Todos os artigos: Nacional

8 de março, Dia Internacional da Mulher: o mito original e outras fábulas mais ou menos modernas

O Dia Internacional da Mulher foi, da sua origem aos dias de hoje, avançado e defendido por comunistas, expressando, de modo inequívoco, a visceral ligação entre a luta pela emancipação das mulheres e a luta pela libertação da classe trabalhadora.

Passado para lá de um século do mais selvagem liberalismo e reformismo, as raízes comunistas foram-se vendo cobertas por um estéril composto de “empoderamento feminino” e outras falácias individualizantes, artificialmente gerado a partir de algumas das mais reaccionárias fábulas: uma espontânea origem norte-americana, impermeável ao projecto soviético e dependente da democracia burguesa como marco maior de igualdade.

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A fractura exposta

Desde a entrada para o mercado único europeu, especialmente com a entrada no “pelotão da frente” da adopção do marco alemão travestido de novas vestes e nome, que os trabalhadores portugueses têm vindo a sofrer as consequências das opções dos traidores de Abril que até aqui nos trouxeram.

Fizeram-no com a pompa e circunstância que a classe dominante entendeu atribuir ao projecto “europeu”, fizeram-no porque rapidamente perceberam que a entrada de Portugal num projecto federalista – colonizador da periferia e assente na institucionalização do capitalismo – seria uma das formas mais eficazes de travar o desenvolvimento do projecto de Abril. Na altura PS e PSD competiam em Portugal para ver quem alinhava com mais afinco na moda europeísta, quem diziam com mais convicção que íamos ganhar como os alemães e que não podíamos ficar de fora porque seríamos excluídos e ostracizados.

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Yaka, voz da descolonização

Imagem do documentário "Independência", de Fradique (Mário Bastos), 2016

Erro de Português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

Oswald de Andrade, Pau-Brasil, 1925

Um poema escrito por um brasileiro, na década de 20, para dar início a um artigo sobre um romance angolano, escrito nos anos 80? Passo a explicar — Oswald de Andrade, aludindo a um registo de Pero Vaz de Caminha (23 de Abril de 1500), refere-se à chegada dos portugueses ao Brasil, durante uma tempestade, entre ventos de sueste e copiosos chuvaceiros. Ao “vestir o índio”, os portugueses estariam, literalmente, a agasalhá-lo, e, figurativamente, a impor a sua cultura, numa tentativa de civilizar os povos nativos. Depois, apresenta um cenário avesso, alternativo, que desconstrói a pretensa grandeza épica dos Descobrimentos através da inversão de papéis — “Fosse uma manhã de sol”, um dia bom, e o índio não seria submetido à dominação colonial; teria “despido o português” ou, melhor ainda, tê-lo-ia despojado da sua ambição usurpadora. Yaka, de Pepetela, começa pela tempestade, a violência colonial, e termina anunciando a alvorada soalheira que firmou a independência de Angola. Tendo como fio condutor a longa vida de Alexandre Semedo, personagem principal e colono de origem portuguesa nascido em Benguela, o autor faz um retrato brilhante e historicamente rigorosíssimo das várias fases da luta pela independência, em Angola, e a progressiva descolonização do imaginário de Alexandre. O patriarca da família Semedo é, de facto, “despido” de todos os seus preconceitos, aspirando, no final da vida, não à extensão do seu privilégio, mas à libertação do território angolano. 

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Almirante das Injecções e a (mesma) «ordem»

Portugal conheceu, nos últimos séculos, vários líderes que exerceram ou ficaram associados ao poder por vicissitudes efectivamente marcantes na História de Portugal. Pode voltar a acontecer num futuro muito próximo. Depois de um Marquês de Pombal pelo iluminismo despótico, de um D. Pedro IV pelo liberalismo, de um D. Miguel pelo absolutismo, de um Afonso Costa pelo jacobinismo republicano, de um Sidónio Pais pelo reaccionarismo monárquico e de um Salazar pela ditadura e pelo fascismo, está na iminência a chegada de um Almirante por injecções em gimnodesportivos. Por um lado, o marialvismo hipersensível ao bafio do passado e que se prepara para votar no “chefe” possível que “ponha tudo na ordem”, talvez não mereça, de facto, nada mais honroso do que desaguar nesta tão humilhante caricatura histórica. Por outro, considerando as lições do passado e a marcha actual das alegadas «democracias» ocidentais, o perigo que isso acarreta, ou que pode acarretar, é inquestionavelmente muito real.

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A prioridade dos cinco

Momento captado pela câmara de videovigilância da fuga dos reclusos / aberto buraco no arame farpado para esconder a escada que possibilitou a fuga.

Breve introdução temática

A 31 de dezembro de 2023 estavam recluídas, em Portugal, 12 193 pessoas: 11 287 homens e 906 mulheres. Aqui incluem-se 347 pessoas inimputáveis a cumprir medidas de segurança – das quais 166 internadas em clínicas psiquiátricas prisionais e 181 em clínicas e hospitais psiquiátricos não prisionais. Dos 49 estabelecimentos prisionais portugueses, 24 excediam a lotação, à data. Dos 22 considerados de elevado grau de complexidade de gestão, três tinham ultrapassado a sua lotação: Caxias, com 24 reclusos acima da capacidade; Vale do Sousa, com 3 e Porto (Custóias), com uma diferença de 197. Dos 27 considerados de grau médio de complexidade, apenas seis se encontravam abaixo ou no limite da capacidade: Viseu, Vila Real, Torres Novas, PJ Porto, Évora e Covilhã.

A 31 de dezembro de 2024 estavam recluídas um total de 12 207 pessoas – 11 320 homens e 887 mulheres – e a 1 de fevereiro de 2025 o número fixava-se num total de 12 195 reclusos – 11 315 homens e 880 mulheres – o que não representa uma variação significativa entre o final de 2023 e o início deste ano. Embora ainda não estejam disponíveis os dados estatísticos globais de 2024, poderemos depreender que, salvo também pequenas variações na distribuição de reclusos pelos 49 estabelecimentos prisionais, a situação não andará muito longe do mapa do final de 2023.

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Maria, Mulher de Abril, Bruxa da Palavra

“Isto é para aprenderes a não escrever como escreves” — disseram-lhe dois homens enquanto a espancavam, numa rua estreita, no Arco do Cego. Foi, em tempos sombrios, o preço a pagar pela sua ousadia, pela recusa de um “lirismo comedido”, resignado, conformista. Hoje, especialmente hoje, podemos olhar o triste episódio e pensar que Maria Teresa Horta, co-autora das emblemáticas “Novas Cartas Portuguesas”, estaria a fazer alguma coisa bem. Essa coisa que, quando ainda em construção, era já uma ameaça ao fascismo beato que oprimiu o nosso povo durante 48 anos e à sua natureza castradora da expressão poética. O legado que nos deixa é a materialização da sua resistência impudica contra a repressão fascista, em primeiro lugar, e contra a dominação patriarcal, essa inaugural camada tão sua com que viria a engrandecer a poesia portuguesa.

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Direitos constitucionais não se vendem, não se compram, não se referendam.

“No 3.º trimestre de 2024 (dados provisórios) a renda mediana dos 23 684 novos contratos de arrendamento em Portugal atingiu 8,00 €/m2 . Este valor representa um crescimento homólogo de 10,7%, inferior ao observado no trimestre anterior (11,1%). Quando comparado com o 3.º trimestre de 2023, o número de novos contratos de arrendamento diminuiu 5,0%. (…) As rendas mais elevadas registaram-se na Grande Lisboa (13,53 €/m2 ), Região Autónoma da Madeira (10,66 €/m2 ), Península de Setúbal (10,18 €/m2 ), Área Metropolitana do Porto (9,09 €/m2 ), Alentejo Litoral (8,82 €/m2 ) e Algarve (8,81 €/m2 ). No 3.º trimestre de 2024, verificou-se um aumento homólogo da renda mediana nos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes, destacando-se o Funchal (25,9%) com a maior variação homóloga e Lisboa com a maior renda mediana (16,18 €/m2 ), embora com uma taxa de variação homóloga (3,0%) inferior à nacional (10,7%).” – www.ine.pt

Lucros da banca após dedução de impostos em 2023: 5 281 718 milhares de euros. – www.apb.pt

“Com o apoio da IL e Chega, PSD, CDS e PS dão 365 milhões aos grupos económicos em IRC.” – www.pcp.pt

“A lei dos solos é um aproveitamento para alimentar a especulação.” 
– Intervenção de Alfredo Maia na Assembleia da República, 24 de janeiro de 2025

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Isto não é um país

A realidade política dos tempos hodiernos lembra ser retirada das páginas de uma novela distópica, surreal, mediocremente escrita e de categoria inferior, mas perturbadora que baste para se querer saber o que vai acontecer no seu final.

A narrativa actual é a de uma classe dominante embrutecida num país que parece não saber encontrar-se, que abandonou o pensamento crítico e científico, que se expressa formalmente de uma forma infantilizada e estupidificada, que rejubila pateticamente na sua indigente servidão e aplaude enfaticamente um conjunto de frases pobremente articuladas aos urros. Vendemos a alma e a pátria, somos senhores de destino nenhum, escravos absolutos de determinações alheias e em degradantes reverências a esses tiranos transatlânticos e europeístas chamamos de amigos, aliados, parceiros, mesmo perante o abismo da guerra, do genocídio e da miséria, e só aos povos que se querem livres os olhamos como infestos. Como tolos esperançamos dobrados a uma vida melhor, enquanto os nossos pretensos donos nos cumprimentam com uma saudação fascista.

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