Autor: Ricardo M Santos

O mata-oito – até agora

Há 14 dias, escrevia-se aqui que Paulo Macedo continuava sem se demitir, após duas mortes em salas de espera de hospitais. Hoje, o número chegou a oito e continua a não haver notícias de demissão. Nem notícias do ministro, que apareceu há cerca de uma semana a dar umas desculpas esfarrapadas, em jeito de “vamos apurar” e “vamos investigar”. Esta espécie de país está assim. A morrer aos bocadinhos, à espera, ao abandono, às mãos de criminosos, às vontades que já não são obscuras – são clarinhas como água – de um bando. Não é um gangue porque a intimidação é mais subtil e surge através de taxas moderadoras que de moderadas têm quase nada.

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Que idade tem a tua fome?

“Um tostãozinho para a cascatinha!, Um tostãozinho para a cascatinha!” Era assim que, quando era miúdo, por duas ou três vezes – não mais – ali na Rua Óscar da Silva, em Leça da Palmeira, eu e os meus vizinhos abordávamos as pessoas que passavam, com um santo qualquer comprado à pressa no Senhor de Matosinhos. Não era empreendedorismo infantil, era só mesmo para ganharmos uma moedas, que serviriam para trocar por chicletes Gorila na loja da Ana Maria. A cascata nem era elaborada. Era um cartão pousado no passeio junto à entrada da ilha, umas ervas para enfeitar, se calhar, que íamos buscar ao quintal do Guarda Fiscal. Fazia-mo-lo pelo doce. As chicletes eram mesmo boas. Duravam pouco mas dava para nos alegrar os dias.

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Quatropães

Na vila de Quatropães cada um vive como pode. Aqui, quando se sai de casa a molhar os pés no mar, não se vive, sobrevive-se. No calor da revolução ocorrida há 40 anos, Quatropães cresceu em tudo menos nas fronteiras. Havia trabalho e pão e cultura; escolas e hospitais; mais fábricas e exércitos de mulheres e homens, com os filhos pela mão à espera do toque do sino que chamava para a entrada da escola, a que se seguia o toque de entrada na fábrica.

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Jonet ao espelho

Já comecei e apaguei o início deste texto demasiadas vezes. Custa-me ter tanta coisa para dizer que nem que diga. Jonet voltou ao ataque. Isto, por si só, deveria fazer-nos tremer não de medo, mas de nojo. Jonet, profissional da caridadezinha desde 1994, quando deixou de trabalhar. Recordemos quem Isabel Jonet casou com um jornalista da Lusa destacado em Bruxelas para acompanhar a adesão portuguesa à CEE. Curiosamente, esse jornalista passou a integrar a missão portuguesa como responsável pelas relações com a imprensa. Simultaneamente e por acaso, certamente, Jonet passou a trabalhar também na missão lusa, com as funções de tradutora. Em 1994, voltou a Portugal e decidiu deixar de trabalhar. Coisa que continua sem fazer em 2014.

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Só é pacifista quem pode dar-se a esse luxo

Assistimos hoje, em Gaza, a um genocídio com a aprovação da comunidade internacional, tão pronta, noutras ocasiões, a decretar pesadas sanções e ameaças e tudo o resto que faça tremer de medo os media ocidentais. Mais nada. Sejamos realistas, as sanções económicas são o pior que pode haver para quem ainda tem alguma coisa a perder. Porque nunca estas sanções afectam os que deveriam ser realmente os alvos.

Obviamente, ninguém com dois dedos de testa espera, no actual panorama da política internacional, com as movimentações de interesses geopolíticos a que temos assistido às portas da Europa, que surja um bloqueio a Israel. Ou que apareça qualquer coisa a condenar Israel pelo genocídio que está a efectuar em Gaza.

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Novos meios de enformação

Quando, em 1999, a caminho dos 18 anos, entrei pela primeira vez na redacção de um jornal, apaixonei-me. Como quando fui a Londres, apaixonei.me. Apaixonei-me, eu, um gajo manifestamente contra o amor. Havia qualquer coisa naquele sexto andar que me prendeu de uma forma indescritível. Entrei e ninguém me ligou nenhuma. Normal, presumo. O barulho dos teclados que se misturava com os dos telefones, a procura das fontes e as pessoas que subiam e desciam até ao sétimo andar, onde estava então a paginação.

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A que sabe o pão que comes?

Quando um projecto musical denominado “Zeca Sempre” decidiu censurar a merda a que sabia o pão que o Zeca cantou confesso que fiquei pasmado com a ousadia. Não é comum que sejamos ousados a este ponto; homenagear alguém fazendo precisamente aquilo contra o que o alvo do tributo sempre se bateu.

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Filhos da puta

Não sei bem por onde começar, confesso. O cancro é uma doença filha da puta; diz-me muito, não por mim, felizmente, mas por outros. Sim, aquela mania de tomar as dores dos outros como se fossem minhas. Ou nossas. Poucos ou nenhuns estarão entre os sortudos que não têm um amigo ou familiar que teve ou tem cancro.

Eu tive, bem de perto, e guardo cá dentro uma das imagens que há-de acompanhar-me para sempre. O Público de hoje conta-nos uma história daquelas que devia fazer-nos corar de vergonha.

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