Uma chamada à consciência global

A luta por ambiente ecologicamente equilibrado e sadio tem ganhado, ao longo dos últimos anos, especial atenção por parte da população e tem reunido esforços redobrados por parte de vários setores da sociedade. Porém, quando nos deparamos com a retórica ambientalista, geralmente, intrinsecamente liberal, vem muitas vezes atrelado um discurso pacifista altamente enviesado, classista e até neocolonialista. Tal é visível no que diz respeito à postura que assumem perante os conflitos globais, num dilema entre “guerra boa” e “guerra má” e, por outro lado, num paradoxo de condenação dos países menos desenvolvidos que procurem trilhar o seu caminho de desenvolvimento, quando o norte global nunca foi impedido de cometer erros pelos quais ainda hoje andamos a pagar a fatura.

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Olas de Recuerdo

Foto: Bruno de Carvalho

Durante a noite, recebi a notícia da morte do comandante Iván Márquez. Entornei um pouco de rum num copo e bebi-o de um trago ao som de Julian Conrado. Lembrei-me daquela manhã em que os guerrilheiros se riram comigo. “Que raio de narcoguerrilha é esta sem álcool nem drogas?”

“Periodista, nosotros no producimos drogas. Cobramos impuestos a los que las producen. Aquí es prohibido consumir drogas y solo se puede tomar alcohol en celebraciones especiales”. A verdade é que não toquei numa gota de álcool naquele mês, em 2017, quando estive escondido com as FARC nas encostas da Sierra del Perijá. O processo de paz já tinha começado mas os principais comandantes diziam-me que era proibido o acesso permanente de jornalistas dentro dos acampamentos. Então, meteram-me no coração daquela cidade de ‘cambuches’, como chamavam às construções artesanais de barracas de madeira e tela, onde dormiam os guerrilheiros. Eu dormia numa tenda com um camuflado militar e todas as manhãs, sem falta, às cinco, um combatente, geralmente, o que estava de turno de guarda, ia de cambuche em cambuche simulando o chilrear de um pássaro para nos acordar a todos.

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O governo da colónia faz parte do império

Manifestação nacional CGTP-IN, 18 de Março de 2023. TIAGO PETINGA/LUSA

No mesmo dia em que os trabalhadores portugueses respondiam à chamada da CGTP-IN para a realização de um dia nacional de luta “Aumentar salários | Garantir direitos | Contra o aumento do custo e vida – Pelo direito à saúde e à habitação”, Lagarde anuncia que as taxas de juro do BCE vão continuar a subir, sendo a próxima subida já em Julho.

Terminou aliás nesse dia, 28 de junho, o encontro Fórum BCE, que se realizou em Portugal, supostamente para determinar as grandes causas da inflação e as respostas adequadas, juntando governadores dos bancos centrais (que é como quem diz, funcionários administrtaivos do BCE), decisores políticos (que é como quem diz governantes eleitos pelos povos mas ao serviço dos grandes grupos económicos) e “especialistas” no assunto.

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A cultura é uma arma

A cultura não é uma santa de altar, ultraterrestre ou uma concepção divina, é a memória identitária dos povos e, portanto, não se configura na sua materialização concreta ou abstracta como um objecto imparcial. A arte, que expressa a tradução cultural de uma sociedade, resulta de estímulos e experiências individuais e/ou colectivas, tem como proponente o Homem, que por sua vez é produto das suas próprias circunstâncias e do modelo de organização colectiva que lhe dá origem, social, política e cultural entenda-se.

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CTT privatizados: sempre a piorar!

Não era preciso que a ANACOM viesse confirmar – outra vez! – aquilo que os portugueses já tinham percebido. É daqueles casos em que os indicadores estatísticos não são essenciais para se perceber o que está em causa. Qualquer pessoa que recorra aos Correios constata, cabalmente, estar perante a decadência de um serviço outrora fidedigno e competente, mas hoje quase completamente despedaçado por uma gestão privada dúplice: por um lado, eficaz a retirar dividendos para o bolso de quem a gere; por outro, incompetente a prestar um serviço que continua a ser essencial e insubstituível. O Governo PS nada faz… porque não quer.

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Quando se nasce junto ao mar, em terra de pescadores, sabemos bem como é viver com o medo do mar, que, de tempos a tempos, enterra vidas sem dó nem piedade. Aprendemos, antes de mais, a respeitar o mar e ainda mais aqueles que dependem dele para viver. Em Portugal, onde nos fartamos de exaltar feitos marítimos, temos este país inclinado para o mar, que há de ser a nossa desgraça, enquanto não olharmos para dentro e percebermos que as assimetrias não são entre Lisboa e Porto, mas sim entre Lisboa, Porto e o resto do país. Mas voltemos ao mar.

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A locomotiva da História saiu do apeadeiro

“A primeira semana é a que mais custa”. A promessa é de Olinda Gonçalves, preparadora, embaladora, lutadora, “por isso é que até já disse aos colegas: quando houver outros trabalhadores como nós, eu quero estar lá com eles na primeira semana”. Esta é a história de como 130 trabalhadores dos bares dos comboios venceram ministros e patrões, salvaram os postos de trabalho e se fizeram heróis das suas próprias vidas.

54 dias, 54 noites. Sem salário nem emprego, abandonados pelo governo. Acampados à chuva e ao sol, ao frio e de noite, dia após dia, sob o açoite do vento. “É duro”, explica Olinda, “casais com filhos pequenos a chorar porque não tinham nada para lhes dar de comer. Eu chorei muito. Lá [no acampamento] não chorava, para não dar parte fraca. Mas olha, isto podes escrever aí em letras grandes: EU NUNCA PENSEI EM DESISTIR”.

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