Feminismo Liberal, Feminismo-L’Oréal

Façamos a regra de três simples – se, como disse Chico Mendes, “ecologia sem luta de classes é jardinagem”, o que será o feminismo sem ela? Um equilíbrio um tanto mafioso entre a manutenção do sistema capitalista e não fazer a depilação; acabar com a desigualdade, mas só um bocadinho; qualquer coisa entre um hobby e um estado de espírito, ou, mais recentemente, uma parceria da marca L’Oréal Paris com a ONG Right to Be. Pois não haveria certamente melhor parceira do que a maior empresa de cosméticos do mundo, no combate ao assédio sofrido pelas mulheres em locais públicos. Portanto, a ver se nos entendemos: nadando em lucros milionários, a L’Oréal Paris amanheceu generosa e decidiu começar uma acção de formação gratuita (vejam só!) para acabar de vez com o assédio. Sob a condição de poder continuar a explorar as suas trabalhadoras, naturalmente. E sem o relacionar com qualquer outro problema social, como é óbvio, que isso já era demais. É disto que o feminismo liberal vive, enquanto as mulheres reais, as que trabalham, continuam a sofrer na pele a brutalidade do capitalismo selvagem, que este ajuda a perpetuar. 

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Desobedeçam!

A título de introdução, uma nota, para que se perceba o contexto: estou eleito dirigente sindical, pelos meus camaradas de trabalho, há quatro anos.

Na mais recente greve geral da função pública, no passado dia 17 de Março, as auxiliares de acção educativa das escolas estavam sujeitas (entendiam os directores) ao decreto de serviços mínimos emitido em Janeiro pelo tribunal arbitral devido à greve por tempo indeterminado do STOP.

Os serviços mínimos foram decretados “Face à duração e imprevisibilidade das greves decretadas pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação”, lia-se num comunicado do governo de 27 de Janeiro. O pré-aviso do STAL dizia, acerca de serviços mínimos, que atendendo à curta duração da greve, não se prevê a necessidade de serviços mínimos.

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O poder revolucionário de uma ideia em Bento de Jesus Caraça

Natural de Vila Viçosa, onde nasceu na Rua dos Fidalgos, a 18 de Abril de 1901, Bento de Jesus Caraça, filho de trabalhadores rurais, foi um matemático, estatístico, demógrafo e professor universitário português, comprometido com a luta antifascista e a democratização da cultura e do ensino no seu país. É uma figura ímpar da cultura portuguesa, lembrado pelo seu exemplo de integridade e coerência. Militou no Partido Comunista Português, recusando a separação entre actividade intelectual e actividade política, e foi um dos fundadores do Movimento da Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) que, posteriormente, daria origem ao Movimento de Unidade Democrática (MUD). Perseguido pelo regime, preso pela PIDE e demitido, em consequência, do lugar de professor catedrático no ISCEF, nunca abandonou as suas convicções. No dia em que se celebram os 90 anos de A Cultura Integral do Indivíduo, urge recordar Bento de Jesus Caraça como o verdadeiro marxista que era, sedento de transformar o mundo, ao invés de se limitar a descrevê-lo. Caraça morre aos 47 anos, a 25 de Junho de 1948, em Lisboa, porém, o vasto legado que nos deixa mantém vivos os ideais de liberdade.

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A ameaça comunista e o revisionismo histórico – entre o Tiktok, o 25 de Abril e “Holodomor”

Três coordenadas exemplares

1) “Sabe de outros empregados da ByteDance [empresa chinesa de tecnologia que detém o TikTok] que façam parte do Partido Comunista Chinês?” pergunta, pleno de hostilidade, Dan Crenshaw, congressista representante do Estado do Texas, a um visivelmente incrédulo Shou Chew, CEO do TikTok, durante a audiência congressional estadunidense ocorrida no final do passado mês de Fevereiro.

2) “Não podemos esquecer que a Primavera de Abril só é possível porque o Outono de Novembro impediu males maiores”, “A corrupção não era tolerada nem se conhecem episódios antes do regime democrático,” proferem os deputados municipais da IL e CH, respectivamente, no passado dia 25 de Abril em sessão solene na cidade de Setúbal.

3) “Este horror teve a sua origem no Kremlin – aí, o ditador tomou a cruel decisão de promover a colectivização forçada e provocar a fome”, afirma Robin Wagner, deputado dos Verdes (partido da coligação no poder) a propósito da resolução aprovada no Parlamento Alemão, a 30 de Novembro de 2022, instituindo “Holodomor” como genocídio.

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Huele a comisiones obreras

Na pedra secular do castelo está fixado um quadro que honra Hernán Cortés, conquistador divinamente destacado entre os povos mesoamericanos que o circundam em meia mesura, denunciando o classismo da coisa, afinal matar em nome de deus, da pátria e do rei, era tão legítimo e dignificante como o é hoje em nome do imperialismo, do capital e da urbanidade ocidental. O sol vai-se pousando por detrás das ameias do castelo medieval raiano, purpureando o céu à exacta medida com que as gravatas deslaçam a tempos o frouxo nó da noção, o dia foi longo e ao calor deu-se combate com gelo emagrecendo entre o álcool. As horas prazenteiras despertam com a história de um companheiro, vindo de uma ida aos sanitários, “saiu um dizendo que cheirava a merda e outro afirmou: – huele a comisiones obreras”.

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