O Polígrafo Mente

E de forma descarada. Numa publicação de alegado «fact-checking», assinada pelo aferidor da verdade de serviço Rui Oliveira Costa, foi imputada a João Ferreira uma declaração segundo a qual o candidato apoiado pelo PCP «não defende a saída de Portugal do Euro». Nada mais falso, pela simples razão de que não foi isso que João Ferreira disse. Ora, o que João Ferreira disse ontem, no debate com Ana Gomes, cujo vídeo está aí em toda a parte para ser visto e revisto por qualquer pessoa, é que «não defende a saída de Portugal da União Europeia». Contudo, e como se isto não bastasse, o texto tem determinados «requintes» que importa aqui salientar. É que não se trata só da propagação de um conteúdo falso, de uma atribuição grave de declarações falsas, mas de toda uma redacção de texto que visa sustentar a mentira de forma confusa e manipuladora.

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Um fascista, combate-se

Evidentemente há sentimentos dúbios em muita gente sobre o debate de ontem. Particularmente para quem procurava ouvir. E seguramente ninguém gosta de gritos.

Mas antes de ir propriamente ao debate, duas notas prévias sobre a organização e direcção do mesmo:

a) uma moderadora, Carla Moita, que não só se absteve do papel de moderar como passou grande parte do tempo a dirigir o debate com questões que nada têm a ver com programas ou poderes presidenciais mas com o programa específico de um dos presentes;

b) a análise ao debate, perfeitamente esclarecedora de Pedro Delgado Alves, também ele sistematicamente interrompido pela jornalista, enquanto um dos outros comentadores tem afinidades mais do que conhecidas a um dos presentes no debate e, também ele, com mais tempo de antena.

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“E porque não com gás?” Pela demissão de José Rodrigues dos Santos

O canal é público e a vergonha é de todos: José Rodrigues dos Santos esteve 23 minutos nas nossas casas, sem contraditório, a negar o holocausto. A forma mais perniciosa e permeável de negar o holocausto em 2020 não é dizer que ele não existiu, mas deturpá-lo, falseá-lo, mutilá-lo na total dimensão do seu horror e descontextualizá-lo.

«A certa altura, há alguém que diz “Epá, estão nos guetos, estão a morrer de fome… não podemos alimentá-los. Se é para morrer mais vale a pena morrer de forma mais humana. E porque não com gás?»

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O punk do bairro negro, um conto de natal

Se me perguntassem como é que me convenceram, a mim que tenho vertigens, a trepar ilegalmente a uma torre da ponte 25 de Abril na noite de 25 de Dezembro de 2005, eu teria de admitir que não me lembro. Porque éramos putos, talvez; porque éramos estúpidos, de certeza; porque houve um desafio e ninguém queria parecer cobarde, provavelmente. E porque era a prenda de Natal dele. Só me lembro de andar, pé ante pé, pelo cabo de suspensão acima, a agarrar com muita força, com as duas mãos geladas de suor e de vento, a vida pelos dois fios de aço que acompanham o enorme tirante que suspende o tabuleiro.

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O estranho caso do jornalismo-comentador

Tem grassado crescentemente uma certa “estirpe” nas nossas televisões, rádios e jornais, um subtipo específico de comentadores que deve merecer toda a nossa atenção. Não falamos de óbvios militantes assumidos deste ou daquele partido, nem sequer daqueles que sempre foram comentadores, ainda que nada o pudesse ou devesse em algum momento justificar. Referimo-nos a uma moda relativamente recente, talvez mais perigosa, sub-reptícia, mas cada vez mais incisiva e presente. Referimo-nos a jornalistas, pivots, repórteres, “polígrafistas”, que, de vez em quando, saltam de uma cadeira do estúdio para outra cadeira do mesmo estúdio, mas agora para assumir o papel de “comentador”. Regra geral, é quando acontece esse momento televisivo «mágico», mas pleno de embaraço e constrangimento público, em que o entrevistador trata o entrevistado e seu colega por “tu”, estendendo a passadeira da relevância a quem dele em nada se distingue.

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Etapas tácticas e alianças

Os mencheviques eram os revolucionários russos que, no início do século XX, defendiam que antes de chegar ao poder operário, a revolução devia cumprir obrigatoriamente uma série de etapas políticas e históricas que, à luz de uma concepção economicista do marxismo, não podiam ser saltadas. Para os partidários de Trotsky, uma sociedade agrária em que o proletariado industrial era demográfica e politicamente embrionário, não podia saltar directamente para o socialismo. Era antes necessário que, sob o timão da burguesia, a Rússia se libertasse o desenvolvimento das forças produtivas as grilhetas do feudalismo. Depois, os mencheviques propunham um longo rol de de etapas protagonizadas por graduais transformações de corte nacional, constitucional, republicano e económico e democrático.

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