É já quase um lugar-comum o facto de não haver pé de igualdade entre candidatos e candidaturas aos principais órgãos políticos do país. Sabemos muito bem que a formação da opinião pública, e consequentemente do voto, ainda depende – e muito – do que é veiculado e “como” é veiculado pelos órgãos de comunicação social. A direita, melhor do que ninguém, sabe que assim é, e não tenhamos dúvidas de que, nos dias que correm, tão importante como escolher deputados e ministros é escolher e mover influências para ter determinados comentadores “a entrar” todos os dias nas casas dos portugueses. Faz parte da estratégia que vai enganando e “controlando” muito boa gente neste país. Faz parte das razões que trouxeram o país para o pântano em que se encontra metido.
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Cavaco e o segredo de Polichinelo

Cavaco Silva cheira a mortos. O bafio sentiu-se deste lado das televisões mal começou o anúncio necróforo. Esta noite, o presidente veio dizer que se está a marimbar para os 63,17% dos eleitores que não aceitam a continuação da política do PSD-CDS/PP. A carcaça veio dizer que só conta o partido dele.
Ainda ninguém tinha votado e já ele nos estava a avisar que já sabia o que ia fazer, mas que não podia contar. Depois, disse que tinha estudado todos os cenários e que era só saber em qual desaguavam os resultados do escrutínio. E ao terceiro dia, o amumiado chefe de Estado revelou o que, afinal, já toda a gente sabia: enquanto ele for presidente, Portugal há-de ser só dos ricos. Foi o chamado segredo de Polichinelo.
A Constituição que Cavaco jurou cumprir é clara: «O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais». Mas cavaco só está interessado em cumprir com «as regras de disciplina orçamental» e «os compromissos internacionais assumidos pelo Estado português com a NATO, a União Europeia e a Zona Euro». São estes os únicos compromissos de Cavaco, que nem esperou pela publicação dos resultados oficiais.
Cavaco presume que mais ninguém tem condições de governabilidade porque quer escolher ele, independentemente dos resultados eleitorais, quem vai governar.
O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais
N.º 1 do Art.º 187 da Constituição da República Portuguesa
O que resta à maioria de milhões de eleitores defraudados pelo presidente? Esperar quatro anos? Não! O que se faz quando as regras mais elementares da democracia não são cumpridas? Fazer compromissos os usurpadores? Não! Como se responde a um golpe de estado encapotado? Com a próxima assunção de «esquerda» de um PS moribundo e senil? Não! Só nas ruas se repõe a legalidade constitucional; só a luta abre caminhos; só o povo salva o povo.
A luta é o caminho!

Há muitas décadas atrás, o povo venezuelano levantou-se e derrubou o seu ditador. Depois de algumas transformações democráticas, o poder político ficou refém dos três partidos que representavam os interesses da oligarquia e dos Estados Unidos. No mesmo ano em que o fascismo foi derrotado, as três forças partidárias – AD, Copei e URD – reuniram-se em Punto Fijo e assinaram um pacto com esse nome. O puntofijismo foi o denominador comum que fez convergir esses três partidos em torno da exclusão do Partido Comunista da Venezuela e da partilha do poder num regime de alternância ao sabor das urnas e do sistema mediático.
Luzes, Sombras e «Ganhar Sempre»
O cenário pouco depois das projecções não podia ser mais ameaçador. Marco António Costa e Nuno Melo, de braços no ar, reaparecidos, saídos do buraco onde estavam há semanas, davam vivas à coligação. Na TVI estava Miguel Relvas, o doutor, outra aparição, ufano, de peito cheio e sem vergonha na cara, a dar lições de política e de moral. Perguntassem-me por acaso, há um ano, se veria como possível este cenário e estes figurantes, de semblante vitorioso, numas próximas legislativas, por certo teria de responder algo como isto: «Não brinquem comigo. Isso seria mau demais para ser verdade.» Em boa verdade, as coisas não eram tão luminosas quanto nos pareciam fazer crer.
“Negação”, ou o Expresso “a fazer (a) opinião” que mais lhe interessa.
Sobre o que se passou antes e durante o dia 4 de Outubro já aqui escrevemos abundantemente. O que agora se coloca é perspectivar o futuro, tendo em conta aquilo que sempre afirmámos como o fundamental: a composição da nova Assembleia da República.
Nesse futuro em construção o Expresso quer ter um papel tão activo como aquele que desempenhou durante os meses anteriores à campanha eleitoral. Como? Criando por exemplo a ideia de que a CDU saiu derrotada das eleições. Sobre a avaliação dos resultados eleitorais de ontem, o Expresso escreveu que por exemplo que a CDU se encontrava “em negação” por afirmar o óbvio: a direita perdeu uma enormidade de votos (bem mais de meio milhão) e a sua maioria absoluta (a festa do Marquês foi-se juntamente com ela); pelo contrário, a CDU subiu em votos, em percentagem e em mandatos. Onde pára a “negação” a que se referia o Expresso às 21h36 de ontem?
Não é propaganda, é literatura, estúpido
Esta história é verdadeira, mas eu preferia que não fosse. Aconteceu esta manhã no trabalho, mas eu preferia ter ficado na cama. Já estão a ver, pela feição de pôr a história breve ou pela melancolia sáfara com que já me quis esquivar, que isto não pode ser propaganda. A propaganda é sempre optimista, mas às vezes o coração não deixa e precisamos da literatura. Olhem, senhores da CNE, se duvidas restarem, a protagonista nem sequer é comunista, mas eu suspeito que é só porque não sabe que o é.
CDU, naturalmente.
Domingo há eleições. As eleições não são nem o início nem o fim da democracia. Mas são um instrumento importante ao serviço das populações. No domingo, independentemente de todos os condicionalismos e manipulações, cada pessoa tem direito ao mesmíssimo número de votos: um. É precisamente essa condição de igualdade que torna os momentos eleitorais oportunidades para se fazerem rupturas com políticas comprovadamente ineficazes para a maioria, ainda que extraordinariamente proveitosas para uma minoria.
PàF, PuM e Costa, o rei sol
Da figura sisuda e altiva, de homem que parece vestir a pele da cega e, digo eu para este contexto, insensível justiça, do paternalista que dizia ao povo, a quem por determinação constitucional deveria caber o poder político, entre breves e poupados sorrisos, para não ser piegas, ou que, secundado por membros do seu governo, falava de emigração como vantagem competitiva ou de desemprego como oportunidade, da pessoa que chegou a afirmar, quase sem pestanejar, “Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal”, como se lhe coubesse a ele ditar os interesses de Portugal e aos que elegem coisa nenhuma, já pouco resta. Passos Coelho agora já não oferece enxadas a quem o desafia, ouve e diz “pois, pois” aparentando interesse, olha para o recibo da pensão de um homem e até simula espanto, fala de regras fiscais que determinam cortes como se não tivesse sido seu autor, abranda caminhadas e pára para ouvir as “pieguices” das pessoas anteriormente julgadas como incapazes para decidir o que convinha ao país, não encolhe os ombros, não vá a populaça achar que ele é o verdugo que os castiga e ignora, e até, causando assombro nas massas, dobra-se para beijar velhinhas num lar, exibe um crucifixo, do qual diz não se conseguir separar, e afirma que tem fé nas pessoas. Uma fé súbita que até suscitou do seu correligionário e antigo apoiante, Ângelo Correia, a piadola “nunca é tarde para se converter”.