Todos os artigos: Teoria

Q: qAnon

Q: qAnon

O Libelo de Sangue foi uma teoria da conspiração da Idade Média que acusava os judeus de raptarem crianças para lhes beberem o sangue. Improvavelmente, no ano do senhor de 2020, a velha lenda ressuscitou sob o rótulo de Pizzagate, desta vez incriminando a “elite globalista liberal” pelo rapto de crianças para abastecimento de rituais satânicos na cave de uma pizzaria de Washington onde ora tinham lugar abusos sexuais ora se procedia à extracção do androcromo, uma espécie de elixir da eterna juventude presente no sangue das crianças. Eis a estância do Qanon, onde se levantam as pedras da história para destapar a ignorância e os vermes. É como se se tivesse definitivamente fechado o parêntese de Gutenberg que, propôs Sauerberg, ditasse o ocaso da era do monopólio do conhecimento mediado pela palavra escrita, convenientemente restringida à autoridade dos sábios e o regresso à oralidade das histórias contadas não à volta da fogueira, mas no caos das redes sociais. Mas não é só isso.

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Marxismo e Darwinismo – A Definição da Humanidade

Karl Marx e Charles Darwin são não só dois pensadores revolucionários atendendo ao envolvente científico do século XIX, como emergem como os maiores e mais duradouros transformadores sociais até aos dias de hoje. Para além das obras e legado deixados, por um e por outro, e do seu intelecto, capacidade de análise e inovação de pensamento, a sua modernidade não está dissociada de terem sido contemporâneos por um lado, e, por outro, das relações que estabeleceram directa ou indirectamente entre si e as suas linhas de pensamento.

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A “esquerda” pró-imperialista

“As ideias da classe dominante são, a todo o tempo, as ideias dominantes. Isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é ao mesmo tempo a sua força intelectual dominante”, K. Marx in A ideologia Alemã, 1845
Claro que apenas uma leitura de todo o capítulo “Oposição das perspectivas materialista e idealista” pode ajudar-nos a ter uma perfeita compreensão da extensão do significado desta afirmação de Marx, bem como a compreender as suas implicações históricas e a sua abordagem dialéctica, mas deixemos isso para o leitor mais afoito da obra e tentemos partir daqui para uma abordagem do panorama político e ideológico actual, numa tentativa de aprofundar uma descrição da “esquerda de direita” que ao longo do nosso tempo sempre cumpre com afinco o papel que o dono lhe destina.

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P: prostituição

P: prostituição

A prostituição não é trabalho: um trabalhador vende a sua força de trabalho e não o seu corpo. Uma mulher prostituída pode até estar inconsciente e ainda assim ser vendida porque aquilo que é comprado é o acesso ao seu corpo, que é usado como um objecto. Ora, ser usado não é trabalhar e os objectos não trabalham. Uma demonstração prática desta tese é que, ao contrário de qualquer outro trabalho, a mulher prostituída não ganha valor à medida que ganha experiência: os consumidores de prostituição preferem usar as mulheres e as meninas mais novas e menos experientes por estarem, tal como objectos, “menos usadas”. A prostituição não pode ser sequer considerada uma profissão (é falso que seja “a mais antiga”) porque, para realmente sê-lo, teria de ser compatível com a segurança e a dignidade das “profissionais”. Quando a taxa de mortalidade é 40 vezes superior à média, quando 80% das mulheres prostituídas é espancada regularmente, 92% quer sair, 68% apresenta sintomas de stress pós-traumático e 22% pensa em suicidar-se, não se trata de uma “profissão”, mas de um inferno.

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O: operário

O: operário

Já não há operários? O proletariado é uma categoria ultrapassada? Qual a diferença entre o trabalhador, o operário e o proletário? A discussão é demasiado extensa e as categorias económicas que dela derivam exigiram muitas mais entradas de verbetes neste dicionário, mas eis as noções básicas:

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Prostituição, academia e género: a armadilha triplica no feminismo contemporâneo

PARTE II

Para combater as causas materiais da opressão das mulheres são necessárias ferramentas para as compreender, mas para compreender as causas da opressão das mulheres é necessário definir a categoria mulheres. Jamais poderíamos compreender os fenómenos que oprimem algo se esse algo constitui uma entidade nublosa e ampla. Quando um químico estuda a molécula de hidrogénio (H2), ele não pensa em incluir no seu estudo a molécula de água (H2O) só por esta conter na sua composição dois átomos de hidrogénio. Para o químico a categoria molécula de hidrogénio é estável, fechada e material: inclui somente dois átomos de hidrogénio e mais nenhum outro. O químico sabe, mais do que por intuição, que duas coisas parecidas não são duas coisas iguais.

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Prostituição, academia e género: a armadilha triplica no feminismo contemporâneo

PARTE I 

Quando comecei a escrever este texto pensei em chamar-lhe, como título, algo do tipo: «As armadilhas obscurantistas do pós-modernismo académico e o seu papel nada inocente na alienação de movimentos sociais como o feminismo contemporâneo tendo como zonas de guerra os temas prostituição e género». Às tantas, senti que corria o risco de se tornar um título demasiado longo. Sendo este o meu primeiro contributo no Manifesto74, não quis parecer aquilo que sou: uma mulher comunista zangada e snobe. Optei por uma solução mais sintética, mas será sobre tudo isto que tratarão os meus cinco cêntimos para a discussão.

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N: natureza humana

N: natureza humana

Uma das vacas sagradas da ideologia dominante é a ideia de que a humanidade está condenada pela sua própria natureza a ser para sempre como já é hoje: egoísta e  individualista, pelo que qualquer projecto de sociedade assente noutros valores e contrária a estas características estaria, portanto, condenada ao fracasso.

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