Um bufo da PIDE a Presidente da República?
As cartas de Marcelo

Um bufo da PIDE a Presidente da República?
O custo das campanhas das presidenciais e a forma como Marcelo Rebelo de Sousa foi louvado pelos media já foi aqui abordado, e tão bem, pelo António. Não é sobre isso que me apetece escrever, embora isto ande tudo ligado. No dia 3 de Janeiro de 2016, o Público decidiu vender um folheto de campanha do candidato que é tão independente do PSD/CDS como eu sou vegetariano.
A grande notícia de ontem foi que Edgar Silva é o candidato à Presidência da República com o maior orçamento de campanha. Os jornalistas, como ainda não podem adjectivar a deixa com «escandaloso!», fazem-no com a melodia da voz, com a entoação e com as pausas no discurso, levado ao histriónico da náusea e do rancor.
E, apesar da dimensão da campanha, o «candidato apoiado pelo PCP» que, ao contrário de Marisa Matias, Marcelo Rebelo de Sousa ou Maria de Belém, é o único apresentado pela sigla partidária, permanece invisível aos holofotes mediáticos. Porque será? A resposta é que a candidatura de Edgar Silva tem algo que mais nenhuma tem. Algo que assusta muita gente.
Banif. Pois claro. Tinha de haver uma muito boa razão para o gangue direitista não querer largar o poder tão cedo. Tinha de haver ali qualquer coisinha a «salvaguardar» a todo o custo, mesmo estando os dois partidos em minoria na Assembleia da República. Tinha de haver lixo – e que lixo! – debaixo do tapete. Havia que continuar a esconder o crime e a abafar o odor a cadáver com mais quatro anos de PAF. Tudo debaixo da total complacência e “cooperação institucional” de alguém que, sem dúvida informado em detalhe desta tramoia – Cavaco Silva – tem sido arredado das culpas e do leque de responsáveis pelo desastre que os contribuintes, mais uma vez, vão ser chamados a pagar. Será uma pena se ninguém o chamar, ou se ninguém o interrogar formalmente, na anunciada e mais que justificada comissão de inquérito ao caso Banif.
As eleições gerais no Estado espanhol ditaram, este domingo, o fim da hegemonia eleitoral do PSOE e PP. À custa de uma extraordinária pulverização do sistema partidário, entraram no congresso 13 candidaturas, das quais se destacam os fenómenos Podemos e Ciudadanos.
Descaradamente promovidos pela comunicação social da classe dominante, estes dois partidos vêm assumir a herança ideológica dos seus padrastos políticos: Ciudadanos que alcança 40 mandatos, opera à direita a recomposição possível do PP, o grande castigado do escrutínio, com menos 63 eleitos; já o Podemos permite, aliás à semelhança do binómio grego PASOK-Syriza, esvaziar em segurança o desprestigiado e desgastado eleitorado do PSOE.
A morte do David Duarte não tem outro nome. É um assassinato. E quando assim é, a culpa não é só de quem dispara. É também de quem aponta e de quem dá a ordem. É de quem o encaminhou para um hospital sem recursos humanos, é de quem deu a ordem de limitar o financiamento à assistência hospitalar e é de quem a executou. É, principalmente, do anterior ministro da Saúde que, antes, havia sido administrador de uma seguradora e que seguiu os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros na gestão do Serviço Nacional de Saúde. É de Passos Coelho e de Paulo Portas que nos chamaram piegas e exigiram que aguentássemos a tragédia sem protestar.
Paulo Portas descobriu a sua nova campanha populista. Com medo de voltar às feiras, envereda agora pelo seu chavão favorito; os partidos que criticam a acção do seu governo e propõem alternativas são ideológicos.
Como a maioria dos chavões do faceto tal afirmação não tem crédito em lugar algum, com excepção na demagogia ou de alguma forma tautológica que, na sua boca, é habitual.