Autor: Ricardo M Santos

Gabo: Sem perdão

Há coisas que não se perdoam, mesmo àquelas pessoas que consideramos as melhores no que fazem. E eu sou péssimo a perdoar, mesmo reconhecendo razão à minha professora de inglês do 10.º ano, Luísa Félix, quando me confrontou com a questão evidente: “Mas não gostas de ser perdoado?”.

Gabo é imperdoável. O que ele fez não se faz à Humanidade, essa coisa estranha daquelas partes do mundo onde há pessoas humanas, expressão que roubei descaradamente a uma amiga.

Ler mais

Manifesto dos 74 -1

Parece que o manifesto dos 74 – o outro, não este – perdeu um membro e retirou o simbolismo ao nome da coisa, remetendo agora para os idos de 73. Perdeu-se o simbolismo e perdeu-se o presidente da CIP, um dos patrões dos patrões, mas acredito que não será difícil arranjar pessoa-notável que o substitua, tendo em conta a abrangência ideológica dos assinantes. Sim, qualquer um pode assinar, bastando para isso que seja pessoa-notável.

Ler mais

Exclama Abril!

Só hoje vi o cartaz oficial da Associação 25 de Abril para a comemoração dos 40 anos da revolução. O vermelho desbotado, a fugir para o rosa, a interrogação de 40 anos de liberdade e democracia.

A modesta opinião de um ex-aluno de artes – no décimo ano, com resultados desastrosos, é certo – é que a ambiguidade não favorece nem Abril, nem os 40 anos, nem a A25A. Este cartaz é uma merda no contexto actual e histórico. Só há dois lados numa barricada.

Ler mais

Que força é esta?

No dia 6 de Março de 1921 nascia o Partido Comunista Português. Ao contrário de outros partidos comunistas do ocidente, o PCP nasceu da vontade dos trabalhadores, da necessidade que sentiram de criar uma forma organizada de resistência e luta no rescaldo da I Grande Guerra, com Portugal assolado pela pobreza, fome e desemprego.

Então, 93 anos depois, tantos anos passados, que força é esta?

Ler mais

De cada vez que Cavaco fala nas pescas morre um golfinho

Cavaco voltou nesta semana a falar da importância do mar para o país. Seguro também falou, há uns dias, e disse mesmo que, quando se abre uma janela no canal do Panamá, vê-se Sines. A hipocrisia desta gente em relação ao mar dá-me vómitos, mais do que qualquer viagem de barco.

Por aqueles lados não há vergonha, bem sabemos, mas o que aconteceu às nossas pescas foi e é dramático, particularmente no concelho onde vivo, em Matosinhos. Nem pesca, nem fábricas, nem nada. Centros comerciais à Belmiro e lojas vazias, como vazias estão muitas das casas construídas onde antes se produzia.

Ler mais

Big Brother dos pequeninos

Sempre que se fala no Rendimento Social de Inserção (RSI) – antigo Rendimento Mínimo Garantido – há alguém que conhece, que vê, que ouve outro alguém que vive à custa de subsídios, que passa os dias nos cafés, que tem grandes carros à porta, que, que, que.

Se é um facto que as generalizações são sempre um erro, faz-me confusão esta mania tão portuguesa de apontar o dedo ao vizinho, sabendo nós tudo sobre a casa do outro, o que se come, o que se bebe, o que se fuma, o que se gasta e como se gasta.

Ler mais

Indignação e tal

A Coca-Cola vai despedir 750 trabalhadores e recolocar cerca de 500, numa reestruturação – nome que agora se dá aos despedimentos – que fechará quatro das 11 fábricas da empresa em Espanha.

A empresa beneficia naquele país, com um nível de desemprego comparável ao nosso, de benefícios do Estado que rondam os 900.000 de euros. Já estamos tão habituados a ouvir falar de milhares de milhões que quando falamos só de milhões parece coisa pouca.

Ler mais

Do lenço para o ranho ao papel para limpar o cu

Quando era miúdo, os meus vizinhos – uma família numerosa, mesmo numerosa daquelas a quem a associação do mano Ribeiro e Castro não passava cartão – tinham a retrete deles fora de casa. Atravessavam a viela estreita, passavam pela minha casa, depois pela cozinha deles – também fora de portas – pelo buraco onde guardavam os cães – ou o que sobrava deles – e só depois, no quintal, estava a retrete, a poucos metros da estrumeira que o senhorio teimava em manter para dar de comer às couves. Era um cubículo estilo militar em tempo de guerra.

Ler mais