Este texto não tem “mas”, não relativiza o sofrimento das vítimas e dos seus familiares, não reconhece legitimidade à acção armada de um grupo clandestino actuando em Portugal nos anos 80 nem justifica tudo aquilo que no contexto da sua acção militar não tem justificação.
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E se a Eurosondagem tivesse vergonha?
A cadela do fascismo está sempre no cio e o chefe da Eurosondagem anuncia que tem um novo patrocinador (o Grupo Libertas, da especulação imobiliária) no mesmo “estudo” (as aspas são mesmo dele) em que especula (com a nossa inteligência, não com a habitação) como (preparem-se) “seria o voto nas autárquicas se fosse igual às presidenciais”. Uma brincadeira a que o Nascer do Sol tem o despudor de apelidar de “projecção” e “sondagem”.
Basta de privilégios!
As importações no que à política diz respeito dão geralmente resultados enviesados. A adaptação mecânica de conceitos, por mais moda que se tenham tornado no contexto em que foram formados, nem sempre se adequa a um contexto mais geral de forma directa. A acrescentar a essa necessidade de questionar o esquematismo do uso de conceitos, coloca-se uma questão ainda mais fundamental que se relaciona com o significado do conceito e a sua utilidade para cada fim. Por exemplo, para simplificar: os conceitos de “classe baixa, média e alta” são perfeitamente passíveis de serem definidos em função de um nível de rendimento mas praticamente inúteis para qualquer aplicação política transformadora. Já o conceito de “classe social”, por exemplo, é igualmente passível de ser definido – até de forma mais perene e absoluta – e é indispensável para uma aplicação política transformadora.
Eu acuso
Foi após ter visto J’accuse, de Roman Polanski, com Jean Dujardin e Louis Garrel sobre o infame caso Dreyfus, que, inevitavelmente fui reler a carta de Émile Zola.
E a cada palavra, senti a injustiça a correr-me nas veias. Tal como em 1894, o sistema judicial e o sistema político continuam a cruzar-se, a determinar opções e decisões, violando princípios basilares dos direitos dos cidadãos, e, nalguns casos, como este de que vos falo, as suas vidas.
Não foi uma especial vocação que me trouxe a este caminho, mas o meu percurso de vida, as pessoas com quem me cruzei, os valores que defendo. Mas aqui estou, num caminho sem regresso.
Quando o Cavaco morrer, uma história de amor
Não estamos aqui para discutir se há amor à primeira vista, mas poesia à primeira vista certamente haverá, tanto que ele, que não acreditava nas belas-letras, e muito menos na poesia, deu por si, ao primeiro relance, a ponderar dizer-lhe que se imaginava a fazer com ela uma longíssima e perigosa viagem e que quando ela já não aguentasse mais, podia contar com ele, não para salvá-la, mas simplesmente para que ela soubesse, de ciência certa, que podia contar com ele. Felizmente, não disse nada disto. É fácil, claro, fazer poesia para uma mulher bonita, mas esta é a última coisa fácil nesta história.
Ele disse-lhe que gostava de punk e ela achou que isso era muito século XX. Ela escrevia tudo em post-its e ele nem sequer tinha uma agenda. Ela disse-lhe que era muito ansiosa, ele calmamente respondeu «ok» e ela disse que não gostava de pessoas que respondiam «ok». Apesar disso, ela gostava de andar descalça e ele andava sempre de botas. Ela disse-lhe que ele fazia demasiadas perguntas e ele achou que ela tinha respostas para tudo. Ela disse-lhe que era comunista e ele, que dizia sempre que não acreditava ideologias, muito menos em utopias, de repente imaginou-se com ela.
A direita que a esquerda chora
Algures no ano de 2015, a Juventude Popular, organização da juventude do CDS, avançava com o cartaz que ilustra este artigo. A mensagem é clara e não é nova, tem décadas. A culpabilização do trabalhador desempregado e a estigmatização de que quem necessita de receber apoios sociais. A legenda não podia ser mais clara. A típica tirada dos “subsídios para quem não quer trabalhar”. A par disto, as declarações de Nuno Melo sobre refugiados, Assunção Cristas ou Paulo Portas sobre Bolsonaro. O que levará, então, várias pessoas ligadas à esquerda, a acharem que o fim do CDS é uma perda para a democracia, como o eurodeputado do Bloco, José Gusmão?
Great Reset ou Grande Salto em Frente?
O great reset, como lhe chamam os actuais teóricos e decisores do capitalismo global, é apresentado como a saída para a encruzilhada em que a humanidade se encontra perante as suas supostas incapacidades e perante as limitações do planeta em que vive. Até David Attenborough faz documentários para a Netflix em que nos alerta para os problemas da devastação da biodiversidade, relacionando-a com o número de seres humanos numa óptica verdadeiramente malthusiana, a juntar a toda a lavagem que sofremos diariamente, desde a escola à comunicação social em torno de erradas soluções para problemas reais.
Assim não, Manuel Grilo.
Isto não pode passar em claro. Vamos aos factos. Reunião da Câmara Municipal de Lisboa. Há um voto em cima da mesa sobre Auschwitz e o holocausto nazi que refere uma condenação do fascismo português. A vereadora do PSD sugere que se substitua a expressão por outras ditaduras e totalitarismos e o vereador bloquista Manuel Grilo aceita a proposta. De seguida, o vereador comunista João Ferreira protesta porque percebe que o objectivo é incluir o comunismo na condenação. Manuel Grilo finge que não mas Teresa Leal Coelho logo de seguida aponta o dedo ao fascismo e ao comunismo. Recordo, estamos a falar do holocausto nazi.