Autor: Rui Silva

Não, não somos todos Charlie Hebdo.

O título deste post pode ser mal compreendido, e por isso importa desde já clarificar o seu sentido: não me passa ao lado que a expressão “je sui Charlie”, ou “eu sou Charlie”, tem um significado associado à solidariedade de quem a usa relativamente às vítimas do triste e repugnante acto de violência ocorrido ontem em Paris. Este post não é um ataque à expressão nem a quem a usa. É um convite à reflexão sobre o significado que a mesma tem, para lá do momento durante o qual a sua utilização parece fazer todo o sentido.

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Costa, o PS e a privatização da TAP

Diz que António Costa referiu ontem, perante militantes e apoiantes do PS, que ao contrário do que afirma Passos Coelho, “o que estava no memorando de entendimento com a ‘troika’ [assinado pelo PS] não era a previsão de uma privatização a 100% da TAP. Não, o que estava no memorando de entendimento era que a TAP só seria privatizada parcialmente e nunca na sua totalidade“.

A questão não é de opinião, é de facto. O que o memorando afirma é objectivo e por isso nada como dar a palavra ao texto que em Maio de 2011 foi assinado entre a troika nacional e a troika internacional. Para que não restem dúvidas, eis a transcrição completa do ponto 3.31 do “memorando”:

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Sobre a relevância da ameaça lançada pelo PSD aos Verdes

O episódio passou ao lado da maioria mas teve lugar, tem relevância e deve merecer reflexão sobre a qualidade da nossa democracia e os perigos que a estão ameaçando constantemente, de forma cada vez mais evidente: no período de declarações políticas da sessão plenária de ontem, na Assembleia da República, o PEV utilizou o seu tempo para fazer mais uma denúncia sobre a política do governo; em resposta, um deputado do PSD fez aquilo que normalmente faz a actual maioria quando a interpelação tem como protagonistas os deputados do PEV: ignorou olimpicamente o tema e concentrou todo o seu escasso poder de fogo no argumento do costume referindo que “Os Verdes nunca foram a votos, nem têm uma política exclusiva”.

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Produtividade

Não há guru da gestão, comentador de assuntos económicos ou especialista em generalidades que não apresente ciclicamente o argumento da produtividade na hora de discutir aumentos salariais no país com mais baixos rendimentos da europa ocidental. Aumentos sim, mas apenas em tese, género de difusa intenção agendada para o dia do tal santo – o de “São Nunca à tarde” – que não chega.

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A insinuação

Foi por mero acaso que apanhei o final do programa “Este sábado” transmitido pela Antena1 no passado fim-de-semana. Quando liguei o rádio iniciava-se a intervenção de Raul Vaz, personagem do comentário político que a Antena1 insiste em apresentar como especialista em questões de política nacional.

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“Exemplar”.

O que espanta nos resultados do referendo escocês é a escassa diferença entre “Sim” e “Não”. O que espanta é a extraordinária mobilização em torno da ideia e da ambição de independência, quando durante a campanha eleitoral todos os poderes do mundo – a União Europeia, os Estados Unidos, a NATO, o FMI, a banca, o governo inglês e até a rainha lá do burgo – ingeriram de forma clara no processo. Um processo “exemplar”, nas palavras de Teresa de Sousa, a eminência que opina sobre assuntos internacionais e europeus na rádio pública. De resto ouvi esta manhã na Antena1 que “os mercados respiraram de alívio com o resultado do referendo”. Alívio para os mercados, pesadelo para os povos.

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“When the shit hits the fan”

A língua inglesa tem uma expressão (“When the shit hits the fan”) que em português é mais ou menos traduzível – à letra – por “quando a trampa atinge a ventoinha”. A expressão alude à ideia de trampa projectada em todas as direcções, manchando quase aleatoriamente aqueles que apanha pelo caminho. Lembrei-me dela hoje quando vi a capa da Visão.

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De suspeitos a culpados num título do JN

Todo o português comum que acompanhou e acompanha os inúmeros e intermináveis processos judiciais altamente mediatizados que ao longo dos últimos anos encheram jornais, telejornais e noticiários radiofónicos sabe que a chamada “presunção de inocência” é um dos sacro-santos elementos do chamado “estado de direito”, que por cá é verdadeiro estado de direita. Nada contra a presunção de inocência, bem pelo contrário. Um suspeito de determinado crime apenas é culpado quando a acusação consegue demonstrar a sua culpa e um tribunal reconhece essa mesma prova como válida, o que leva à condenação.

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