Este dia nosso

Todos
que marchais pelas ruas
e deteis as máquinas e as fábricas
todos
desejosos de chegar à nossa festa
com as costas marcadas pelo trabalho,
saí a 1º Maio
o primeiro dos dias.
Recebê-lo-emos, camaradas,
com a voz entrecortada de canções.

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Longos Corredores

Comecemos pelas boas notícias! Jorge Coelho aparenta boa saúde e ainda afecta o estilo que lhe é característico: algo espontâneo, um pouco inflamado, muito trauliteiro e olimpicamente bronco. É bom saber! Porque Jorge Coelho esteve tanto tempo longe das luzes da ribalta que começámos a nos perguntar se não lhe teria acontecido alguma coisa… O que nunca esperaria do desaparecido dirigente do PS que quatro vezes foi ministro, é que usasse a homenagem aos antigos presidentes Federação da Área Urbana de Lisboa do PS para cometer um atentado contra a História e a inteligência de todos nós. Discursando sobre o 25 de Abril, Jorge Coelho declarou, perante a incendiada ovação de José Seguro, Ferro Rodrigues, João Soares, João Proença, Edite Estrela e Joaquim Raposo, que (pasmem-se!) «Foi o Partido Socialista que liderou a luta pela liberdade antes do 25 de Abril». Sim, ele disse mesmo isto. E mais! Foi o PS que, depois de nos dar o 25 de Abril «evitou que Portugal caísse noutro regime totalitário», lembrando ainda, jocoso, uma entrevista de Álvaro Cunhal em que este dizia que não queria uma «democracia burguesa». «Não há democracias burguesas!» concluiu Coelho.

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Abril é muito mais que liberdade

Todos os anos, em Abril, aqueles que com as suas mãos escrevem e assinam despachos, Decretos-Lei, Projectos-lei, ordens de serviço, portarias, artigos de opinião e memorandos repletos de insultos aos trabalhadores, aos reformados e pensionistas, aos estudantes e, em geral, ao povo português, enchem a boca com a palavra liberdade como se fossem pipocas a estalar e lá fazem a festa da mistificação, da deturpação e das omissões sobre o fascismo, sobre a revolução e sobre a contra-revolução. Os organizadores da gala deste ano superaram-se, só lhes faltou mesmo converter o fascismo em sinónimo de tempo em que a televisão era a preto e branco. A acreditar nesta gente, uma das grandes conquistas do 25 de Abril foi o consumo de coca-cola e até dá ideia que na origem golpe militar está a vontade de os namorados andarem livremente de mão dada. Liberdade sexual q.b., liberdade de expressão q.b. e sufrágio universal: é isto que dizem que celebramos anualmente.

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Dos fracos não reza a história

O autocarro cheira a bafo de sanduíches fermentadas toda a tarde em papel de prata. Tupperwares desabrocham para o jantar em arrotos de chouriço. José, que vai mesmo à nossa frente, está inquieto. Em vão, ajeita-se no assento, procurando um suporte mais confortável para a bola de carnes cozidas da sua formidável barriga. Rebusca um saco do Pingo Doce – Pois… – esqueceu-se mesmo da comida. – Merda para isto… – descarrega baixinho. Velozes, os olhos de Rita, aquela miúda do outro lado do corredor, despejam-lhe em cima um balde de condescendência e viram-se outra vez para a janela. Lá fora, repete-se com admirável precisão a paisagem desolada do Baixo Alentejo, uma crosta de pó improdutivo, tão ampla que parece adivinhar no horizonte a própria curvatura do planeta.

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Acesso à Compilação das Obras de Marx e Engels

O sítio Marxists Internet Archive (MIA), onde estão hospedados textos de inúmeros marxistas, incluindo o Marx e Engels, em várias línguas, exibe há dias a seguinte mensagem:

«Lawrence & Wishart, que detém os direitos de autor [copyright] sobre Compilação de Obras de Marx e Engels (MECW), deram instruções ao Marxists Internet Archive, para apagarem dos os textos provenientes do MECW. Assim a partir de 30 de Abril de 2014, nenhum material do MECW estará disponível em marxists.org Traduções em Inglês de Marx e Engels provenientes de outras fontes continuarão a estar disponíveis.»

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Comemorar o quê?

O bafio que nos visita da cave do passado tem vários cheiros e às vezes até traz um odor a esquerda. Comemorar o quê?, pergunta-se por aí por todo o lado.

A pergunta é partilhada por muitos, porque se confunde Abril com o que vivemos hoje. E porque se confunde Abril com uma farsa. E alguns colocam-na genuinamente, por sentirem traído o mais pequeno sopro de Abril.

Eu quero responder à pergunta.

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Parteiros da revolução

Há muros que se rompem de madrugada para que quando saia o sol se varra a sombra que tanto tempo viveu barricada nos corações de pedra. Então, ouve-se um rugido que abre veios na terra e rebenta um rio de gente que nasce nas fábricas e nos campos. Essas nascentes, donde durante quase cinco décadas brotou a dor de um povo que acabado de nascer já via no horizonte o ataúde em que havia lugar para corpos mas não para sonhos, matava-nos agora a sede de esperança.

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A pontaria zarolha da direita que se diz de esquerda

Não fosse a partilha do link por parte de um camarada e a notícia publicada pelo Sol sobre a pontaria zarolha que o PS faz o PCP no quadro das eleições para o parlamento europeu ter-me-ia passado ao lado. A notícia não é, em bom rigor, ilustrativa de novidade alguma. O PS faz desde 1975 pontaria ao PCP e seus militantes, seja no quadro das instituições, seja fora delas. A direita – mesmo aquela que se diz de esquerda – sabe bem a quem apontar, sabe de onde vem o perigo real de uma ruptura com o sistema que alimenta, e a alimenta.

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