Autor: Lúcia Gomes

Em meu nome, não.

Era uma vez uma lei chamada Constituição. Todas as pessoas tinham que a cumprir. Se não cumprissem, começavam a receber cartas e a ficar sem o ordenado. Deixavam de poder ir a hospitais, à escola, etc. Mas sabiam que enquanto contribuíssem colectivamente havia mais casas, mais transportes, mais jardins e por isso protegiam essa lei, porque lhes dava garantias de todos poderem brincar, estudar, tratar as feridas, ler livros, enfim.
Mas um dia chegaram uns senhores com uma pandeireta e muito bem dispostos. Disseram «o que é isso, a Constituição»? Começaram a fazer muitas festas e com pessoas que falavam muitas línguas. Construíram uma casa muito grande e começaram a comprar as escolas, os hospitais, as bibliotecas, os jardins. Até a praia tinha o nome de um desses senhores.

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Da inevitabilidade abstencionista *ou um ensaio sobre o abstentor

Dos radicais aos abstencionistas, aos anarcas comunistas, anarco-sindicalistas, debordistas, situacionistas, bakuninistas, proudhonionistas, anti-troikistas e outros istas para os quais ainda não foi inventada um gaveta para que sejam engavetados da forma como engavetam os partidaristas, e, no caso que me interessa, os comunistas (não, estes não estão em itálico porque é mesmo o que nós – eu – somos) tenho vindo a ler os testemunhos prestidigitadores na blogosfera (ainda se usa esta palavra?) com odes à abstenção/reflexão/discussão.

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Daqui ___________________ ali, já não há nada a perder

É fácil ouvir a desesperança nas palavras quotidianas. Na verdade, a economia “de mercado”, a obsessão com défices, as “regras de ouro” acabaram por transformar, passo a passo, na mesmíssima estrada percorrida há muitas décadas, cada um de nós para cada um dos outros em mais um.

Mais um que consome recursos do Estado, mais um que rouba empregos, mais um que se vende cada vez mais barato baixando os salários de todos, mais um doutorado, mais um analfabeto, mais um sem subsídio de desemprego, mais um subsídiodependente.

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Abril, exclama-se!

Nasceu a 10 de Abril e fez quarenta anos este ano.
Enquanto falávamos das notícias eu disse-lhe «imagina que o Governo ia agora a qualquer sítio e, de repente, os militares cercavam o edifício e o pessoal ao saber disso enchia as ruas e não os deixava sair…
– Os militares? Tinham que ser os militares?
– Não sendo, provavelmente vinham os robocops e apanhávamos todos porrada.
– Mas estás a dizer isso no dia 25?
– Um dia, um dia qualquer!
– Não. Foi isso que aconteceu? No dia 25? Estou farta de perguntar, nunca ninguém me explicou!»

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O tempo disse ao tempo que o tempo tinha quanto tempo o tempo tem: quanto tempo tem o teu tempo?

Adaptabilidades e flexibilizações. Adaptabilidade total do trabalhador ao tempo e vontade do patrão. Adaptar a sua vida, a vida da sua família, a sua actividade política, o seu direito ao repouso e ao descanso à necessidade de maior ou menor exploração. Uma espécie de mealheiro, onde o patrão guarda as horas que entende, para gastar quando entende, como entende.

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