Todos os artigos: Internacional

Espanha é uma estaca

Conta o rei Juan Carlos que, dias antes de morrer, Franco o mandou chamar e lhe disse: «majestade, peço-lhe apenas que preserve a unidade de Espanha». Eis os dois nós que aguentavam todas as cordas da promessa de que deixava «tudo atado e bem atado». Desde a guerra de 36, as cordas da unidade de Espanha e da monarquia seguram o fascismo e o capitalismo.

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Em catalão, diz-se llibertat

“A polícia espanhola chegou”. Imediatamente, uma muralha de mulheres e homens dispõe-se para impedir que levem as urnas. Depois de uma violenta carga policial, as forças da repressão conseguem invadir a assembleia de voto de Sant Iscle. Quando entram no Casal de la Gent Gran deparam-se com um cenário que não esperavam. Dezenas de pessoas jogam dominó como se fosse um dia normal e continuam a fazê-lo entre cassetetes, escudos e capacetes. Não há urnas. Não as encontram em parte alguma e decidem partir. Os jogadores de dominó abraçam-se. Os habitantes de Sant Iscle abraçam-se. Meia hora antes, alguns deles haviam fugido com as urnas e os votos por uma porta secreta e esconderam-nos num nicho do cemitério. Depois, trouxeram todo o material de volta e o resto da população pôde votar. Pois é. Nenhuma brutalidade policial e nenhum Estado repressivo podem esmagar a vontade de um povo que decidiu o seu caminho.

Louçã. Fica tudo dito.

No dia 12 de Julho, o BE apresentou na Assembleia da República um voto de condenação e repúdio pela discriminação contra a comunidade cigana na Freguesia da Cabeça Gorda. De nada valeu que, pela altura da apresentação do voto, já a Freguesia da Cabeça Gorda tivesse esclarecido que o enterro do homem da comunidade cigana não se podia realizar no cemitério local pelo simples motivo de que existia um regulamento que o impedia, dado o facto de ali não ter pertença, nem morada passada ou presente.

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As tranças de Maria

“Se passeares no adro no dia do meu enterro diz à terra que não coma as tranças ao meu cabelo”, cantam por vezes as mulheres da região de Lafões. Com uma das mais bonitas tranças que vi até hoje, dias antes de morrer, a irmã quase nonagenária da minha avó contou-me a história da deserção do meu bisavô. Acamada e ensombrada pela cegueira num lar transmontano, desdobrou a memória e falou do rapaz que andou clandestino durante meses pelas montanhas do Larouco. Não fazia ideia de quem era Lénine e do que havia sido a Conferência de Zimmerwald mas o pastor e contrabandista, que acabaria por morrer sem nunca ter visto o mar, decidia há cem anos adiar a morte evitando uma guerra que não lhe dizia nada.

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O meu primo disse que…

Emigrante barricado com arma ameaçou matar a mulher, diz a TVI. Às vezes, nem tudo o que os portugueses fazem lá fora é bom. E nem precisamos de dar o exemplo do colonialismo, do Durão Barroso e do Duarte Lima.

Por estes dias, a propósito da Venezuela, volta a tendência para se dizer que alguém só pode falar de um acontecimento político em determinado sítio se lá se tiver estado ou se se conhecer alguém desse lugar. Se não se viveu na Venezuela nem se tem um primo na Venezuela parece que não se tem direito a opinar. Isso tem sido usado como argumento para defender que ali há uma ditadura. Porque um primo qualquer disse, claro.

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5 mentiras do BE sobre a constituinte venezuelana

Apesar do boicote da oposição de extrema-direita, mais de oito milhões de pessoas elegeram a assembleia que irá redigir a próxima constituição da Venezuela. Oito milhões de eleitores é mais do que o total de votantes da MUD opositora, em 2015, ou que o número de votantes de Maduro, em 2013. O BE, no entanto, qual taquígrafo do Observador, faz coro com a campanha da comunicação social portuguesa e repete, histérico, que a Venezuela é uma ditadura.

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Pode o passado mascarar-se de futuro?

Uma vez, conheci um homem que viajou no tempo. Mergulhou na vertigem espacio-temporal que o catapultou dos anos 80 para o presente e encontrei-o numa das margens da ria de Bilbau. Entrou na máquina que o trouxe ao futuro ainda jovem e saiu com o rosto enrugado pelo tempo. Respondeu-me que era mentira. Que tinha vindo do futuro e que aterrara no passado. De uma cidade cinzenta e industrial onde a luta de classes era o motor da história, observava agora como se afogava a rebeldia nas mornas águas da cidadania responsável. Curioso, perguntei-lhe como havia viajado no tempo. Um dia, a polícia emboscou-o e metralhou-o. Moribundo, conseguiu sobreviver e viveu sequestrado durante três décadas nos cárceres espanhóis.

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