Todos os artigos: Internacional

A «erradicação da fome» e a fome de revolução

Estamos no ano da graça do senhor de 2016 e há 800 milhões de seres humanos a morrer de fome. É esta a principal conclusão do Relatório de Desenvolvimento Sustentável da ONU agora apresentado e que passou completamente ao lado da nossa comunicação social. Antes, porém, de prosseguirmos é mister refazer esta pergunta gasta e tantas vezes repasta nas bocas dos comunistas: como é possível que sejamos capazes de fotografar exoplanetas nos confins da imensa e opaca treva interestelar, e encontremos formas de levantar o véu que oculta o mistério da massa e a origem de todas as coisas, e consigamos reprogramar e fazer células para dobrar a própria natureza humana, e possamos tudo e tanta coisa, epigenomas, água em Marte, máquinas em asteróides… e ainda assim, em desafio a tudo isto, não sejamos, enquanto espécie, capazes de conseguir algo tão ofensivamente elementar como evitar que uma em cada oito das nossas crianças não passe fome?

Ler mais

Uma noite em Kilkenny, ou porque é que a esperança não é para ter, é para manter

Eu e ela andámos pela Irlanda. Passámos em Kilkenny – passem por lá que vale a pena. A noite foi passada num pub, claro, chamado “The Hole in the Wall“, que está aberto desde meados do séc.XVI! Nesse pub, nessa mesma noite, não estava muita gente, mas havia de tudo, e por ordem cronológica do contacto que tivemos com eles: o jovem barman irlandês; um dentista norte-irlandês católico e que emigrou para o sul; um casal suíço; o dono irlandês do pub e conceituado médico cardiologista; dois casais de norte-americanos que vivem perto de Kansas City.

E a conversa teve vários desenvolvimentos, todos quiseram saber novas de Portugal, todos tinham queixas do sistema político actual, todos tinham a cabeça meio baralhada nos conceitos, nas escolhas e nas prioridades. Mas vamos por partes, ou melhor, por personagens.

Ler mais

A nomeação de Dillary Crump*

Nem mesmo a revelação de que o Comité Nacional do Partido Democrata (PD) sabotou a campanha de Bernie Sanders fez o senador do Vermont retirar o apoio político que, no dia 12, entregara a Hillary Clinton. Se já todos sabíamos que as primárias democráticas foram tudo menos democráticas, a fuga de mais de dez mil emails da Comissão Nacional, prontamente atribuída por Hillary à Rússia, veio revelar os requintes anti-semitas e fundamentalistas com que a direcção daquele partido procurou denunciar as raízes judaicas de Sanders ou, pior ainda, expor o seu alegado ateísmo. «Para a minha malta baptista no Sul há uma grande diferença entre um judeu e um ateu», pode ler-se num email divulgado pela Wikileaks em que Brad Marshall, chefe das finanças do PD, pondera a estratégia de ataque a Sanders na comunicação social.

Ler mais

Convenção Convencional

Após a nomeação formal do “humilde” Donald Trump e seu vice Mike Pence, chegou a vez da Convenção do Partido Democrata que se inicia hoje. Não se esperam nenhumas surpresas. Hillary Clinton já anunciou o seu vice, Tim Kaine, uma escolha desinteressante de um centrista relativamente pouco conhecido pelo eleitorado. Mas mais seriamente, uma escolha que desilude o eleitorado progressista do Partido que se havia galvanizado e mobilizado com a candidatura de Bernie Sanders. Clinton parte para a Convenção, uma corrida começada há muitos anos, com uma diferença tangencial face a Trump (ver), mas parece desvalorizar o eleitorado de Sanders e os temas que foram os pilares da sua candidatura.

Ler mais

O que o plágio diz sobre o plagiado

Recalcado, o trauma está lá há quase um século, desde que os EUA substituíram o Velho Continente como difusor cultural hegemónico no mundo. As classes dominantes europeias, muito afeitas a grandezas de primeiros lugares, tiveram de se acocorar na posição adestrada de imperialista-adjunto. Mas não sem bile: «Eles têm o dinheiro, mas nós temos a talha dourada! Eles têm o poder, mas são nossos os passaportes dos inventores e artistas emigrados!».

É um rancor antigo e verdadeiro, malgrado rebuçado quando o patrão está a ver, mas que vem à tona, em toda a sua desfaçatez, quando se trata de fazer troça das supostas incultura e estupidez dos EUA.

Ler mais

A Europa será dos trabalhadores. Ou não será.

Discuto todos os dias comigo mesmo. A avalanche de informação contrária às minhas ideias é tão avassaladora que me faz reflectir uma e outra vez se não estarei errado. Tenho de provar a cada minuto que as minhas convicções não são um capricho desligado da realidade. Há um século, Lénine proclamava que a prática é o critério da verdade e nunca deixei de usá-la para medir a distância entre o que penso e o que existe. Ainda antes do génio da revolução bolchevique e antes da própria Comuna de Paris, os representantes políticos da esquerda francesa olhavam com desconfiança para os primeiros operários que tentavam candidatar-se. Advogados, médicos e escritores entendiam que sabiam melhor das reivindicações do que operariado e que não fazia qualquer sentido sentarem-se na mais importante câmara da política francesa. Hoje, como desde então, o preconceito persiste.

Ler mais

Um onze inicial de classe redobrada

Além de um entretenimento de massas, que por esta altura ganha contornos absolutamente desproporcionados e muito saturantes, o futebol pode ser também um meio de expressão, de luta e protesto. Assim e aproveitando a época, hoje apresenta-se um onze, de jogadores de futebol, de notoriedade diversa, com mais ou menos razão, de vários pontos do mundo, que em certa altura das suas carreiras decidiram fazer mais do que apenas jogar futebol.

Ler mais