Banif. Pois claro. Tinha de haver uma muito boa razão para o gangue direitista não querer largar o poder tão cedo. Tinha de haver ali qualquer coisinha a «salvaguardar» a todo o custo, mesmo estando os dois partidos em minoria na Assembleia da República. Tinha de haver lixo – e que lixo! – debaixo do tapete. Havia que continuar a esconder o crime e a abafar o odor a cadáver com mais quatro anos de PAF. Tudo debaixo da total complacência e “cooperação institucional” de alguém que, sem dúvida informado em detalhe desta tramoia – Cavaco Silva – tem sido arredado das culpas e do leque de responsáveis pelo desastre que os contribuintes, mais uma vez, vão ser chamados a pagar. Será uma pena se ninguém o chamar, ou se ninguém o interrogar formalmente, na anunciada e mais que justificada comissão de inquérito ao caso Banif.
Análise eleitoral: Podemos supera independentismo
Nas regiões e nações sem Estado, confirmou-se a tendência que vinha dando força ao Podemos. Com diferentes leituras, a formação política liderada por Pablo Iglesias teve importantes resultados em Madrid, em Valência, na Galiza e triunfou no País Basco e na Catalunha. Cientes da necessidade de solidificar os resultados obtidos nas eleições regionais, os dirigentes do Podemos piscaram o olho ao eleitorado independentista e apesar de defenderem a unidade de Espanha reiteraram o seu compromisso com uma reforma constitucional que abra caminho a referendos que permitam aos diferentes povos decidir o seu próprio futuro. O discurso das esquerdas independentistas de que a solução para a ruptura com a crise do capitalismo passava pela ruptura com o Estado espanhol foi suplantado pela ilusão de que seria mais fácil para uma nova força como o Podemos chegar ao poder e protagonizar transformações importantes. Em parte, é o que explica os avanços nas regiões onde o independentismo está mais amadurecido: Catalunha, País Basco e Galiza.
Análise eleitoral: o Estado espanhol rompe com o bipartidarismo
As eleições gerais no Estado espanhol ditaram, este domingo, o fim da hegemonia eleitoral do PSOE e PP. À custa de uma extraordinária pulverização do sistema partidário, entraram no congresso 13 candidaturas, das quais se destacam os fenómenos Podemos e Ciudadanos.
Descaradamente promovidos pela comunicação social da classe dominante, estes dois partidos vêm assumir a herança ideológica dos seus padrastos políticos: Ciudadanos que alcança 40 mandatos, opera à direita a recomposição possível do PP, o grande castigado do escrutínio, com menos 63 eleitos; já o Podemos permite, aliás à semelhança do binómio grego PASOK-Syriza, esvaziar em segurança o desprestigiado e desgastado eleitorado do PSOE.
Quem matou David Duarte?
A morte do David Duarte não tem outro nome. É um assassinato. E quando assim é, a culpa não é só de quem dispara. É também de quem aponta e de quem dá a ordem. É de quem o encaminhou para um hospital sem recursos humanos, é de quem deu a ordem de limitar o financiamento à assistência hospitalar e é de quem a executou. É, principalmente, do anterior ministro da Saúde que, antes, havia sido administrador de uma seguradora e que seguiu os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros na gestão do Serviço Nacional de Saúde. É de Passos Coelho e de Paulo Portas que nos chamaram piegas e exigiram que aguentássemos a tragédia sem protestar.
Impostos Ideológicos
Paulo Portas descobriu a sua nova campanha populista. Com medo de voltar às feiras, envereda agora pelo seu chavão favorito; os partidos que criticam a acção do seu governo e propõem alternativas são ideológicos.
Como a maioria dos chavões do faceto tal afirmação não tem crédito em lugar algum, com excepção na demagogia ou de alguma forma tautológica que, na sua boca, é habitual.
Espanha, e agora?
Alfonso Fernández Ortega, 24 anos, jovem trabalhador do bairro madrileno de Vallecas, foi preso a 14 de Novembro de 2012. No mesmo dia em que teve lugar uma greve geral em Portugal, Espanha, Grécia e Itália (parcial), numa acção conjunta dos trabalhadores contra as medidas de agressão e austeridade.
No mesmo dia em que em Portugal polícias agrediam violentamente manifestantes e alguns ficaram desaparecidos várias horas depois de detidos (enquanto regressavam a suas casas), Alfonso, também conhecido como Alfon, era detido, juntamente com a sua namorada, ao saírem de casa para se juntarem a um piquete. A acusação? Explosivos na mochila. Problema: nunca foi provado que algum deles tivesse em posse quaisquer explosivos ou sequer resíduos nas suas roupas, corpos ou casas. Convém saber o que se passou de seguida. Porque, afinal, o estado espanhol não é assim tão longe e não está tão distante em termos ideológicos ou legislativos do estado português (como, aliás, foram exemplo as detenções em Lisboa nesse mesmo dia).
O MRPP, Bataclan e a vergonha alheia
Para quem não acompanhe a sórdida e não menos entediante telenovela em que se transformou o MRPP, aqui vai um resumo rápido: o Garcia Pereira perdeu votos nas últimas legislativas e, como castigo, foi purgado por Arnaldo Matos com direito a humilhações públicas, insultos à família e uma média de quatro palavrões por editorial no jornal do partido.
Terramoto eleitoral na Venezuela
O pior dos cenários foi confirmado, na Venezuela, pelo Conselho Nacional de Eleições. De forma esmagadora, a direita conquistou mais de dois terços dos lugares disponíveis na Assembleia Nacional. A derrota das forças revolucionárias e progressistas era uma possibilidade assumida entredentes nas fileiras chavistas mas a hecatombe eleitoral que acabou por dar-se surpreendeu a própria Mesa da Unidade Democrática (MUD). A oposição vai ter à disposição 112 deputados com a possibilidade, entre outras coisas, de reformar a própria Constituição, de destituir o vice-presidente e os ministros de Nicolás Maduro. Num acto eleitoral em que a afluência dos venezuelanos às urnas foi superior à de há cinco anos, tudo leva a crer que o resultado, mais do que uma aposta no programa da direita, expressa o protesto contra a degradação das condições de vida, a corrupção e a burocracia. Foi de tal forma surpreendente que a oposição conseguiu, inclusive, ganhar no bastião do chavismo, em Caracas.