Todos os artigos: Nacional

Os da fila de trás

Quando eu era miúda e se juntava a tropa toda que não gostava do «Ramiro» porque era «repetente» (sim, estou a citar o Bruno Aleixo), era fácil para a maioria dos miúdos rir e gozar sem querer saber o porquê.

A minha turma tinha essencialmente filhos de operários de fábricas de calçado e cortiça. Sabíamos sempre quem eram os corticeiros porque normalmente faltavam-lhes dedos. Alguns eram filhos de médicos, advogados e professores (cerca de 7%), e uns poucos (ainda menos) de trabalhadores dos serviços (comércio, etc). A professora gostava que os 7% se sentassem sempre na fila da frente. Seguiam-se-lhes os dos serviços, e, por ordem, os do calçado e depois os da cortiça – eram os mais pobres.

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Erro de paralaxe

O erro de paralaxe é o erro que corresponde à aparente variação de posição de um determinado objecto em função da posição do observador. Na política, todos somos afectados por esse erro. Cada um de nós, combatendo ou não esse efeito, interpreta o mundo e os fenómenos políticos em função da perspectiva, do posicionamento político, da posição de classe social que integra ou com que se identifica. Mesmo podendo separar os campos de interpretação em duas grandes áreas de perspectiva: a idealista e a materialista, dentro de cada uma dessas áreas, cabem interpretações várias de um mesmo fenómeno.

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Liberdade editorial versus liberdade de expressão

“Mas não é por acaso que se vê, de cada vez que se avançam perspectivas para uma beneficiação e elevação dos programas televisivos, que os remédios válidos mostram ser sempre e só remédios de ordem política; só a ideologização do meio técnico pode mudar o seu cunho e a sua direcção. Mas a ideologização não significa “partidarização”; significa apenas imprimir na administração do meio uma visão democrática do país; bastaria dizer: usar o meio no espírito da Constituição e à luz da inteligência. Todos os casos em que a nossa televisão tem dado boa prova de si, no fundo, não foram mais do que deduções correctas deste teorema.” (Umberto Eco em Apocalípticos e Integrados, 1964).
Foi esta semana conhecido o Barómetro de Comentário Político Televisivo Maio 2016, um trabalho do Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL. E vale a pena a sua leitura e análise.

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IRS à moda da direita

Vamos a contas. Declaração de IRS relativa aos rendimentos de 2015. Declarei 3.854,70€, todos relativos a rendimentos como trabalhador independente, vulgo recibo verde. Tirando uns 15% deste valor, mais coisa menos coisa, este dinheiro foi recebido na também vulgar condição de falso recibo verde, ou seja, devia ter tido contratos de trabalho, a prazo, nos casos em questão. Durante o ano fui juntando 2+2 e portanto não fiz retenções na fonte, achando que, a exemplo dos anos anteriores e com tão pouco rendimento, ficaria a zeros no deve e no haver.

Continuando. Parece que com este valor de rendimento, a Autoridade Tributária aplica, sobre 75% do rendimento, uma taxa de 14,50%. Ou seja, não tendo eu dependentes e não tendo pessoas a cargo, insiro-me no quociente familiar 1. Ora isto resulta em quê? Resulta que 419,20€ teriam de ser pagos ao Estado. Ora como fui pedindo facturas ao longo do ano, atingi um valor de deduções à colecta de 286,28€. Para além disto, tenho um benefício municipal de 1,33€, obrigado Câmara Municipal de Viseu.

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VI Lénine, a caminho de Lisboa

Antes de morrer, em 1924, o revolucionário russo Vladimir Ilitch Ulianov, também conhecido como Lénine, foi vítima de terríveis alucinações. Febril e quase paralisado, recorda a sua irmã Maria, chegou a pedir veneno a Stáline para acabar o suplício. Até aqui tudo é histórico.

Segundo o próprio, em Janeiro desse ano, o médico mandou-o apanhar um comboio para Lisboa, onde deveria ser examinado por um médico famoso. Contudo, ao chegar a Lisboa, Lénine depara-se com um mundo estranho que, dizem os jornais, é 2016. Confuso e frustrado, depois de uns dias a vaguear pela cidade, o líder comunista decide regressar à Rússia. É à espera do comboio, em Santa Apolónia, que o encontramos, humano, lúcido, intempestivo e a lutar para compreender quem é que afinal, no meio desta realidade surrealista, está mesmo a alucinar. É esta, grosso modo, a história da peça de teatro «A Última Viagem de Lénine», que a associação Não Matem o Mensageiro estreia em Outubro, no Teatro da Trindade, quando a revolução russa celebra 99 anos.

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Rui Moreira Rio

O Rui Moreira confunde a sua vontade com a vontade da cidade do Porto. Felizmente, e como todos sabemos, já existia Porto antes do Rui Moreira e, curiosamente, também já existia PCP antes do Rui Moreira. O PCP está a favor da cidade do Porto, como sempre esteve, embora esteja contra o Rui Moreira. Por incrível que isso possa parecer, ao presidente da CMP, há quem não concorde ele. Chama-se democracia e foi por isso que o PCP lutou anos e anos na clandestinidade, embora isso possa parecer estranho a quem representa, encapotadamente, os dois partidos que são herdeiros da outra senhora.

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“Porque é que ainda votas em Viseu?”

“Porque é que ainda votas em Viseu?” Fazem-me esta pergunta repetidas vezes. Por várias razões talvez mais sentimentais do que de outra índole, mas também por uma muito racional. Porque gostava de ver deputados eleitos por Viseu a defender o seu distrito.

Vamos então aos nomes dos deputados eleitos por Viseu que votaram contra a extinção de portagens na A24 e A25: António Borges (PS), António Leitão Amaro (PSD), António Lima Costa (PSD), Hélder Amaral (CDS-PP), Inês Domingos (PSD), Isaura Pedro (PSD), José Rui Cruz (PS), Marisabel Moutela (PS), Pedro Alves (PSD). 9 em 9, BINGO! Nem um furou à disciplina de voto, e noutros distritos até houve quem furasse.

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