Viver e crescer na Juventude Comunista

A vida está cheia de aniversários importantes que ninguém celebra: aprender a andar de bicicleta, o primeiro dia de escola, a última vez que abraças alguém de que gostas, o momento em que compreendes alguma coisa essencial sobre o mundo em que vives. Hoje, há precisamente 12 anos atrás, eu subia a velha escadaria do Centro de Trabalho do PCP na Amadora e tornava-me militante da Juventude Comunista Portuguesa.

Eu tinha 14 anos e os trabalhadores da SOREFAME estavam em luta. Eram operários altamentes especializados e com décadas de experiência a fabricar comboios, barragens e maquinaria pesada. Quando os patrões decidiram deslocalizar a produção, os trabalhadores disseram não. Eram o coração e o orgulho da Amadora operária, não se iam render. Então os capitalistas arquitectaram um plano para roubar a maquinaria durante a calada da noite.

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Das desigualdades da morte #revisitado.

Em Agosto de 2013 escrevi este texto sobre a morte do meu Pai.

Hoje li que «A padecer de uma leucemia aguda, Manuela Estanqueiro, uma professora de 63 anos, viu a Caixa Geral de Aposentações negar-lhe a reforma duas vezes. A instituição só emendou a mão escassos dias antes de a docente morrer, em 2007, depois de a ter forçado a dar aulas em grande sofrimento.».

Deixo-o novamente, para que ninguém se esqueça que nem na morte somos iguais.

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O trabalhador morreu

«Tira o chapéu, milionário, vai um enterro a passar. Foi a filha de um operário, foi a filha de um operário, que morreu a trabalhar.»

Lembro-me exactamente da primeira vez que ouvi frase, cantada entre a «gota d’água», com uma adaptação popular dos militantes comunistas. Sentada em Aveiro, na nossa Festa, olhava os camaradas cuja veia vibrava nas suas gargantas enquanto entoavam as letras que desconhecia. E imaginava um homem, de fato, com um grande chapéu, olhando os operários com as suas fardas azuis envergando um pequeno caixão.
Mas essa imagem era sempre desenhada com figurinos de um século que já não era o nosso. Talvez fosse a época pós revolução industrial, a introdução do taylorismo, o fordismo, os ritmos intensos, as imagens de Chaplin a apertar os botões da roupa dos transeuntes com as suas chaves de fendas.

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«Está tudo bem com o BES»

Tal como Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva e Carlos Costa nos tinham diligentemente “informado” há poucos dias, parece que está mesmo “tudo bem” com o BES. Finalmente, alguma estabilidade. Finalmente, os mercados, livres que estão da agitação e perigo de “eleições” e “crise política”, podem estar tranquilos e banhar-se na solidez, correcção, licitude e transparência das contas de um dos maiores bancos nacionais.

Não há ‘mesmo’ razões para alarme. Os problemas são ‘mesmo’ no GES que, aliás, não tem nada a ver com o BES e nada do que se passou no BES foi senão um mero ‘lapso’ sem grande importância. Ao estilo cherne em declarações pós-almoço, “que se calem” aqueles que dizem que isto pode ser um novo BPN. Nada disso. Até porque no BPN, apesar do esforço dos seus valorosos gestores, nunca houve competência suficiente para chegar à “pipa de massa” de mais de 3500 milhões de prejuízo num único semestre. Afinal de contas, por comparação com os gestores do BES, os do BPN não passam de uns tristes amadores.

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A Ocidente nada de novo

O termo Ocidente está hoje na boca de todos, dos fanáticos salafistas aos imperialistas norte-americanos, passando pela esquerda europeia e pelos burocratas de Bruxelas. Porém, é utilizado quase sempre numa acepção coloquial, como que para descrever alguma coisa tão visível e evidente que dispensa automaticamente perguntas e explicações. Contudo, o Ocidente não é de todo fácil de identificar e definir. O que haverá de mais ocidental que os Direitos Universais do Homem ou o Santo Ofício, os campos de concentração e a liberdade? Ao longo de períodos históricos tão irreconciliáveis como o Renascimento e a Idade Média, o Ocidente foi disperso pelo mundo, elogiado e vilipendiado. O seu significado parece ter-se transformado em tudo e dissolvido em nada.

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Israelitas cantam «Amanhã não há escola! Já não há lá mais crianças! Gaza é um cemitério!»

Depois de uma deputada israelita declarar que todas as mães israelitas devem ser assassinadas, depois dos seus académicos apelarem à violação das mulheres palestinianas, depois das fotografias de israelitas a assistir a bombardeamentos a comer pipocas como se estivessem no cinema, chega-nos um vídeo de cidadãos israelitas a cantar e a celebrar a morte das crianças de Gaza.

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“O futuro é revolucionário ou reacionário? Terra, o desequilibrismo disso…!” – por Joana Manuel

Intervenção no debate “Portugal. E o futuro?”, comissariado por Cristina Peres e Pedro Santos Guerreiro, a 26 de Abril de 2014 no São Luiz Teatro Municipal

Em Itália o dia 25 de Abril é um feriado estranhamente próximo e afastado do nosso. Próximo porque é também o “dia da libertação” dos fascismos que marcaram o século XX. Distante por tantas outras razões. Não corresponde a um dia, mas a uma convenção, em que se celebra especificamente a libertação de Turim e de Milão — até 1 de Maio libertou-se a restante região norte, até Veneza. A libertação de um fascismo de 20 anos e o fim de uma guerra de cinco, uma guerra onde se soube que se participou — do lado errado. Clara e assumidamente o início de um processo, até ao referendo que decidiu que a Itália seria, não uma monarquia, mas uma República Constitucional. Ainda hoje se repete em Itália, em cartazes, em pancartas, em graffittis: la liberazione è un esercizio quotidiano. A libertação — ou a liberdade — é um exercício quotidiano.

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