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A revolução esquecida de 1383

Bep Boatella - What happened in the “Grande Jacquerie”

Neste dia, no ano de 1383, começava em Lisboa a primeira revolução burguesa do mundo. Revolução, pela mesma razão que ninguém ousaria chamar «interregno» à Revolução Francesa nem «crise» ao 25 de Abril. Burguesa, porque, ainda que pavorosa aos próprios netos, inaugurou definitivamente o poder dos «homens honrados pela fazenda». E, à semelhança da revolução francesa ou do 25 de Abril, a revolução portuguesa de 1383-1385 também foi condenada ao olvido e à mentira­­ – com a diferença, no entanto, de mais séculos de avanço.

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Cada partido é como o seu congresso

Decorre até ao final deste fim-de-semana, em Almada, o XX Congresso do PCP, reunião magna que, no entanto e sem que desse conta a comunicação social já começou há meses.

Ao contrário da maioria dos outros partidos, em que os Congressos são eleições ou coroações, os congressos do PCP representam o culminar de um vastíssimo processo de discussão. Ao todo, de acordo com Jerónimo de Sousa, terão sido mais de 2000 reuniões em que participaram cerca de 20 000 militantes. Para fazer um congresso que comportasse a amplitude destes números, qualquer outro partido precisaria não de três, mas de 500 dias.

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“Douradinhos é bom, mas é pouco.”

Há pouco mais de um ano, na fila do supermercado, o homem à minha frente, acompanhado da sua filha, passou várias embalagens de arroz como compra. Aliás, tanto quanto me recordo, arroz foi tudo quanto comprou, juntamente com um qualquer enlatado de conserva. Era assim que se alimentava.

Hoje, no supermercado da Bela Vista, em Setúbal, uma mãe com duas filhas só comprou quatro embalagens de congelados. Uma de rissóis, uma de croquetes, duas de pastéis. A conta foi 10 euros e uns cêntimos, dois contos e qualquer coisa. A mulher pagou com uma nota e umas moedas. Estavam contadas.

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São os bolseiros que voltam à rua!

Os anos passam e o edificado de glória à precariedade conta cada vez com mais empenas cegas à realidade em que os trabalhadores do Sistema Científico e Tecnológico Nacional se encontram.

De cativação em cativação os cofres enchem e os bolseiros aguentam, sem mais nenhuma razão que a política feita para o tratado orçamental e para a dívida o investimento em ciência é adiado para as calendas. É mais um concurso atrasado que suspende a vida de milhares de candidatos a uma bolsa de investigação para doutoramento e pós-doutoramento, lançando-os na inotropia de quem já está exclusivo para ser elegível e continua a esperar para saber com o que pode contar.

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As Vénias da República

Marcelo, uma vez mais, não se conteve. Aliás, Marcelo nunca se contém. O seu conservadorismo, a sua idiossincrasia, o peso da formatação rígida de outros tempos há-de sempre sobrepor-se ao dever institucional. A sua fé, as suas paixões, os seus ídolos, tudo isso legítimo, mas tudo isso muito inapropriado e muito desenquadrado quando se é investido num papel para o qual se teve tempo e mais que tempo para se preparar. Pode considerar-se pura e insignificante minudência o gesto reverencial de Marcelo perante a rainha do Reino Unido e retratado pelas câmaras fotográficas de todo o mundo. Contudo, e especialmente no que diz respeito a Marcelo Rebelo de Sousa, por vezes é bem mais substancial e revelador um gesto, por simples que seja, do que o débito de um chorrilho de palavras a um qualquer microfone ou câmara de televisão.

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Gálatas 5:1

Fátima Romaneiro era militante do PCP, foi resistente anti-fascista e morreu no passado dia 1 de Novembro. Era católica praticante, frequentava a igreja todos os domingos e nos últimos 15 anos fora anualmente a Fátima, a pé, em peregrinação. Era conhecida do pároco e de toda a gente na paróquia. Quis como última vontade que na hora da sua despedida estivessem presentes ou simbolizadas as duas vertentes da sua vida: ter funeral católico e a bandeira do PCP pousada sobre o caixão. Dentro da igreja, ao ver a bandeira sobre a urna, o sacerdote ordenara de imediato a sua retirada. Como é evidente, por decisão da família, a bandeira foi mantida. O sacerdote decidiu então retirar-se ele próprio, negando-se a prosseguir as exéquias. Conclusão da história: esta fiel católica, devota, cumpridora dos rituais sagrados, por ser também comunista e querer expressar simbólica e livremente a sua militância num país que consagra a livre expressão, livre opinião e livre filiação partidária, acabara por ser sepultada com um Pai-Nosso e palmos de terra. Uma longa vivência espiritual. Tão triste e revoltante fim.

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Pop xunga

Eu não gosto do que a Joana Vasconcelos (JV) produz actualmente. Mas isso não importa nada porque o gosto não pode ser um instrumento de apreciação e definição da política cultural.

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Ela é que guia, e então?

Quando começámos a namorar ela já tinha a mota. Confesso que sempre tive algumas dificuldades (chamemos-lhe medo, pronto) em andar de mota, o que fez com que só passado vários meses me tenha sentido confortável, e a esforço, para me deslocar no dito veículo. Mas era estúpido não usufruir da mobilidade extra que se ganha numa Lisboa caótica e portanto tenho enchido o peito e temos ido a sítios com ela ao volante.

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