Autor: António Santos

C: colaborador

C: colaborador

Se “trabalhador” quisesse dizer a mesma coisa que “colaborador” não tinham inventado esta última palavra. Não há “código da colaboração”, “horário de colaboração”, “Ministério da Colaboração” nem querem que “colaboremos mais horas” porque não há colaboração nenhuma. Há pessoas que vendem a sua força de trabalho e pessoas que a compram por um valor. Por isso, faz tanto sentido chamar colaborador a um trabalhador como ao cliente de uma loja. Se patrão e trabalhador colaborassem verdadeiramente, os lucros seriam colaborativamente distribuídos.

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B: Bill Gates

B: Bil Gates

Talvez por usarmos os seus produtos todos os dias, a canonização de Bill Gates como paradigma do capitalista empreendedor que merece ser bilionário pode parecer inquestionável. Afinal, se ele criou a Microsoft porque é que a Microsoft não pode ser dele? Mais! Sem a promessa de um dia poder ser muito rico, provavelmente Bill Gates não teria criado nada e ainda estaríamos agora a usar máquinas de escrever.

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A: apropriação cultural

A: Apropriação Cultural

Tudo é cultura e toda a cultura é apropriada, pelo que não pode nem deve ser considerada propriedade de ninguém. Não há culturas “autênticas” nem muito menos “puras”: esse é um mito da extrema-direita. Os portugueses são culturalmente berberes, árabes, fenícios, romanos, franceses, ingleses, visigóticos, gregos e bantus. O multi-culturalismo é, portanto, a antítese da apropriação cultural.

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E se a Eurosondagem tivesse vergonha?

A cadela do fascismo está sempre no cio e o chefe da Eurosondagem anuncia que tem um novo patrocinador (o Grupo Libertas, da especulação imobiliária) no mesmo “estudo” (as aspas são mesmo dele) em que especula (com a nossa inteligência, não com a habitação) como (preparem-se) “seria o voto nas autárquicas se fosse igual às presidenciais”. Uma brincadeira a que o Nascer do Sol tem o despudor de apelidar de “projecção” e “sondagem”.

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Quando o Cavaco morrer, uma história de amor

Não estamos aqui para discutir se há amor à primeira vista, mas poesia à primeira vista certamente haverá, tanto que ele, que não acreditava nas belas-letras, e muito menos na poesia, deu por si, ao primeiro relance, a ponderar dizer-lhe que se imaginava a fazer com ela uma longíssima e perigosa viagem e que quando ela já não aguentasse mais, podia contar com ele, não para salvá-la, mas simplesmente para que ela soubesse, de ciência certa, que podia contar com ele. Felizmente, não disse nada disto. É fácil, claro, fazer poesia para uma mulher bonita, mas esta é a última coisa fácil nesta história.

Ele disse-lhe que gostava de punk e ela achou que isso era muito século XX. Ela escrevia tudo em post-its e ele nem sequer tinha uma agenda. Ela disse-lhe que era muito ansiosa, ele calmamente respondeu «ok» e ela disse que não gostava de pessoas que respondiam «ok». Apesar disso, ela gostava de andar descalça e ele andava sempre de botas. Ela disse-lhe que ele fazia demasiadas perguntas e ele achou que ela tinha respostas para tudo. Ela disse-lhe que era comunista e ele, que dizia sempre que não acreditava ideologias, muito menos em utopias, de repente imaginou-se com ela.

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“E porque não com gás?” Pela demissão de José Rodrigues dos Santos

O canal é público e a vergonha é de todos: José Rodrigues dos Santos esteve 23 minutos nas nossas casas, sem contraditório, a negar o holocausto. A forma mais perniciosa e permeável de negar o holocausto em 2020 não é dizer que ele não existiu, mas deturpá-lo, falseá-lo, mutilá-lo na total dimensão do seu horror e descontextualizá-lo.

«A certa altura, há alguém que diz “Epá, estão nos guetos, estão a morrer de fome… não podemos alimentá-los. Se é para morrer mais vale a pena morrer de forma mais humana. E porque não com gás?»

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O punk do bairro negro, um conto de natal

Se me perguntassem como é que me convenceram, a mim que tenho vertigens, a trepar ilegalmente a uma torre da ponte 25 de Abril na noite de 25 de Dezembro de 2005, eu teria de admitir que não me lembro. Porque éramos putos, talvez; porque éramos estúpidos, de certeza; porque houve um desafio e ninguém queria parecer cobarde, provavelmente. E porque era a prenda de Natal dele. Só me lembro de andar, pé ante pé, pelo cabo de suspensão acima, a agarrar com muita força, com as duas mãos geladas de suor e de vento, a vida pelos dois fios de aço que acompanham o enorme tirante que suspende o tabuleiro.

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Etapas tácticas e alianças

Os mencheviques eram os revolucionários russos que, no início do século XX, defendiam que antes de chegar ao poder operário, a revolução devia cumprir obrigatoriamente uma série de etapas políticas e históricas que, à luz de uma concepção economicista do marxismo, não podiam ser saltadas. Para os partidários de Trotsky, uma sociedade agrária em que o proletariado industrial era demográfica e politicamente embrionário, não podia saltar directamente para o socialismo. Era antes necessário que, sob o timão da burguesia, a Rússia se libertasse o desenvolvimento das forças produtivas as grilhetas do feudalismo. Depois, os mencheviques propunham um longo rol de de etapas protagonizadas por graduais transformações de corte nacional, constitucional, republicano e económico e democrático.

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