Todos os artigos: Internacional

As tragédias do nosso contentamento

Alan Kurdi. Sem ir ao Google, não serão muitos aqueles que se recordam de quem falo. Alan Kurdi correu mundo, parado, morto, num momento captado por um fotógrafo quando deu à costa da Turquia ao tentar escapar de Kobani, na Síria. Tinha três anos. Fugia dos horrores da guerra tentando atravessar ao Mar Egeu, num trajeto feito por milhares, como fazem outros milhares atravessando o Mediterrâneo. Alan Kurdi fugia da agressão à Síria, patrocinada pela UE, NATO e Arábia Saudita, cuja raiz do problema surge em 2009. Assad decide tornar a Síria uma plataforma de passagem de um oleoduto para abastecer a Europa. O projeto inicial deveria iniciar-se-ia no Qatar, passaria pela Arábia Saudita, Síria, Jordânia e entraria na Europa pela Turquia. Este era o plano inicial. No entanto, surgiu uma segunda proposta, que passaria pelo Irão, Iraque, Síria, Chipre e Grécia, que deixaria de fora Qatar, Arábia Saudita, Turquia e Jordânia. E foi a partir daqui que se iniciou, certamente, por mera coincidência, uma invasão de jihadistas ligados ao Daesh naquele país, depois da Primavera Árabe – prontamente apoiada por alguns setores supostamente progressistas – que se transformou num outono sem fim à vista.

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Derniel Sol

Quando oiço a voz de Sérgio Godinho cantar que só quer a vida cheia quem teve a vida parada penso, inevitavelmente, naqueles que não quiseram descansar. A luz intermitente da paragem não me deixava encontrar o poema do Sarrionandia enquanto esperava o último autocarro. Às mãos, chegara-me um papel que dizia que morreu o Areosa Feio e lembrei-me do sentido de pertença. Se é verdade que não se morre quando não terminamos em nós mesmos, também é certo que ‘até sempre’ é a memória colectiva carregada em ombros daqueles que mesmo mortos caminham ao nosso lado.

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Debater a Europa, esse eufemismo

De repente, do alto sapiencial de quem adora «recentrar» ou «circunscrever» todas as discussões à órbita da sua própria mundividência, ou ego, aparece a afirmação ou acusação de que os candidatos às próximas europeias não estão a «debater a Europa». Mas o que é isso de «debater a Europa» afinal, quando esse apelo vem geralmente da direita, de liberais, de ditos europeístas, ou dos comentadores que se sentem muito confortáveis com o sistema? Vamos por partes, começando por referir aquilo que essa expressão definitivamente «não é».

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Chaplin: o cinema e a necessidade de transformar o mundo

Charlie nasce a 16 de Abril de 1889 em Londres. Filho de um actor e de Hannah (conhecida nos palcos como Lili Harley), uma encantadora actriz e cantora, Charlie passa a sua infância na inenarrável pobreza londrina. A morte do pai e a doença mental da mãe deixaram-no com o seu irmão Sidney, de quem foi, aliás, separado, a lutar pela sobrevivência.

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O futuro também começa hoje

Fez, ontem, 80 anos que o fascismo tomou Madrid. Abria-se aquela estrada para a barbárie que só acabaria sepultada seis anos depois em Berlim. Há uma melodia cuja bateria não deixa de tocar no palco da vida. Para nos lembrar que esta é uma guerra que não acabou. Como as cordas da guitarra de Sigaro que, apesar de já não estar, soam porque nos vibram na memória. Porque a indiferença é o peso morto da história, Sócrates trocou o Corinthians pela Fiorentina para ler Gramsci no idioma original. E os corpos agitam-se, como se estivessem preparados para a batalha. A que se desata entre quem através da lâmina da espada faz política na rua. Quando se produzem revoluções e contra-revoluções, não são os votos que definem os avanços e os recuos do pêndulo nos momentos cruciais da história porque da indiferença ao compromisso há um intervalo de coragem. São as ruas que impõem a viragem que se projecta no futuro. A democracia que se constrói nos subterrâneos.

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Sanções à Venezuela: Cronologia de uma morte lenta

Hoje mesmo, o autoproclamado presidente de qualquer coisa na Venezuela, Juan Guaidó, vem pedir à UE que imponha novas sanções ao povo venezuelano. O sofrimento do seu povo ainda não é suficiente, Guiadó quer mais, precisa de mais, para que a estratégia resulte. Sobre sanções, já aqui escrevi o seguinte, em relação a outro assunto: “[Até 2006] Em 50 anos, foram impostas 141 sanções a países. Dessas 141 sanções, 85 foram impostas unilateralmente pelos EUA, com motivos tão diversos como desestabilizar Allende no Chile, apoiar a UNITA em Angola, na Nicarágua para desestabilizar os sandinistas, em Granada para afetar os simpatizantes comunistas, em Cuba para atacar os comunistas, na Jugoslávia para atacar Milosevic. Em todas elas, os que mais sofreram foram os povos afetados por este tipo de medidas, que, a cobro de desculpas como o “restabelecimento dos direitos humanos” – uma das justificações que surge amiúde quando se trata de embargos e sanções a países africanos – morreram e morrem aos milhões, todos os anos, devido à guerra económica movida pelas potências dominantes no panorama internacional.

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O eurocentrismo de Duarte Pacheco

Não, este não é só um texto sobre a Venezuela. Esta é uma reflexão sobre declarações proferidas por Duarte Pacheco, deputado do PSD, no Esquerda-Direita da SIC Notícias, sobre a legitimidade da ONU e da UE. Duarte Pacheco não é só mais um deputado, é também secretário da Mesa da Assembleia da República. A desvalorização do papel da ONU é um padrão que tem vindo a ganhar adeptos entre os representantes dos Estados mais reacionários e unilateralistas, como Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil.

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O direito internacional também é luta de massas

Quando o traidor Boris Yeltsin usurpou o poder, dando-se a um golpe promovido pelo estrangeiro e por alguns sectores reaccionários internos, na sequência da paulatina degeneração que a União Soviética já vinha sofrendo, principalmente desde a metade dos anos 50, o Soviete Supremo – o parlamento – opôs-se a Yeltsin e não lhe reconheceu legitimidade para governar.

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