Tal afirmação pertence a Sérgio Silva Monteiro e poderia passar despercebida na alarvidade discursiva da cartilha neoliberal dominante na nossa sociedade (juntamente com afirmações idênticas sobre a “venda” do Novo Banco por Stock da Cunha) não fosse este senhor o Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações. Não entrando na eficácia desta maravilhosa técnica de vendas (só imagino os compradores a esfregarem as mãos de contentes!) assunto sobre o qual pouco me interesso, não deixo de ler na afirmação o lema da economia política vigente do actual governo.
Todos os artigos: Nacional
Da (Ca)vacaria ao curral das comendas
Parece que o costureiro da nossa cavacal primeira-dama, Carlos Gil, foi ontem condecorado com a comenda de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Confesso que não percebo muito de comendas. Mas a verdade é que uma pesquisa pelo site da Presidência me leva a ficar a saber que a “Ordem do Infante D. Henrique destina-se a distinguir quem houver
prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores”. Não vamos entrar pelo caminho frágil de discutir a expansão da nossa cultura que é levada a cabo pela Maria Cavaca. Bem sabemos que, em grande parte, as distinções presidenciais deste tipo têm critérios subjectivos e são muitas vezes arbitrárias. Mais ou menos como se escolhe a vaca para abate. Narciso Miranda é comendador, por exemplo.
Este Partido não é para velhos. Nem para novos. Este Partido é para todos. Melhor. Este Partido é de todos.

Quis o destino que ontem, dia seguinte à Marcha da CDU, fizesse uma viagem solitária de automóvel durante umas três horas. Nessas alturas, para lá do som das colunas, o diálogo é do umbigo com o cérebro, e a páginas tantas pergunta o meu umbigo ao meu cérebro: olha lá, tu que ontem foste à Avenida, só deves ter visto velhos por lá, não? Assertivamente, responde-lhe o cérebro: não e temos os olhos como testemunha!
O que é que nos surpreende na Marcha apagada?
O que é que ainda nos surpreende quando não vemos a gigantesca marcha de sábado nos media? Não entendam mal, que subscrevo linha por linha o artigo do Filipe. Mas, para quem já anda nisto há algum tempo, e nem precisa de ser muito, não é de estranhar. É de denunciar, de divulgar, é verdade que já nos deixa um bocadinho tristes e revoltados. Deve ser por isso que ainda há quem diga que parámos no tempo, porque ainda temos a força necessária para nos indignarmos. E, às vezes, vamos buscar forças sei lá onde.
Não há partido com património de luta que se aproxime, sequer, do PCP. Nos anos do fascismo não eram os que estiveram no Coliseu no mesmo dia em que estivemos na rua que davam o peito às balas. Eram os pais de alguns deles, ao que consta. Naquela altura, o bloqueio ao PCP era legal e oficial.Obrigatório. Depois da Revolução de Abril, deixou de ser. Com o 25 de Novembro passou a ser oficioso.
A arte de desinformar
Portugal não é um país com muita população. Assim, os grandes iniciativas de massas, com dezenas e centenas de milhares de pessoas são fenómenos raros e por isso mesmo alvo de grande atenção mediática. Num breve exercício de memória, podemos recordar grandes acontecimentos e celebrações desportivas, manifestações do movimento sindical e de outros movimentos sociais, alguns eventos religiosos, santos populares, grandes concertos e espectáculos musicais com artistas internacionais de renome. Haverá mais um ou outro exemplo, mas não muitos mais. E, com excepção das grande manifestações sindicais, estes acontecimentos são alvo de grande divulgação e atenção mediática, antes, durante e depois de terem lugar.
A Marcha Nacional A Força do Povo, ocorrida ontem e promovida pela CDU, segundo a sua organização teve a participação de cerca de 100 mil pessoas. Não discutirei este número, não tenho essa intenção ou objectivo, pois, tendo participado nesta Marcha, em nenhum momento consegui ver o seu início e o seu fim devido à sua magnitude. Mais importante do que a precisão científica de um número final, importa sublinhar a sua dimensão humana e impacto político.
Eu gostaria de referir que sou de uma região longe de Lisboa. Onde o PCP não tem a implantação que precisava para melhor intervir, e onde a CDU não tem nenhum deputado ou sequer vereador eleito, tão pouco qualquer maioria em Junta de Freguesia. E desta região, saíram cerca de 700 democratas para a Marcha. Portanto, fica claro que, não sendo esta Região uma excepção positiva à regra, a Marcha foi uma iniciativa com muita, muita gente.
Se iniciativas desta dimensão humana são raras, com a natureza de apoio político são ainda mais raras. Nas últimas largas décadas, as únicas iniciativa de dimensão e natureza semelhante foram as marchas do PCP em 2008 e da CDU em 2009. Ou seja, a marcha de ontem foi singular e seria expectável que sob qualquer critério com o mínimo de razoabilidade tivesse uma cobertura noticiosa relevante. Mas não foi nada disso que aconteceu…
RTP empurra para a frente
O Telejornal da RTP não considerou que a Marcha fosse motivo de abertura, pelo contrário, empurrou-a para o mais tarde que conseguiu. Assim, apenas 20 minutos após o seu início veio a primeira de duas curtas peças sobre a Marcha. A ordem cronológica do Telejornal até à Marcha foi, a abrir o caso Sócrates, depois Passos sobre Sócrates, incêndio em fábrica de tintas, convenção do PS, lesados do BES, iniciativa de PSD e CDS(repescada, pois tivera lugar no dia anterior), novamente a convenção do PS(só sobre a convenção do PS foram mais de 6 minutos), e eis que, finalmente, a CDU.
As duas peças juntas, as tais que apenas ao fim de 20 minutos a RTP apresentou, tiveram os tempos somados de 3 minutos. Em nenhuma das peças houve qualquer plano panorâmico sobre a Marcha, apenas imagens focadas sobre quem estava em palco ou pequenos grupos de manifestantes.
Na segunda peça houve um breve roda-pé sobre o número de autocarros(que rapidamente saiu de imagem), nas duas peças houve 3 entrevistas a participantes, não se tendo feito qualquer referência aos números da organização sobre o total de participantes. Apenas se soube que a Marcha “reuniu várias gerações”.
Na SIC, a estrela foi a Branquinha
A SIC conseguiu fazer um pouco pior que a RTP, conseguiu ridicularizar-se ainda um pouco mais.
O Jornal da Noite da SIC também empurrou a Marcha da CDU mais para a frente, abriu com o caso Sócrates, seguiu para a convenção PS e, ao fim de 9 minutos, lá chegou uma única peça sobre a Marcha.
A primeira imagem da peça, o primeiro impacto, que a SIC dá da Marcha é a de uma cadela a beber água, seguem-se mais 40 segundos com a cadela a beber água e/ou em acrobacias rumo ao colo do dono, e ainda uma entrevista ao dono onde o telespectador fica a saber que a branquinha “é um cão espectacular que veio da rua”, dos 4 minutos totais que durou a peça da SIC, os primeiros 40 segundos foram passados nisto.
Após o destaque a Branquinha, uma imagem positiva da cabeça da Marcha, a que se seguiram diversas entrevistas aos participantes, o que não teria mal nenhum desde que não se entendesse que esses grandes planos individuais seriam instrumentais para esconder tudo o resto que se passava à volta, como de facto aconteceu. Seguindo esta linha de encobrimento, a SIC colocou em imagem na peça um momento em que o grande plano é uma Praça dos Restauradores mal composta e com a Marcha ainda por chegar.
De resto, mais do mesmo, nenhuma perspectiva panorâmica sobre a Marcha e da intervenção de Jerónimo de Sousa tivemos 31 breves segundos(a Branquinha teve 40 segundos de atenção). Nenhuma referência ainda ao número de participantes da organização, ou outros por tentativa de aproximação. O telespectador limitou-se a ouvir que foram milhares…o que conjugado com as imagens exibidas permitiria eventualmente concluir que não estariam muitos milhares.
A TVI não foi a pior
A TVI seguiu um critério semelhante ao da RTP e SIC. Contudo com algumas diferenças que é justo referir.
Devido à final da Liga dos Campeões de futebol, o Jornal das 8 começou às 19:00. Cronologicamente, a sua sequência de abertura foi(e a esta hora ainda não havia notícias de Sócrates) a final da Liga dos Campeões, o incêndio na fábrica de tintas, a convenção do PS, iniciativa de PSD e CDS(tal como a RTP, também foi repescar uma iniciativa já do dia anterior), e finalmente a Marcha numa peça de apenas cerca de 2 minutos.
A peça da TVI destaca-se das peças da RTP e SIC apenas por dois motivos, foi a única que, pelo menos, tentou dar uma imagem panorâmica que reflectisse dentro do possível a dimensão da Marcha e foi a única que citou o número de manifestantes referido pela organização. Os seus breves 2 minutos assim até nem pareceram tão maus, e terão permitido ao telespectador ter uma ideia da dimensão da Marcha.
Em relação aos jornais de Domingo dia 7, zero.
Nos quatro principais jornais generalistas de hoje, Domingo dia 7 de Junho, nenhum faz qualquer referência de capa sobre a Marcha de ontem. O Público deu a sua fotografia de capa a um “caçador de tesouros” e é o único jornal que faz uma breve, mas errónea no conteúdo, referência ao “líder do PCP”. Ao que parece no desenvolvimento da notícia d’O Público lá vem a fúria, a aldrabice e a cegueira costumeiras.
Creio que estes encobrimentos e desaparecimentos da Marcha Nacional A Força do Povo, nas várias deturpações publicadas, pelo estilo, natureza e forma, pelo método e conteúdo, não serão mera azelhice ou coincidência, falta de atenção ou de pessoal de serviço. Antes reflectem opções políticas e ideológicas dos proprietários económicos da comunicação social, ou proprietários fácticos das suas linhas editoriais, colocando-as ao serviço dos grandes grupos económicos, intoxicando e subvertendo o papel e função da comunicação social.
Quem paga, manda. Quem tem o poder, manda. E as eleições vêm aí. A CDU, o seu projecto e a sua força humana são incómodas, são para desaparecer, por forma a que tudo siga como até agora. Pensarão eles.
P.S.- a Marcha da CDU observada pela perspectiva da televisão venezuelana TeleSur aqui
P.S.2- para que não haja qualquer mal-entendido, gostava que ficasse claro que gostei de ouvir tudo o que os camaradas e amigos presentes na Marcha disseram e como disseram aos órgãos de comunicação social(as suas motivações são as minhas). Estamos na Luta!
* Autor Convidado
Filipe Guerra
Cultura, Mercado e Estado
A cultura não é algo que se possa suprimir, independentemente das vontades e volatilidades do mercado, das políticas do Estado ou da inexistência do próprio. Com ou sem mercado, com ou sem Estado, a cultura continuará a ser um inexorável resultado da existência das sociedades. Se a cultura é conjunto de práticas, símbolos e expressões, códigos estéticos, éticos, morais, necessariamente sociais, então ela existe na medida em que o ser humano é humano e cria códigos, símbolos e práticas sociais. Contudo, a divisão das sociedades em classes atravessa esse conceito de cultura, afecta-o, influencia a quantitativa e qualitativamente cada uma das expressões culturais, bem como a sua utilização.
9 de Junho – arte, cultura e resistência
No dia 12 de Maio, em sede de Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, o Liquidatário de Estado da Cultura assumiu, em resposta a uma questão apresentada pelos deputados do Partido Comunista Português (escondida como é habitual das páginas de jornal, notícias de rádio ou de canais de televisão), que os resultados do Concurso para Apoio Directo às Artes seriam divulgados até ao dia 20 de Maio.
O concurso de apoio directo às artes em curso na altura refere-se aos apoios anuais e bienais, o que significa que corresponde a programas de financiamento da criação artísticas para o ano de 2015, no caso dos apoios anuais, e para 2015 e 2016, no caso dos bienais. É importante dizer que o concurso encerrou no dia 28 de Janeiro de 2015 e que os resultados saíram afinal no dia 29 de Maio, pelas 21.30h. Ao mesmo tempo, a DGArtes tem a sua página de internet em baixo e toda a interacção com as estruturas candidatas a apoios é feita através de facebook, essa plataforma oficial desde que Cavaco Silva a usou para se dirigir aos portugueses que são seus seguidores, que os restantes não contam.
De pequenino se torce o bastão extensível
A esmagadora maioria dos fenómenos sociais, económicos, culturais e até pessoais, são mais claros e mais bem explicados quando analisados à luz da luta de classes. Mas há alguns que saem desta esfera de análise e pertencem a algo milenar: a estupidez humana.
Isto a propósito da celebração do Dia Mundial da Criança em Portalegre. Achou por bem a câmara municipal, presidida por Adelaide Teixeira, independente do movimento CLIP – os independentes, esse milagre da evolução democrática -, e a PSP local integrar a simulação de uma manifestação nas comemorações da data. Um mini-corpo de intervenção contra um mini-grupo de manifestantes. Crianças armadas com pequenos escudos e bastões a serem atingidas por bolas de papel que simulam pedras da calçada arremessadas por outras crianças.