Todos os artigos: Internacional

Hiroshima nunca mais!

Há 78 anos, com o Japão já encostado às cordas ao fim de 4 anos da guerra no Pacífico e o Exército Vermelho em condições de se juntar aos aliados nesse teatro de guerra, os EUA antecipam-se pelo controlo do Pacífico e largam uma bomba atómica em cima de Hiroshima, a Little Boy, uma bomba de Urânio. 70 mil pessoas tiveram morte imediata numa bola de fogo e luz mais quente que a superfície do Sol, tão quente que as sombras das vítimas e de outros objectos ficaram gravadas no chão e nas paredes em que foram projectadas. Outras 69 mil pessoas ficaram contaminadas pela radiação nesse momento e acabaram por falecer, dias, meses ou anos mais tarde, das consequências dessa contaminação – no Japão chamam-lhes Hibakusha – “vítimas da bomba”. Um número incalculável de pessoas de gerações posteriores continuou a nascer e a morrer com malformações, cancro, leucemia e outras complicações, uma consequência da contaminação radioactiva. Nesse mesmo dia, o governador de Hiroshima informou o imperador Hirohito que um terço da população morreu e dois terços da cidade foram destruídos.

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Uma chamada à consciência global

A luta por ambiente ecologicamente equilibrado e sadio tem ganhado, ao longo dos últimos anos, especial atenção por parte da população e tem reunido esforços redobrados por parte de vários setores da sociedade. Porém, quando nos deparamos com a retórica ambientalista, geralmente, intrinsecamente liberal, vem muitas vezes atrelado um discurso pacifista altamente enviesado, classista e até neocolonialista. Tal é visível no que diz respeito à postura que assumem perante os conflitos globais, num dilema entre “guerra boa” e “guerra má” e, por outro lado, num paradoxo de condenação dos países menos desenvolvidos que procurem trilhar o seu caminho de desenvolvimento, quando o norte global nunca foi impedido de cometer erros pelos quais ainda hoje andamos a pagar a fatura.

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Olas de Recuerdo

Foto: Bruno de Carvalho

Durante a noite, recebi a notícia da morte do comandante Iván Márquez. Entornei um pouco de rum num copo e bebi-o de um trago ao som de Julian Conrado. Lembrei-me daquela manhã em que os guerrilheiros se riram comigo. “Que raio de narcoguerrilha é esta sem álcool nem drogas?”

“Periodista, nosotros no producimos drogas. Cobramos impuestos a los que las producen. Aquí es prohibido consumir drogas y solo se puede tomar alcohol en celebraciones especiales”. A verdade é que não toquei numa gota de álcool naquele mês, em 2017, quando estive escondido com as FARC nas encostas da Sierra del Perijá. O processo de paz já tinha começado mas os principais comandantes diziam-me que era proibido o acesso permanente de jornalistas dentro dos acampamentos. Então, meteram-me no coração daquela cidade de ‘cambuches’, como chamavam às construções artesanais de barracas de madeira e tela, onde dormiam os guerrilheiros. Eu dormia numa tenda com um camuflado militar e todas as manhãs, sem falta, às cinco, um combatente, geralmente, o que estava de turno de guarda, ia de cambuche em cambuche simulando o chilrear de um pássaro para nos acordar a todos.

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Quando se nasce junto ao mar, em terra de pescadores, sabemos bem como é viver com o medo do mar, que, de tempos a tempos, enterra vidas sem dó nem piedade. Aprendemos, antes de mais, a respeitar o mar e ainda mais aqueles que dependem dele para viver. Em Portugal, onde nos fartamos de exaltar feitos marítimos, temos este país inclinado para o mar, que há de ser a nossa desgraça, enquanto não olharmos para dentro e percebermos que as assimetrias não são entre Lisboa e Porto, mas sim entre Lisboa, Porto e o resto do país. Mas voltemos ao mar.

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A ameaça comunista e o revisionismo histórico – entre o Tiktok, o 25 de Abril e “Holodomor”

Três coordenadas exemplares

1) “Sabe de outros empregados da ByteDance [empresa chinesa de tecnologia que detém o TikTok] que façam parte do Partido Comunista Chinês?” pergunta, pleno de hostilidade, Dan Crenshaw, congressista representante do Estado do Texas, a um visivelmente incrédulo Shou Chew, CEO do TikTok, durante a audiência congressional estadunidense ocorrida no final do passado mês de Fevereiro.

2) “Não podemos esquecer que a Primavera de Abril só é possível porque o Outono de Novembro impediu males maiores”, “A corrupção não era tolerada nem se conhecem episódios antes do regime democrático,” proferem os deputados municipais da IL e CH, respectivamente, no passado dia 25 de Abril em sessão solene na cidade de Setúbal.

3) “Este horror teve a sua origem no Kremlin – aí, o ditador tomou a cruel decisão de promover a colectivização forçada e provocar a fome”, afirma Robin Wagner, deputado dos Verdes (partido da coligação no poder) a propósito da resolução aprovada no Parlamento Alemão, a 30 de Novembro de 2022, instituindo “Holodomor” como genocídio.

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Huele a comisiones obreras

Na pedra secular do castelo está fixado um quadro que honra Hernán Cortés, conquistador divinamente destacado entre os povos mesoamericanos que o circundam em meia mesura, denunciando o classismo da coisa, afinal matar em nome de deus, da pátria e do rei, era tão legítimo e dignificante como o é hoje em nome do imperialismo, do capital e da urbanidade ocidental. O sol vai-se pousando por detrás das ameias do castelo medieval raiano, purpureando o céu à exacta medida com que as gravatas deslaçam a tempos o frouxo nó da noção, o dia foi longo e ao calor deu-se combate com gelo emagrecendo entre o álcool. As horas prazenteiras despertam com a história de um companheiro, vindo de uma ida aos sanitários, “saiu um dizendo que cheirava a merda e outro afirmou: – huele a comisiones obreras”.

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Visitar o jardim no fogo de Odessa

Uma delegação da Assembleia da República chegou ontem a Kiev para uma visita à capital ucraniana. Entre os participantes está Isabel Pires, deputada do Bloco de Esquerda, que referiu à RTP3 qualquer coisa como “o parlamento [português] tem trabalhado envidado os seus esforços numa solução para a paz”, sem, no entanto, referir quais. Percebe-se. Em 2016, o Bloco de Esquerda recusou integrar uma delegação que acompanharia o Presidente da República a Cuba. O motivo apontado foi a coincidência de datas das jornadas parlamentares, que que teriam lugar na mesma altura. O BE tinha então 19 deputados. Hoje, na Ucrânia, tem a companhia de PS, PSD e IL. Estes últimos, hoje, não devem ser os radicais protofascistas neoliberais que eram no dia 1 de Maio.

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A Estupidificação como Projecto Político do Capital

É inegável a força transformadora da palavra, do argumento e do diálogo. É ela o motor revolucionário da formação, do conhecimento e do progresso. Seria interessante se à semelhança da Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) para fauna e flora, tivéssemos tal ferramenta para entender o estado de conservação de palavras e, sobretudo, dos conceitos que por entre elas se alevantam, no centro do discurso e da intervenção política.

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