Autor: Rui Silva

A Síria, a Turquia e o jogo duplo da “coligação” saudita-americana

Quando em 2012 se deu o grave incidente na fronteira entre a Síria e a Turquia, que consistiu no abate de um avião militar turco de reconhecimento que sobrevoava o seu território, as autoridades turcas não hesitaram em activar os mecanismos previstos no artigo 4º do Tratado do Atlântico Norte. Na mesma circunstância afirmaram ser sua intenção activar o artigo 5º do mesmo Tratado, que prevê que um ataque a um dos estados membros da NATO seja considerado um ataque à própria aliança. O tempo era de provocações sucessivas à Síria, com violações grosseiras da sua soberania, promoção mediática, política, militar e diplomática dos grupos armados da chamada “oposição”, utilização do território turco como porto-seguro para a entrada e saída de jihadistas dos campos de batalha e até operações de falsa bandeira que em devido tempo foram denunciadas.

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TAP

Segundo Público de hoje “os bancos asseguram que o Estado vai continuar a garantir a dívida da empresa (TAP), mesmo privatizada”. Fonte citada pelo mesmo jornal acrescenta um simbólico e julgo eu nada irónico “como não podia deixar de ser”.

O negócio da TAP ainda vai dar muito que falar e o processo encontra-se longe da conclusão ontem anunciada pelo governo ainda em funções. O que para já importa denunciar é a ilegitimidade e a ilegalidade da finalização de um processo que já não poderia ser concretizada por um governo demitido. E já agora, a propósito da dívida da empresa, lembrar sucessivas intervenções públicas do ex-secretário de estados dos transportes – o agora homem do Banco de Portugal para a venda do Novo Banco – garantindo que “a dívida da TAP não vai sobrar para o Estado“.

O apartheid social de Inês Teotónio Pereira

Contexto: no passado sábado a candidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa organizou uma pouco concorrida sessão (estilo comício) no salão da sede da Voz do Operário, em Lisboa. A ex-deputada do CDS, Inês Teotónio Pereira, foi à Voz e dessa presença no comício de Marcelo resultou uma fotografia legendada que publicou nas redes sociais. Na fotografia pode ler-se a insígnia “Trabalhadores, uni-vos” inscrita em lápide presente no salão. Na legenda a seguinte observação: “Só o Prof. Marcelo me leva a um sítio com operário no nome”.

A piadola saiu-lhe cara e apesar de ter removido imagem e legenda das redes sociais, Inês Teotónio Pereira, que é ex-deputada eleita pelo círculo eleitoral de Lisboa, já não pode fugir às consequências políticas das suas palavras.

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Netanyahu e o revisionismo histórico

As recentes declarações do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não são apenas mentirosas, lamentáveis e provocatórias [1]. No quadro da legislação em vigor no seu próprio país, o que Netanyahu fez foi violar a lei que criminaliza o revisionismo histórico em torno do Holocausto (Lei 5746-1986), nomeadamente no seu ponto n.º2 [2].

Neste contexto, foi sem surpresa que li as declarações da responsável pela investigação histórica do Centro Internacional do Holocausto – o Yad Vashem de Jerusalém –, Dina Porat, que se referiu à tese defendida por Netanyahu como “absolutamente falsa”. [3]

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O Observador e a luta de classes

Já o referi e reafirmo: o debate para o qual a direita nos convida – em torno do marxismo-leninismo, da história dos comunistas e das suas relações internacionais – é terreno minado, uma armadilha que visa desviar a atenção dos portugueses daquilo que hoje é essencial – afastar do governo de Portugal uma coligação de direita que conduziu o país a níveis de pobreza sem paralelo desde o 25 de Abril. Importa por isso resistir ao impulso e, por essa forma, evitar a armadilha.

Coisa diferente é calar a nossa indignação face ao ataque mediático continuado que desde 5 de Outubro passado tem sido dirigido ao PCP, aos seus dirigentes e militantes. O último exemplo dessa ataque cerrado vem hoje do diário online e pop de direita “Observador”.

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A nova “ameaça vermelha” (actualizado)

Quando um dia se fizer a história do processo pós-eleitoral de 2015, analisando a forma como a imprensa se mobilizou para caricaturar, marginalizar e descredibilizar uma solução governativa de ruptura com longo anos de submissão não disfarçada da política à finança e aos interesses das corporações nacionais e internacionais, não duvido que uma das conclusões prováveis se refira à forma como o medo foi arma de arremesso usada e abusada por um batalhão de fazedores de opinião fortemente empenhados em derrotar qualquer alternativa real ao status quo.

O que se passa na imprensa nacional é triste mas não surpreende. Na luta de classes há sectores da sociedade bem conscientes do seu lugar e do seu papel. Momentos como este que vivemos têm o mérito de tornar mais evidentes uma coisa e a outra.

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A Ucrânia na encruzilhada.

Desaparecida dos telejornais, das manchetes dos jornais e das notícias radiofónicas a Ucrânia parece ter deixado de fazer parte da actualidade.

As previsões económicas que apontam para uma quebra de cerca de 11% do seu PIB são tão ausentes do noticiário português como a decisão de Poroshenko de banir da Ucrânia dezenas de jornalistas de várias nacionalidades, incluindo alguns da insuspeita BBC. O FMI encontra no silêncio noticioso, quebrado aqui e ali por peças da imprensa internacional mais alinhada com o sistema, terreno fértil para a imposição contínua de “reformas” bem nossas conhecidas. O preço a pagar pelo estreitamento das relações entre a Ucrânia e o chamado “Ocidente” é o empobrecimento do país e dos seus trabalhadores. Poroshenko não se queixa. No último ano não apenas a sua fortuna pessoal cresceu consideravelmente como os resultados da sua chocolateira Roshen se multiplicaram por nove, um inexplicável milagre económico no seio de um país à beira da catástrofe.

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“Negação”, ou o Expresso “a fazer (a) opinião” que mais lhe interessa.

Sobre o que se passou antes e durante o dia 4 de Outubro já aqui escrevemos abundantemente. O que agora se coloca é perspectivar o futuro, tendo em conta aquilo que sempre afirmámos como o fundamental: a composição da nova Assembleia da República.

Nesse futuro em construção o Expresso quer ter um papel tão activo como aquele que desempenhou durante os meses anteriores à campanha eleitoral. Como? Criando por exemplo a ideia de que a CDU saiu derrotada das eleições. Sobre a avaliação dos resultados eleitorais de ontem, o Expresso escreveu que por exemplo que a CDU se encontrava “em negação” por afirmar o óbvio: a direita perdeu uma enormidade de votos (bem mais de meio milhão) e a sua maioria absoluta (a festa do Marquês foi-se juntamente com ela); pelo contrário, a CDU subiu em votos, em percentagem e em mandatos. Onde pára a “negação” a que se referia o Expresso às 21h36 de ontem?

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