Mas, para quem já anda nisto há algum tempo, e nem precisa de ser muito, não é de estranhar. É de denunciar, de divulgar, é verdade que já nos deixa um bocadinho tristes e revoltados. Deve ser por isso que ainda há quem diga que parámos no tempo, porque ainda temos a força necessária para nos indignarmos. E, às vezes, vamos buscar forças sei lá onde.
Não há partido com património de luta que se aproxime, sequer, do PCP. Nos anos do fascismo não eram os que estiveram no Coliseu no mesmo dia em que estivemos na rua que davam o peito às balas. Eram os pais de alguns deles, ao que consta. Naquela altura, o bloqueio ao PCP era legal e oficial.Obrigatório. Depois da Revolução de Abril, deixou de ser. Com o 25 de Novembro passou a ser oficioso.